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TÍTULO DE ARTIGO


 

AUTOR


ÍNDICE TEMÁTICO 
40
Formas em contradição
ano XXI - junho de 2008
200 páginas
capa: Helena Pessoa
  



Helena Pessoa.
Sem título.
Bastão óleo e cera de abelha sobre papel japonês, 31 x 23,3 cm, 1997 
Tel.: (11) 3256-8429
helenapessoa@gmail.com
capa: Helena Pessoa

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EDITORIAL  
Na Bahia, em um de seus momentos poéticos, Emilio Rodrigué contou ter ouvido o sussurro de Ondina a lhe dizer fique aqui. Agora, também da terra de todos os santos e de todos os orixás, nossa colaboradora Urania Tourinho traz-nos outra expressão, dizendo que a morte retira "seu corpo de nosso olhar, sua voz de nossa escuta". Agora, relemos páginas de Pierre Fatumbi Verger, reencontrando Oxossi, o filho de Iemanjá de flechada certeira, que poderia ser o orixá de Rodrigué. Seu arquétipo é o das pessoas sempre em movimento, daquelas que são "cheias de iniciativa e sempre em vias de novas descobertas ou de novas atividades" e que "gostam muito de mudar de residência e achar novos meios de existência".
 
TEXTOS  
Baseado em cinco exemplos clínicos, o texto discute a existência do fetichismo em crianças entre um ano e meio e cinco anos. Por aceitar a teoria de Freud acerca dessa perversão – que se trata da substituição do falo materno inexistente por um objeto que adquire as características de um fetiche – o autor não acredita que crianças tão pequenas
possam ter chegado ao estágio no qual essa substituição é possível – segundo Freud, na época do complexo de Édipo, ou seja, ao redor dos cinco
anos de idade. Conseqüentemente, sugere que a
escolha de um objeto privilegiado para garantir a
segurança emocional da criança deve ser explicada
por meio do conceito de sexualidade pré-genital, em particular no seu aspecto oral.
ABSTRACT
The paper starts with five clinical examples of a particular behavior in children between one and a half and five years that could be construed as a form of fetishism. The author accepts Freud’s theory of this perversion as a construction against the fear of castration, which by means of the mechanism of refusal substitutes a commonplace object for the missing penis of the mother, but argues that child­ren who have not yet reached the oedipal phase are not capable of building this defense. Consequently, he suggests that the choice of a familiar object to protect the child against deeply-felt anxieties should be explained using the concept of pregenital sexuality, particularly in its oral aspect. He then goes on to examine the evolution of what he calls “infantile fetishism” through the several phases of psycho-sexual development.
 
A autora faz um depoimento sobre sua relação com Emilio Rodrigué, ressaltando aspectos da vida e obra do psicanalista. Ele próprio descrevia sua maneira de estar na vida como “transgressiva”, o que se reflete na movimentada trajetória que o levou de Buenos Aires a Londres e da Califórnia à Bahia, passando por diversos lugares e posições. Faz-se referência também à sua extensa produção e à sua vocação de escritor.
ABSTRACT
This paper is a testimony about the Argentinian–Brazilian analyst Emilio Rodrigué by one of his ex-patients and colleague. It dwells on the tortuous road that took him from Buenos Aires to London, from California to Salvador, and to many places and positions in-between. Reference is made to his voluminous production as a writer.
 
Neste texto, o binômio intolerância/tolerân­cia é abordado a partir de conceitos freudianos: o narcisismo, a pulsão de morte e o amor ao objeto focado no enlace libidinal, especialmente na identificação. A economia libidinal também é considerada à luz de trechos de entrevistas com participantes de um trabalho de inclusão social – o que contribui para reflexões acerca de políticas de tolerância.
ABSTRACT
This work discusses the conceptual couple tolerance/intolerance by means of the Freudian ideas of narcissism, death drive and object love, with special attention to the identification involved in the libidinal link. It also sheds light on the economy of the libido, examining sections of interviews with individuals who take part in a program of social inclusion. Policies that enhance attitudes of tolerance are also discussed.
 
Assim como o oleiro cria o vaso em torno do vazio, o homem cria os significantes e modela o real. A criação artística é capaz de apresentar esse vazio que resulta do corte do significante no real. Ao escrever A tentação de Santo Antônio, Flaubert abre espaço para uma literatura que escreve sobre o escrever. Flaubert inaugura uma série: Mallarmé, Kafka, Bataille, Borges, Joyce…
ABSTRACT
Like a potter creating a vase around emptiness, man creates signifiers and shapes his reality. Artistic creation is particularly apt to show the emptiness resulting from the “cutting of the signifier” as Lacan defines it. With the Temptation of Saint Anthonyt, Gustave Flaubert inaugurates in literature a kind of writing that takes as its subject the very act of writing. Mallarmé, Kafka, Bataille, Borges, Joyce and other writers have followed him on this trail.
 
Desde Freud até o presente, a busca de uma atitude do analista que propicie uma abertura maior para seu inconsciente e através deste para o inconsciente do analisando tem sido nosso grande desafio. Nesse texto tento expor ao leitor como compreendo e como parece se manifestar essa atitude em minha experiência clínica – falando o que me vem à cabeça.
ABSTRACT
Since Freud, analysts have searched for attitudes which may favor contact with their own unconscious, as well as with the unconscious of other people. This has been a great challenge to our practice. In the present paper, the author exposes how he tries to cope with it in his clinical practice.
 
O trabalho reapresenta o problema do primado do falo na teoria sexual freudiana, buscando articular, do ponto de vista epistemológico, a produção teórica psicanalítica com as determinantes culturais que lhe subjazem. Para discutir o tema, apóia-se em duas fontes distintas e heterogêneas: a primeira é o trabalho crítico de Joel Birman, que demonstra a influência da ideologia do patriarcalismo sobre as teorias sexuais freudiana (descrevendo a trajetória desta problemática no interior do pensamento freudiano) e lacaniana; a segunda é a inversão feita por R. S. Stoller na teoria freudiana da identidade sexual, propondo, contrariamente a Freud, que a construção da posição masculina é um caminho mais longo e tortuoso do que o da posição feminina.
ABSTRACT
This work addresses the problem of the primary role of phallus in Freud’s sexual theory in order to consider, from an epistemological point of view, the theoretical production of Psychoanalysis in connection with its cultural determinants. To discuss this point, the author uses two distinct and heterogeneous sources. The first is the critical work of Joel Birman, which demonstrates the influence of patriarchal ideology on Freud’ssexual theories and describes the trajectory of this problematic within his writings, as well as in those of Lacan. The second source is the inversion on the Freudian theory of the sexual identity effectuated by R. S. Stoller, when - in opposition to Freud – this authors suggests that the construction of a masculine position is longer and more tortuous than the acquisition of feminine position.
 
A partir da constatação do cada vez mais freqüente comparecimento de mulheres com sintomatologia obsessiva na clínica psicanalítica, a autora se propõe a refletir sobre as causas desse aumento de incidência e relacioná-las com mudanças que ocorrem na cultura.
ABSTRACT
Women with obsessive symptoms have been more and more frequent in our consulting rooms. The author proposes to reflect on the cause of this phenomenon and correlates it with changes that are taking place in contemporary society and culture.
 
Este trabalho aborda a atualidade da histeria a partir da experiência clínica com jovens histéricas, nas quais o sintoma de frigidez revela-se em sua face contemporânea. Em resposta às exigências dos ideais de perfeição vigentes na cultura, as histéricas apresentam-se cada vez mais belas e adormecidas.
ABSTRACT
This paper springs from the author’s experience with young hysterical women, whose suffering shows the contemporary face of frigidity. Unable to cope with the ideals of perfection that characterize our epoch, they remind one of the story or the Sleeping Beauty, but even more “asleep” and “beautiful” than she was. If one wants evidence about the clinical relevance of the concept of hysteria, these cases furnish it beyond any doubt, the author argues.
 
Apresentamos uma análise da relação entre a histeria e os quadros borderline. Falamos sobre um suposto desaparecimento da histeria, ou mesmo seu agravamento “evolutivo”, e das propostas de substituição por quadros conhecidos como limítrofes (borderline). Apontamos os momentos em que a histeria “encontra” ou se “afasta” dos quadros borderline e a importância de tais momentos para a psicanálise.
ABSTRACT
The authors present an analysis of the relationship between hysteria and borderline cases. They also discuss the possible disappearance of hysteria, or even its “evolutionary” aggravation, and contemporary proposals to substitute for it the clinical tableau known as borderline. The paper stresses those phases of treatment in which hysteria moves up to or draws away from borderline states, as well as the continuing relevance of this concept for psychoanalytic theory.
 
O presente artigo traz uma articulação entre o conceito winnicottiano de espaço potencial e fragmentos de experiência clínica num grupo com crianças. Analisa a função do grupo em constituir um espaço no qual tem papel de destaque o brincar. Este é considerado como capacidade que se desenvolve sob condições favoráveis do ambiente relacional, num espaço de relaxamento, confiança, criação e compartilhamento.
ABSTRACT
This paper presents a connection between Winnicott’s concept of an intermediate zone and some extracts from a clinical experience with a group of children. The activities of the group provide a space for playing, considered as a capacity that develops in a social environment and favors relaxation, trustworthiness, creation and sharing.
 
O texto discute as características da psicoterapia breve psicanalítica, a partir da fixação de um limite de tempo e de um foco. O parâmetro para a indicação é a demanda do paciente. Aborda a natureza da angústia – de castração, de fragmentação e de perda do objeto – considerando-a como fundamental para a focalização. Um exemplo clínico é apresentado para ilustrar as afirmações do autor.
ABSTRACT
This article discusses the peculiarities of a brief psychoanalytic psychotherapy, including focus and time-limited therapy. The patient’s demand is taken as a parameter for the indication of this type of work. The nature of the anxiety – of castration, of fragmentation and of losing the object – is taken as a basis for choosing the focus. To illustrate the author’s views, a sample case is presented.
 
 


ENTREVISTA  
“Uma psicanalista que faz cinema”, assim Miriam Chnai­der­man se auto-define e delimita, embora esteja sempre aberta a novos interesses, aos quais se entrega com encantamento, como pode ser visto nesta entrevista realizada em março de 2008.
O prazer nos estudos de filosofia, psicologia e psicanálise, o gosto pela literatura, música, cinema – as artes em geral – marcam sua trajetória intelectual, na qual se destacam o mestrado em literatura e psicanálise – é mestre em comunicação e semiótica pela puc-sp –, o doutorado em teatro – é doutora em artes pela Escola de Comunicação e Artes da usp –, e o pós-doutorado no Laboratório de Psicopatologia Fundamental da puc.
Em seus escritos, Miriam procura atravessar esses diferentes campos da cultura, enriquecendo o diálogo entre eles. É na relação entre estética e psicanálise que busca as possibilidades de criação nesta práxis e a compreensão de sua própria clínica, num permanente questionamento. Como as intensidades afetivas podem tomar forma? Como nomear algo que não tem forma, que não cabe no discursivo? Aimportância das formas expressivas, não-discursivas, constitui o principal foco de suas reflexões.
Sua vasta produção pode ser estimada em seus livros publicados – O hiato convexo: literatura e psicanálise (Brasiliense, 1989), Ensaios de psicanálise e semiótica (Escuta, 1989) –, e em inúmeros ensaios em coletâneas, revistas especializadas e suplementos de cultura dos jornais paulistanos.
Não bastasse isso, desde 1994, Miriam também se dedica aofazer cinema. Em seus documentários, procura “dar voz ao que, em nosso mundo, é silenciado”. Os nomes de seus documentários sinalizam nessa direção: “Dizem que sou louco” (1994), “Artesãos da morte” (2001), “Sobreviventes” (2008), entre outros. O cuidado que tem com seus “personagens” não se restringe à acolhida que oferece durante a filmagem dos depoimentos. Reconhece neles o desejo de querer saber a que sua imagem serviu, e aborda esse tema como uma questão ética.
No relato de sua trajetória revelam-se momentos significativos da história da psicanálise em São Paulo, como a formação do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e a situação política do país na década de 1970/1980.
Sua pertinência a essa instituição lhe “dá um contorno como psicanalista”, mas sua marca característica é estar permanentemente aberta e atenta ao que acontece no mundo e na psicanálise, refletindo, escrevendo e filmando numa inesgotável e admirável capacidade de produção e criação.
 
DEBATE  
Não há dúvida de que neste século a mulher protagonizou mudanças importantes no cenário sócio-político ocidental, cuja extensão nem sempre é fácil dimensionar. O acesso ao controle da procriação, por exemplo, revolucionou os registros da sexualidade, do casamento e da família. Por outro lado, há grandes divergências entre os psicanalistas quanto ao alcance dessas transformações na constituição subjetiva do feminino.
A II Jornada Temática – Interlocuções sobre o feminino na clínica, na teoria, na cultura, realizada em maio de2007 pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, reuniu trabalhos com o propósito de debater e refletir sobre o teor dessas mudanças, utilizando e questionando o instrumental teórico da psicanálise. No intuito de prosseguir as discussões ali suscitadas, pedimos a alguns colegas que respondessem à seguinte questão:
A progressiva conquista de espaço público trouxe uma infinidade de ganhos para a mulher, mas exigiu-lhe mudanças em sua posição subjetiva, criando novos impasses e conflitos na construção de sua sexualidade, já marcada pelo difícil desligamento da figura materna e pela conquista do amor paterno. Até que ponto devemos concordar com André Green, o qual, em seu artigo “Agressão, feminilidade, paranóia, realidade” [1], afirma que “Embora o acesso conquistado pelas mulheres a atividades anteriormente restritas a homens tenha atenuado as diferenças entre os sexos no âmbito social, num nível mais amplo tal diminuição revela-se como superficial. É preciso levar em conta o que Freud disse acerca do ‘repúdio à feminilidade’ presente em ambos os sexos”.
Nos textos que se seguem, temos quatro elaborações a respeito desse tema.
 
LEITURAS  
Resenha de Emilio Rodrigué, O paciente das 50.000 horas, Rio de Janeiro, Imago, 1979, 104 p.
 
Resenha de Emilio e Geneviève Rodrigué, El contexto del proceso analitico, Buenos Aires, Paidós, 1966, 245 p.
 
Resenha de Emilio Rodrigué, Gigante pela própria natureza, São Paulo, Escuta, 1991, 368 p.
 
Resenha de Emilio Rodrigué, Separações necessárias – memórias, Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2006.
 
Resenha de Urania Tourinho (org.), O caçador de labirintos, Salvador, Currupio, 2004, 216 p.
 
Resenha de Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso, Fadas no divã, Porto Alegre, Artmed, 2006, 328 p.
 
Resenha de Silvia Bleichmar, Clínica psicanalítica e neogênese, São Paulo, Annablume, 2005, 325 p.
 
Resenha de Marguerite Duras, O amante, São Paulo, Cosac Naify, 2007, 105 p.
 
Resenha de Cassandra Pereira França, Disfunções sexuais, São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005, 149 p.
 
Resenha de Sylvia Loeb, Contos do divã (pulsão de morte e outras histórias), São Paulo, Ateliê Editorial, 2007, 150 p.
 
Resenha de Paulo César Endo, A violência no coração da cidade – um estudo psicanalítico, São Paulo, Escuta, 2005, 320 p.
 
 
 

     
Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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