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| | EDITORIALEditorialLetter from the editors
Hoje, Percurso presta sua homenagem ao Departamento de Psicanálise do Sedes, que completa seus vinte anos de vida. Traduz o desdobramento natural do trajeto de um grupo de analistas reunidos em torno de uma idéia, de uma ideologia e do desejo de ruptura do pensamento monolítico então vigente na psicanálise. Os articuladores que deram início a este movimento e que se dedicaram a esta causa – Fábio Herrmann, Isaias Melsohn, Regina Schnaiderman e Roberto Azevedo – acabaram por fundar o Curso de Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, hoje Curso de Psicanálise. Nos meados de 70, encarnavam a resistência à política de formação de analistas cujo monopólio era de consenso. Consenso que nem por isso se abria para qualquer tentativa de ação transformadora.
Contrapondo-se à corrente do convencional, o curso se pautou desde seu início na Carta de Princípios do Instituto Sedes Sapientiae, que contava com a liderança e apoio da figura emblemática da Madre Cristina, e seu espírito de luta. Essa Carta reafirmava a tolerância, o respeito à diferença e o abrigo a toda e qualquer contribuição que se revertesse em abertura ao conhecimento. Foi também pela mão da Madre que o Sedes acolheu nossos colegas vecinos, vindos de suas terras, suas lutas, seu exílio. Na contramão daqueles que se esforçavam por manter a suposta “pureza” da psicanálise, saímos do espaço protegido dos consultórios, atuando em instituições de saúde mental, intervindo junto a educadores, realizando acompanhamentos terapêuticos, atendendo famílias, enfim, praticando heresias que poderiam ser qualificadas como o “cobre” da psicanálise... Na realidade, nada mais fazíamos do que o óbvio, ou seja, entender que a psicanálise é feita para o paciente, e não o paciente para ela.
Com o passar do tempo, foram se agregando pessoas e projetos, permitindo tanto a pluralidade de ação quanto de pensamento, que teve como desdobramento natural uma rede de pares que se reconheciam em sua produção e sua prática. Seu denominador comum era este desejo de buscar um lugar de pertinência, em que se pudesse continuar esta interminável formação. Assim, em 1985, tendo à frente a passionária Regina Schnaiderman, com sua inquietude intelectual, seu espírito batalhador de insistência e resistência, e sempre alguns passos à frente em busca de novos desafios, foi fundado o Departamento de Psicanálise.
Percurso foi o resultado do esforço de veicular para o público externo sua produção intelectual e estabelecer um intercâmbio de idéias dentro da nossa área, bem como estabelecer o diálogo com as outras disciplinas que dizem respeito à cultura. Neste sentido, inaugural, pois que se fez porta-voz do pensar e de um outro fazer psicanalítico.
Percurso, a revista, revisita, em seu 35º número, suas origens: seus textos, seus autores, tantos anos depois... seus percursos. O resultado aí está. Boa leitura.
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