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| | EDITORIALEditorialLetter from the editors
Percurso 67 apresenta-se no entre. O ano de 2021 se encerra e com ele vamos tendo mais clareza a respeito dos tempos em que vivemos. Para alguns, são "tempos do fim": não há como o Antropoceno ter vida longa. Para outros, que analisam especificamente o Brasil, "ruptura de época", estado de guerra sem quartel e contra todas as instituições, ampliação do espectro dos matáveis?- agora incluem-se sob a mira todos os progressistas?-, novidade inserida pela extrema direita no poder, novidade que desnorteia. Percurso insiste e com ela o desafio da contribuição pelo exercício do pensamento, a partir de sabermos que o gozo não é infinito. O ano de 2022 se introduz, podendo se constituir como uma cunha no registro da crueldade e abertura para novos possíveis. Abrimos este número com Cristophe Dejours, contribuição para a compreensão do lugar essencial do Trabalho na interpretação das formas contemporâneas do mal-estar na cultura. Elina Aguiar escreve acerca da urgência do trabalho contínuo com a memória; o esquecimento, diz, dá lugar à negação da violência que nunca deixou de persistir. A entrevista com Eduardo Viveiros de Castro é um sopro de vida no meio das atrocidades que vivemos, verdadeira abertura para pensar o humano, o bicho, a floresta e os sonhos?- tão fundamentais para a psicanálise. No momento em que esse editorial ganha esta página, vivemos a violência de mais uma guerra, com todos os requintes da pulsão agressiva e suas manifestações. O que pode a psicanálise para mitigar os efeitos do ódio? Recorremos a Freud, em sua carta a Einstein: "Tudo o que produz laços emocionais entre as pessoas tem efeito contrário à guerra", e a Pepe Mujica: "É impossível sonhar? É impossível no mundo de hoje levantar a utopia de que o homem pode melhorar a si mesmo como sociedade?" Nossa prática como psicanalistas pode e deve contribuir para o trabalho da cultura de estabelecer laços, de auxiliar no trabalho de ligação de Eros e que Eros impere sobre o ódio. É possível sonhar.
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