EDIÇÃO

 

TÍTULO DE ARTIGO


 

AUTOR


ÍNDICE TEMÁTICO 
  
 

voltar
voltar à primeira página

Resumo
Tradução Roberto Oliveira Um dos vetores terapêuticos do psicodrama psicanalítico reside no encontro de vários profissionais em uma experiência clínica partilhada em grupo com um único paciente. Este artigo mostra como o grupo de psicodramatistas consegue metabolizar os elementos transferenciais que surgem, modelando posteriormente o envolvimento dos participantes na brincadeira improvisada, dando espaço para os conteúdos não representados ou não vividos.


Palavras-chave
elaboração grupal; contratransferência grupal; conteúdos não representados; simbolização; processo terapêutico.


Autor(es)
Adrien Blanc Blanc
é doutor em psicologia, membro associado do Laboratoire de Psychologie Clinique, Psychopathologie, Psychanalyse, Universidade de Paris (pcpp ea 4056), F-92100 Boulogne-Billancourt, França; professor de psicanálise, Centre de Formation Saint-Honoré, Paris; psicólogo clínico, Hospital Universitário de Paris, Departamento de Psiquiatria e Neurociências.

Jérôme Boutinaud? Boutinaud
é terapeuta psicomotor, psicólogo clínico e maître de conférences no Laboratoire de Psychologie Clinique, Psychopathologie, Psychanalyse (pcpp?– ea 4056), Universidade de Paris, Instituto de Psicologia, Paris, França.


Notas

1.        A. Mijolla, Dictionnaire international de la psychanalyse, p.1.380.

2.        E. Kestemberg; Ph. Jeammet. Le psychodrame psychanalytique.

3.        M. Corcos; A. Morel; A. Cohen de Lara; C. Chabert; Ph. Jeammet, "Psychodrame psychanalytique individuel: actualité, indications, limites". EMC psychiatrie 37-817-C-10; M. Corcos; Ph. Jeammet; A. Morel; C. Chabert; A. Cohen de Lara, "Current developments in the practice of individual psychoanalytic psychodrama in France". The International Journal of Psychoanalysis 93, p. 317-340.

4.        M. Corcos; A. Morel; A. Cohen de Lara; C. Chabert; Ph. Jeammet, "Psychodrame psychanalytique individuel: actualité, indications, limites". EMC psychiatrie 37-817-C-10, p. 9.

5.        J. B. Chapelier, Les psychothérapies de groupe.

6.        J. B. Chapelier, op. cit., p. 105.

7.        D. Anzieu, Le groupe et l'inconscient.

8.        R. Kaës, Le groupe et le sujet du groupe, p. 233.

9.        R. Kaës, op. cit.

10.      H. B. Levine, Transformations de l'irreprésentable.

11.      R. Roussillon, Manuel de pratique clinique.

12.      H. B. Levine, op. cit.

13.      D. Anzieu, Le psychodrame analytique chez l'enfant et l'adolescent, p. 146-147.

14.      E. Kestemberg; Ph. Jeammet, op. cit., p. 12.

15.      D. Anzieu, Le psychodrame analytique chez l'enfant et l'adolescent.

16.      E. Kestemberg; Ph. Jeammet, op. cit.

17.      M. Corcos; A. Morel; A. Cohen de Lara; C. Chabert; Ph. Jeammet, "Psychodrame psychanalytique individuel: actualité, indications, limites". EMC psychiatrie 37-817-C-10; M. Corcos; Ph. Jeammet; A. Morel; C. Chabert; A. Cohen de Lara, "Current developments in the practice of individual psychoanalytic psychodrama in France". The International Journal of Psychoanalysis 93, p. 317-340.

18.      J. M. Dupeu, L'intérêt du psychodrame analytique.

19.      R. Kaës, Le groupe et le sujet du groupe.

20.      R. Kaës, op. cit.

21.      D. Anzieu, op. cit.

22.      H. B. Levine, op. cit.

23.      A. Blanc; J. Boutinaud, "Psychoanalytic psychodrama in France and group elaboration of counter-transference: Therapeutic operators in play therapy". The International Journal of Psychoanalysis 98, 3, p. 683-707



Referências bibliográficas

Anzieu D. (1975/1999). Le groupe et l'inconscient. Paris: Dunod.

____. (1993). O grupo e o inconsciente: o imaginário grupal. São Paulo: Casa do Psicólogo.

____. (1956/1979). Le psychodrame analytique chez l'enfant et l'adolescent. Paris: puf.

____. (1981). Psicodrama analítico. Rio de Janeiro: Zahar.

Blanc A.; Boutinaud J. (2016). Psychoanalytic psychodrama in France and group elaboration of counter-transference: Therapeutic operators in play therapy. The International Journal of Psychoanalisis 98, 3, p. 683-707.

Chapelier J. B. (2000). Les psychothérapies de groupe. Paris: Dunod.

Corcos M.; Jeammet Ph.; Morel A.; Chabert C.; Cohen de Lara A. (2012). Current developments in the practice of individual psychoanalytic psychodrama in France. The International Journal of Psychoanalisis 93, p. 317-340.

Corcos M.; Morel A.; Cohen de Lara A.; Chabert C.; Jeammet Ph. (2009). Psychodrame psychanalytique individuel: actualité, indications, limites. EMC psychiatrie 37-817-C-10.

Dupeu J. M. (2005). L'intérêt du psychodrame analytique. Paris: puf.

Kaës R. (1993). Le groupe et le sujet du groupe. Paris: Dunod.

____. (1997). O grupo e o sujeito do grupo: elementos para uma teoria psicanalítica do grupo. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Kestemberg E.; Jeammet Ph. (1987). Le psychodrame psychanalytique. Paris: puf.

____. (2013). O psicodrama psicanalítico. Campinas: Papirus.

Levine H. B. (2019). Transformations de l'irreprésentable. Paris: Ithaque.

Mijolla A. (2005). Dictionnaire international de la psychanalyse. Paris: Hachette.

____. (2009). Dicionário internacional da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago.

Roussillon R. (2012). Manuel de pratique clinique. Issy Les Moulineaux: Elsevier-Masson.

____. (2019). Manual da prática clínica em psicologia e psicopatologia. São Paulo: Blucher.





Abstract
One of the therapeutic vectors of psychoanalytic psychodrama lies in the meeting of several clinicians within a clinical experience shared in a group with a single patient. This article shows how the group of psychodramatists come to metabolize the transferential elements that are deployed there, subsequently shaping the engagement of its participants in the improvised play, making a place for unrepresented or unrealized content.


Keywords
group elaboration; group counter-transference; unrepresented contents; symbolization; therapeutic process.

voltar à primeira página
 TEXTO

Elaboração grupal da contratransferência no psicodrama psicanalítico individual

Group elaboration of countertransference in individual psychoanalytic psychodrama
Adrien Blanc Blanc
Jérôme Boutinaud? Boutinaud

Introdução

O Psicodrama Psicanalítico Individual (ppi) é um método de tratamento psicanalítico indicado para pacientes (com dificuldade em pensar e pensar em si mesmos) com uma impossibilidade maior de tolerar a transferência numa relação dual, tornando-a perigosa e difícil de lidar. O psicodrama propõe a estes últimos a criação de uma brincadeira a partir do seu mundo interno (o que está acontecendo com eles, tendo em conta seus limites psíquicos muitas vezes frágeis, confusos ou rígidos) e isto com a ajuda de outras pessoas, co-terapeutas formados em psicodrama. Os mecanismos de defesa que alteravam a relação com o mundo e com os outros ou favoreciam o uso da ação?- anteriormente a serviço da resistência e que frustravam o tratamento?- são subvertidos e utilizados como motor terapêutico no brincar.

O psicodrama é um processo em três etapas. Na primeira fase, o paciente propõe um tema, uma história, um cenário, e o organiza com a ajuda do líder da brincadeira. Após ter escolhido seu papel, o participante distribui os papéis aos coterapeutas. Depois vem o tempo da brincadeira: "a ficção encenada na brincadeira é um convite a uma atividade simbólica [...] e a uma reativação da dinâmica psíquica muitas vezes falha"[1]. A brincadeira possui uma função interpretativa nas suas ligações com a transferência e com a resistência, que são analisadas e comentadas na terceira parte da sessão, a da reprise entre o líder da brincadeira e o paciente. Para além deste ciclo, existem momentos de reflexão grupal?- portanto, sem o paciente?- que permitem utilizar o potencial terapêutico do grupo, iniciar um ponto de viragem no tratamento e também prevenir a ocorrência de fenômenos de grupo?- muitas vezes insuficientemente identificados?- que podem retardar ou mesmo impedir um tratamento terapêutico psicanalítico em grupo.

Assim, propomos insistir nas características de elaboração grupal da contratransferência, na medida em que elas podem se colocar a serviço de uma brincadeira dramática transitória, terapêutica para o paciente. Este ponto central está ligado às especificidades do funcionamento dos pacientes recebidos no psicodrama. De fato, perante as carências e déficits dos processos de simbolização que conduzem a movimentos transferenciais e contratransferenciais maciços e pouco diferenciados, a eficácia terapêutica desses processos é favorecida, entre outras coisas, graças à dinâmica da representação e ao grupo de coterapeutas. Com efeito, tais elementos dão sustentação para movimentos psíquicos profundos, fazendo emergir afetos pouco identificados, insuficientemente ligados ou mesmo reprimidos.

 

I. Dimensões grupais no psicodrama

Classicamente, os pacientes são recebidos durante trinta a quarenta e cinco minutos num espaço que não é demasiado pequeno (o que prejudicaria as possibilidades de ação e movimento), nem demasiado grande (risco de inibição, de explosão). A sala está dividida (sem palco) em dois espaços. Um com cadeiras onde se sentam os coterapeutas (entre 4 e 6), e um segundo onde o líder da brincadeira fala com o paciente entre as cenas. Este espaço é também o espaço da brincadeira propriamente dita.

Em vez de estabelecer indicações terapêuticas em relação a diagnósticos ou patologias comprovadas, o psicodrama é pensado primeiro em relação a particularidades do funcionamento psíquico. De acordo com Kestemberg e Jeammet[2] e Corcos et al.[3], o baixo investimento do mundo interno, a ausência de uma área intermediária eficiente que permita uma brincadeira ao nível do pensamento, dos afetos ou ainda a dificuldade de estabelecer uma neurose de transferência ou de usar a transferência na cura podem justificar a indicação do psicodrama. Alguns pacientes com formas de inibição também são recebidos, bem como aqueles apresentando funcionamentos nos quais a simbolização é particularmente deficiente, levando a movimentos transferenciais extremos.

As indicações para o psicodrama vão ao encontro das particularidades dos pacientes nos quais existe uma negação e clivagem maciça que "tende a rigidificar e empobrecer o funcionamento mental"[4]. Assim, o grupo pode tornar-se o suporte das partes não simbólicas do paciente, permitindo a figuração e depois a re-presentação em um momento estruturante. Por meio do grupo e da sua própria regulamentação, a transferência frequentemente maciça que rompe relações duais torna-se utilizável, o grupo pode ser o suporte de movimentos horizontais, fragmentados e parciais. Através da análise contratransferencial do grupo e dos seus participantes, a transferência maciça projetada no grupo e nos diferentes membros pode, graças a essa descondensação, encontrar seu caminho apesar da disparidade dos elementos que o constituem e tornar-se assim o motor central da psicanálise pelo psicodrama, na e por meio do uso da brincadeira.

O psicodrama, mesmo quando realizado com um único paciente, permanece dependente de uma dinâmica de grupo essencial. J. B. Chapelier[5] convida-nos a considerar dois tipos de psicoterapia de grupo. A primeira é chamada psicoterapia pelo grupo. Utiliza fenômenos de grupo no sentido estrito do termo, trabalhando especificamente sobre esses componentes, visando a uma influência mais ampla com base no vivido grupal comum às estruturas psíquicas individuais de cada sujeito do grupo. A segunda está prevista como psicoterapia no grupo, também baseada em processos de grupo, mas que não se tornarão o objeto primordial da elaboração do trabalho psíquico realizado nesse espaço. Os fenômenos grupais são então utilizados como motor para estimular a atividade fantasmática, mas os indivíduos continuam a ser objeto das interpretações do terapeuta. De uma forma geral, e retomando as distinções propostas por esse autor, poderíamos dizer que o ppi toma emprestado do primeiro registro a sua forma de induzir "[...] uma regressão e efeitos de difração da transferência"[6] e, do segundo, a sua possibilidade de apoiar a modelagem simbólica da atividade fantasmática e a diminuição das resistências individuais.

Quanto ao nosso dispositivo, a particularidade das suas características parece temperar ou mesmo limitar certos fenômenos grupais no âmbito das diferentes fases de constituição dos grupos terapêuticos, tais como pensados por Anzieu[7]. Recordemos aqui que este autor foi capaz de descrever três etapas fundamentais, sucessivamente vividas e atravessadas por grupos terapêuticos, em particular aqueles que operam através de um trabalho pelo grupo: o tempo do período inicial (caracterizado pelo aparecimento de excitação maciça e angústias arcaicas ligadas à entrada no grupo), o tempo da ilusão do grupo (marcado por um mecanismo maior de idealização que atinge o grupo, associado à localização no exterior dos objetos persecutórios e ameaçadores) e, finalmente, o tempo da re-diferenciação (no qual, em um modo colaborativo, são utilizadas capacidades de trabalho psíquico comuns entre os sujeitos que se consideram mais uma vez diferenciados). Estes fenômenos podem ser adivinhados na dinâmica do próprio ppi, mesmo que outros mecanismos estejam aí mais representados.

Observamos, em particular, a dinâmica relacionada com a distribuição das funções fóricas dentro dos grupos. Diz-se que estas funções são fóricas " [...] à medida que designam o que o sujeito porta e transporta no grupo. Correspondem a várias funções, consubstanciadas nas posições de porta-voz, porta-ideais, porta-silêncio, porta-morte, porta-sintoma"[8]. Tais posições poderiam ser consideradas como locais onde se abriga a transferência, além de constituir construções conjuntas apoiadas não só pelo que é transmitido pelo espaço psíquico individual, mas também pelo conjunto intersubjetivo em que o sujeito está envolvido. Assim, esta noção implica que os diferentes membros do grupo podem, pontual ou duradouramente, encarnar um movimento da vida psíquica do paciente como a expressão de um impulso ou de um desejo, de uma instância, de um modo de defesa, de uma modalidade de simbolização ou de uma forma de desintricação pulsional, ou mesmo uma alucinação negativa, para citar apenas alguns exemplos. Deste modo, para além da repetição ligada ao ressurgimento das imagens da vida psíquica do paciente no envelope grupal (e nos seus vários membros), será útil identificar a sua distribuição e como certos coterapeutas se tornarão portadores das suas resistências, defesas, capacidades de simbolização ou até mesmo da sua impossibilidade de simbolizar. Assumindo aqui temporariamente este tipo de papel, os coterapeutas tornam-se suportes de projeções provenientes do paciente. Tal noção permite compreender que o efeito produzido pela transferência do paciente requer a identificação da distribuição dos seus conteúdos psíquicos (afetos, representações de coisas e palavras) nos diferentes coterapeutas.

Saliente-se também a noção de comunidade de negação[9] em fenômenos de grupo que apoiam a tomada em consideração do risco de repetição transferencial tendo, no setting do psicodrama, efeitos particularmente mortíferos: estes últimos podem ser identificados com uma forma de pacto inconsciente que evitaria a abordagem de certas zonas psíquicas em sofrimento, marcadas na história do sujeito pelo selo do segredo e da negação, nas quais o grupo de terapeutas se pode ver apanhado e, até mesmo, inconscientemente se reconhecer. No que se refere às questões de grupo, cabe observar a particularidade francesa destes grupos de coterapeutas. Com efeito, são compostos por vários membros com diferentes níveis de formação em psicanálise. Assim, cada coterapeuta está pelo menos em análise, mas pode ser um estudante de psicologia (estagiário universitário), um psicólogo em formação contínua (estagiário ou voluntário), um psicanalista em formação, outro profissional de saúde formado ou em formação em psicanálise. Além disso, os coterapeutas são supervisionados em diferentes espaços: em grupo, dirigidos pelo líder da brincadeira e/ou por um analista-supervisor externo em uma base regular, ou individualmente em supervisão de prática, paralelamente à sua análise pessoal.

 

II. Simbolização e transferência

O trabalho em torno da simbolização no psicodrama não se limita à descoberta de um significado ou estrutura inconsciente, mas visa, sobretudo, a construir e apoiar os processos de simbolização em si mesmos, de modo a co-construí-los e a colocar em funcionamento os conteúdos não relacionados, não experimentados ou não representados[10]. Assim, para além de uma interpretação possível da brincadeira em si, trata-se já de produzir e permitir a existência de um brincar transicional intersubjetivo em si mesmo.

Podemos lançar luz sobre estes processos utilizando os três níveis de simbolizações fundamentais propostos por R. Roussillon[11]. A primeira (chamada simbolização primária) diz respeito aos primeiros traços psíquicos, localizados em nível infraverbal e no lado sensorial-motor do corpo. A segunda (dita simbolização secundária) coloca o papel da linguagem e das representações das palavras no centro do seu funcionamento. Finalmente, o último nível, situado em um plano meta muito mais complexo, permite que a simbolização tome como objeto, além dos conteúdos de que trata, a própria atividade do brincar, e isso, em um movimento reflexivo integrador.

A prática clínica do ppi, como a vinheta clínica discutida abaixo mostrará, leva-nos a agir muito frequentemente em diferentes níveis de simbolização, em especial quando lidamos com um paciente com transtorno narcísico de identidade, o que faz com que o trabalho se desenvolva a partir dos ecos simbólicos primários e estados psíquicos não vividos ou não representados[12] que vêm a ser construídos em grupo, em vez de primeiro serem perlaborados ou lembrados.

Este tipo de trabalho bastante específico pode dar às sessões de psicodrama uma coloração e tonalidade singular: os primeiros períodos de tais tratamentos, muitas vezes longos e difíceis, depois, veem surgir, no setting das sessões, fragmentos de simbolizações muito primitivas, confusas e mal diferenciadas, das quais o modelo dos elementos Beta proposto por Bion poderia certamente dar-nos uma representação bastante significativa. É então que o recurso ao ato, as descargas de excitação, as vivências corporais, os fragmentos de afetos mal diferenciados se exprimem na brincadeira. Mesmo que a presença da linguagem possa por momentos atestar a presença de processos de simbolização secundários ou dar a ilusão de sua existência, são no entanto as formas não representadas que se expressam de modo preponderante neste tipo de setting, o franco envolvimento do corpo e da motricidade?- convidando naturalmente à sua mobilização e ao seu trabalho de maneira diferente da fala e das palavras?- que não se adequariam à natureza do processo terapêutico aqui envolvido.

Levando-se em consideração estes aspectos, a compreensão e o tratamento dos movimentos de transferência-contratransferência merecem ser repensados. Assim, mesmo que a transferência continue a ser centralmente aquela dirigida ao principal terapeuta que é o líder da brincadeira, o dispositivo e o enquadramento do psicodrama permitem um manejo e uma escuta singular tendo em conta as formas de transferência mais parciais, arcaicas e não verbais ligadas a experiências pré-verbais, traumáticas ou que aguardam representação no paciente. Para Anzieu, mesmo que a transferência se mantenha essencialmente como "repetição na situação analítica de conflitos não resolvidos durante a história anterior do sujeito"[13], devido ao grupo, ela é diluída e deslocada, permitindo que seus efeitos sejam utilizados terapeuticamente (sobretudo, na brincadeira), mas não a neurose de transferência[14]. O termo diluição, usado por Anzieu[15], será tomado mais no sentido de uma transferência espacial do que temporal: pode ser utilizado de várias formas por diferentes coterapeutas que serão destinatários de partes diversas da transferência, e isso, de modo alternado, sem que estas lhes sejam especialmente dirigidas. O trabalho de Kestemberg e Jeammet[16] e Corcos et al.[17] complementa a ideia de uma diluição da transferência com as noções de fragmentação e difração. Com efeito, os coterapeutas podem ser portadores de um aspecto mais maciço da transferência do que o expresso em relação ao líder. Da mesma forma, um terapeuta pode ser portador de aspectos positivos da transferência e outro pode ser portador de aspectos negativos. Dupeu[18] complica o dispositivo com a noção de descondensação: a transferência pode ser expressa na e através da brincadeira e, portanto, através do corpo, dos movimentos, dos gestos, e não apenas por meio da fala e do conteúdo latente. Desse modo, diferentes níveis de expressão simbólica da transferência se manifestam simultaneamente e, em consequência, diferentes níveis de sentimentos contratransferenciais também. A transferência dirigida ao grupo pode assim ser diferenciada e deve ser vivida como um deslocamento daquela dirigida ao líder, de forma difratada, descondensada e diluída. Como vimos, a identificação e o desdobramento das diferentes funções fóricas[19] em ligação com a problemática transferencial?- e, sobretudo, com a contratransferencial?- são um aspecto essencial do nosso trabalho, especialmente quando criam movimentos de tensão, de incompreensão, ou mesmo conflitos na equipe, ou dentro da psique de um dos coterapeutas, que, agido por identificações projetivas, pode ser presa de experiências particulares, como a culpa ou a vergonha, difíceis de partilhar e que podem alterar o andamento do processo terapêutico.

O maior risco para o grupo é deixar estes aspectos por resolver, sem possibilidade de serem trabalhados a posteriori (o que pode, contudo, ocorrer nas trocas a quente após a sessão ou durante os momentos de retomada ou supervisão...). O grupo pode então encontrar-se em uma posição de conflito interno violento, a menos que isso seja regulado através do estabelecimento de uma forma de comunidade de negação[20]; ou mesmo de exclusão, divisão ou conluio inconsciente. Sem dúvida, por detrás de tudo isto há também a possibilidade de se alimentar uma reação terapêutica negativa no paciente, ecoando traços não representados de sua vida psíquica e de experiências que ele deixa em nós, à espera de uma forma de retorno transformado na e através da brincadeira. É por todas estas razões que o grupo deve continuar a ser o lugar de uma elaboração comum, da qual vamos agora tentar avaliar os riscos.

 

III. Elaboração grupal da contratransferência

Um dos elementos essenciais que gostaríamos de salientar diz respeito aos efeitos transferenciais mobilizados no encontro com o paciente, insistindo quanto a seu impacto no grupo de terapeutas, aqui tomado em sentido lato, incluindo tanto o líder da brincadeira como os coterapeutas. Com efeito, seria inadequado pensar aqui que os coterapeutas só existem para encarnar de forma mais ou menos passiva os produtos das atividades psíquicas do paciente. As noções de difração, diluição e descondensação acima descritas, bem como a referência às funções fóricas, mostram-nos que as projeções transferenciais do paciente serão certamente dirigidas ao líder da brincadeira, ao grupo de psicodramatistas, mas também a cada membro do grupo de coterapeutas que possa receber um aspecto de tais projeções. Por conseguinte, não vão recair sobre uma única pessoa, mas sim sobre o conjunto da moldura que constitui o grupo como um todo. Pensar que o líder da brincadeira é o único na linha de frente a receber tais efeitos é, portanto, muito utópico, assim como a ideia de que qualquer sentimento contratransferencial singular vivido por um coterapeuta não passaria de um epifenômeno sem maior interesse ou pertencente apenas a ele.

Assim, neste contexto é imperativo que os movimentos grupais dos coterapeutas em torno do paciente sejam objeto de uma análise cuidadosa.

A possibilidade de utilizar as experiências de cada participante requer então um processo em três etapas:

1) O coterapeuta?- de forma individual, em contato com o paciente, mas sem necessariamente estar envolvido em alguma brincadeira com este último?- localiza dentro de si um sentimento ou uma representação que associa a um efeito da transferência do paciente: sua capacidade de autoanálise é o que lhe permitirá confirmar tal identificação como decorrente deste direcionamento transferencial. A observação de sequências da brincadeira ou o envolvimento físico direto nelas serve ou até facilita recolher esses elementos, graças à regressão e solicitação das zonas arcaicas da psique mobilizadas.

2) O coterapeuta aproveita os momentos de troca de informações com seus colegas após a sessão (entre duas sessões, no final de um ciclo de sessões ou durante uma sessão de supervisão) para evocar este elemento com eles, o qual pode então ser colocado em perspectiva com os próprios sentimentos dos outros membros do grupo. Quer seja na comunidade dos sentimentos desta vivência ou no confronto de opiniões diferentes, o grupo começa a trabalhar psiquicamente como um coletivo. Pode então identificar a forma como certos membros são depositários de projeções psicológicas do paciente, abordadas por ele inconscientemente. O grupo opera neste momento nas mesmas modalidades que as descritas por D. Anzieu[21] no período de re-diferenciação, ou seja, em um modo colaborativo, tomando o paciente como tema comum de reflexão. A partir daí, pode começar a identificar os riscos de repetição traumática para os quais tem possibilidade de ser arrastado e as defesas patológicas em ação, em particular a clivagem que ele consegue reduzir imediatamente. Este trabalho grupal conduz ao desenvolvimento de uma rede de representações relativas ao paciente, representações que estão agora disponíveis para cada terapeuta, mas também para o grupo.

3) O conjunto dos membros do grupo se reúne mais uma vez com o paciente em nova sessão, com a possibilidade de apelar psiquicamente para o que possa ter sido elaborado em momentos anteriores. Isto influencia a representação tanto em nível das iniciativas individuais dos coterapeutas, quanto do grupo como um todo. Os efeitos interpretativos, especialmente na e através da brincadeira, têm agora a possibilidade de se desdobrar. A grande diferença está no que foi analisado poder ser introjetado na brincadeira, e não mais unicamente sentido em referência a si próprio, excedendo a capacidade de continência da representação do terapeuta, arriscando, neste momento, uma repetição de um conteúdo não representado nos elementos não verbais do jogo psicodramático.

 

É claro que todo esse ciclo é repetido ritmicamente ao longo do acompanhamento para melhor se adaptar ao paciente e sua evolução. Dependendo dos processos psicopatológicos encontrados, as trocas entre os terapeutas podem variar de tom. Assim, estes últimos, às vezes, são atingidos pela mesma coloração afetiva maciça e avassaladora, como no encontro com uma depressão severa, ou até mesmo com uma melancolia, que pode vir a reduzir qualquer possibilidade de compartilhamento agradável e revigorante entre os cuidadores. Os movimentos psicóticos ou limítrofes, através dos mecanismos de identificação projetiva, negação, clivagem e idealização, podem, por outro lado, gerar um tom muito conflituoso no grupo, dando a sensação de que cada coterapeuta fala de um paciente diferente, com o risco de conflito significativo, sem confrontos ou movimentos maníacos desorganizadores.

Seria lógico pensar que a natureza maciça destes efeitos transferenciais para o grupo dificilmente justificaria a utilização do ppi. Por outro lado, a operacionalidade deste tipo de dispositivo pode, apesar disso, tomar forma se for dada particular atenção à identificação e análise dos efeitos, que vão muito além da compreensão da problemática psíquica que liga o líder da representação ao paciente. A análise da problemática grupal completa e alimenta esta operacionalidade, proporcionando-lhe um dispositivo adicional que a enriquece. A nosso ver, não levar em conta esta dimensão grupal seria indesejável ou até mesmo perigoso, bem como não propor ao paciente um dispositivo psicanalítico que facilite a construção e implementação dos processos de simbolização e tornem possível a integração, na sua vida psicológica, de algo dos seus afetos, conteúdos não representados, não relacionados ou não vividos. Não esqueçamos também que?- se esta problemática complexa de grupo traz dentro de si uma potencialidade que é, no final de contas, bastante explosiva?- as patologias acolhidas no psicodrama frequentemente comprometem os settings em que apenas um terapeuta se ocuparia deles e nos quais, precisamente, a transferência (não difratada, neste caso) poderia ser expressa com uma massividade mais suscetível de alimentar resistências, reações terapêuticas negativas ou outros efeitos mortíferos.

No que respeita mais particularmente ao que é transferido dentro do grupo, parece relevante, em relação ao que conseguimos avançar acima sobre os avatares e falhas dos processos de simbolização, considerar que estes são também elementos muito arcaicos, ou mesmo não representados[22] que passam a ser recolhidos no espaço do grupo. Emergindo do campo da simbolização primária, ou seja, de um espaço onde as primeiras representações das coisas e dos afetos são muitas vezes confusas e lutam para se diferenciar e especificar, estes conteúdos psíquicos são muitas vezes projetados de forma anárquica sobre o grupo do terapeuta. Tais conteúdos colocam este grupo em uma posição complexa que muitas vezes o obriga, no início dos acompanhamentos, a receber esses elementos sem entender nada a seu respeito, e mesmo a ser agido por eles. A possibilidade de oferecer resultados que produzam mudanças deve, é claro, basear-se na necessidade de uma duração de trabalho suficiente, com possíveis retornos circulares sobre certas representações ou fantasmas e certos afetos. De qualquer modo, a ação conjunta da compulsão à repetição e da transferência fará com que tais representações e afetos voltem a tomar corpo: a partir daí, são as possibilidades dadas por novas brincadeiras?- autorizando tanto suas expressões, quanto a armadilha de uma repetição mortífera?- que permitirão as eventuais mudanças.

 

IV. Exemplo clínico de elaboração grupal da contratransferência

Entre os movimentos psíquicos prototípicos que podem dizer respeito ao grupo, enumeramos várias situações que encontramos em diversas ocasiões mas que iriam além do âmbito deste artigo, remetemos o leitor para um dos nossos escritos anteriores[23]. Escolhemos uma situação clínica em que o grupo é confrontado com uma experiência de fragmentação que pode servir de paradigma para pensar as questões relacionadas com o grupo. Não esqueçamos que os elementos clínicos descritos são apenas fragmentos de cuidados de longa duração destinados mais especificamente para mostrar como o psicodrama procura mobilizar, através da brincadeira, possibilidades de mudança e de representação e não pretende dar conta de todo o atendimento ou processo terapêutico psicanalítico.

Para ilustrar esta experiência de fragmentação, vamos descrever o caso de Damien, um rapaz de 13 anos com características psicóticas óbvias. Damien nos foi encaminhado por um colega psicólogo que conhece o psicodrama e trabalha na instituição na qual seu caso foi acompanhado durante um período de tempo significativo. A sua ideia era encorajar as capacidades de expressão e socialização do adolescente, mas também ajudá-lo a organizar uma vida psíquica muito caótica e confusa. O primeiro encontro com um psiquiatra do nosso departamento e a entrevista preliminar rapidamente nos colocaram frente a frente com as óbvias dificuldades de simbolização do adolescente, com elementos fantasmáticos arcaicos. No entanto, Damien parecia ter a capacidade de manter um bom contato com a realidade externa. Apesar de um ligeiro atraso na linguagem e uma forma perturbadora de estranhamento, Damien trará rapidamente para a sessão o mesmo cenário imutável e repetitivo: aquele em que anda numa impressionante montanha-russa em um parque de diversões. O trecho que mais o mobiliza neste tipo de cenário é o momento em que o vagão cai depois de subir lentamente uma encosta íngreme. Inteiramente tomado pela emoção transbordante que esta parte da representação suscita, Damien mostra-se completamente imerso numa forma de angústia esmagadora com um olhar ausente, a boca bem aberta, com uma impressionante expressão de terror no rosto. A imutabilidade desta cena muitas vezes proposta destrói rapidamente nossa capacidade de transformá-la.

O fato mais marcante é que o grupo de coterapeutas que participa da brincadeira com ele (em geral, representando membros da família ou amigos) apresentará uma forma significativa de agitação motora. Os personagens andam infinitamente na cena sem nunca se sentarem, passando repetidamente uns pelos outros sem se encontrarem ou falarem (ou em modo cacofônico). Vista do exterior, a cena dá a impressão de uma explosão e dispersão muito grandes, como se todos os participantes estivessem girando sem parar. Quando conversamos depois da sessão, todo o grupo reconhece que sente uma excitação esmagadora, uma fonte de agitação constante e uma impossibilidade de pensar e brincar. O líder da brincadeira diz que ele próprio está envolvido nesse mesmo movimento, não sendo capaz de pensar ou refletir enquanto observa a cena. As trocas no grupo são então marcadas por ansiedade e impotência, mas também pela sensação de perder o próprio pé, ou mesmo de correr o risco de enlouquecer sob os possíveis efeitos contaminantes desta repetição desestabilizadora.

Parece-nos claro que tal estado é um reflexo da fragmentação psíquica ou mesmo da fragmentação experimentada por este adolescente e que a nota maníaca associada se destina certamente a tentar circunscrever a angústia extrema que domina Damien e o grupo. Refletimos então em conjunto sobre a forma de conter os efeitos de uma identificação projetiva tão violenta. Esta identificação levou-nos a propor sistematicamente ao adolescente um duplo que o acompanhe no carrossel e verbalize o transbordante sentimento associado à sensação de queda, uma hipótese que se refere à possível presença de uma forma primitiva de angústia corporal evocada durante nossas discussões em grupo como uma possível pista para compreender a importância deste tema para o adolescente. A pessoa que irá desempenhar o papel do duplo, influenciada por nossas trocas de informação, irá então oferecer-se para tomar a mão de Damien e testemunhar, após a sessão, como se agarrou a ela quase como uma criancinha. Outro momento chave destas trocas será quando um coterapeuta irá interpretar um personagem que ficará no fundo do carrossel de braços abertos para apanhar Damien e dizer-lhe que, para se sentir bem abraçado, precisa dos braços de seu pai e de sua mãe. O adolescente vai então literalmente explodir em lágrimas na cena, o que irá provocar a interrupção da brincadeira e um longo momento partilhado com o líder, a fim de que ele se recupere. Uma forma de acesso finalmente possível (embora frágil e tímida) ao início dos afetos depressivos parece então tomar forma, levando em sua esteira e durante as sessões seguintes a uma clara diminuição das manifestações de explosão no adolescente, mas também ao nível do grupo. O acompanhamento durou dois anos, até que Damien fosse para uma nova instituição cuja distância geográfica já não permitia a continuidade das sessões. Ele nos deixou muito mais calmo, uma vez que a qualidade das suas relações com os outros também melhorou claramente. Além disso, tornou-se capaz de abandonar seus cenários de parque de diversões para abordar outros temas mais diversificados: o divórcio dos seus pais e alguns sinais importantes de uma forma de independência (nomeadamente, histórias sobre viagens de bonde, com o qual agora chega sozinho às sessões) e até mesmo esboços frágeis de cenários de cunho edipiano.

 

Conclusão

O ppi deriva sua eficácia terapêutica da complexidade do seu enquadre-dispositivo que, apoiando-se tanto na brincadeira quanto na dinâmica de grupo, mobiliza movimentos psíquicos profundos que suportam a construção dos processos de simbolização e a própria simbolização. A apresentação do setting permitiu na sequência que nos interessássemos pelo vivido grupal e a forma como a transferência e a contratransferência (aqui percebidos sob formas plurais e incluindo também a forma como certos conteúdos psíquicos com dificuldade de simbolização são incorporados) lhe dão certos matizes particulares, que será necessário identificar para poder transformá-los por meio da brincadeira.

Os efeitos terapêuticos observados neste tipo de dispositivo poderiam então ser considerados sob vários ângulos. A passagem necessária pela repetição e a recepção sensível dos efeitos transferenciais levam todo o grupo constituído pelo líder da brincadeira e pelos coterapeutas a reconhecer e identificar estes elementos e sua distribuição. Vimos também que tais elementos podem ser transformados em interpretações verbais na periferia da brincadeira (comentários do líder entre cenas), mas são utilizados principalmente na brincadeira e em registros que solicitam tanto o verbal como o infraverbal. A dimensão paraexcitante do setting, seus efeitos envolventes (no sentido psíquico do termo, mas também referindo-se às regras e às diferentes características tangíveis do dispositivo) permitem a recepção de elementos pulsionais que terão de ser traduzidos em representações de coisas e palavras e, assim, simbolizados. O apoio dado pelo brincar transicional e o empenho físico e psíquico que este exige continuam também a ser fundamentais para a implantação de tais processos, incluindo os relativos à simbolização. Assim, é de fato todo o dispositivo?- sua divisão espacial e temporal, os papéis específicos do líder da brincadeira e dos coterapeutas?- que permite que o psicodrama seja uma verdadeira cura psicanalítica. O psicodrama pode promover a evolução dos pacientes que não se beneficiam dos dispositivos clássicos, devido a sérias dificuldades de simbolização, à presença de afetos muito reprimidos ou pouco identificados, à ausência de capacidades transicionais de brincar e a um tipo incomum de transferência. Gostaríamos de destacar a importância dos coterapeutas, tanto no seu papel individual, como no seu ajustamento grupal, porque, em nível transferencial, antes de ser uma transferência utilizável e centralizada no líder da brincadeira, é de fato graças e através do grupo de coterapeutas que ela pode ser encarnada, transformada, e permitir a mudança das modalidades relacionais que tanto fazem sofrer nossos pacientes.


topovoltar ao topovoltar à primeira páginatopo
 
 

     
Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
Sociedade Civil Percurso
Tel: (11) 3081-4851
assinepercurso@uol.com.br
© Copyright 2011
Todos os direitos reservados