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Resumo
Resenha de Maria Sílvia de Mesquita Bolguese, O tempo e os medos?– a parábola das estátuas pensantes, São Paulo, Blucher, 2017, 304 p.


Autor(es)
Maria de Fátima Vicente
é psicanalista, mestre em Psicologia pela unimarcos-sp, doutora em Ciências Sociais pela puc-sp, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do Curso de Psicanálise desse mesmo departamento desde 1993. Participante do coletivo Escuta Sedes. Autora de Psicanálise e Música: aproximações (Coleção Clínica Psicanalítica, Casa do Psicólogo), e de artigos em publicações diversas.


Notas
J. M. Gagnebin, "Após Auschwitz", in Lembrar Escrever Esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.

J. M. Gagnebin, "A memória dos mortais?- notas para uma definição da cultura a partir da Odisseia", in op. cit., p. 13.


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 LEITURA

O que pode uma psicanalista nestes tempos [O tempo e os medos?– a parábola das estátuas pensantes]

What can a psychoanalyst do in these times
Maria de Fátima Vicente

Uma antiga canção de Caetano Veloso invoca o tempo de modos a apaziguá-lo e a convidá-lo a atender aos pedidos de seu cantor. O primeiro dos elogios que o compositor lhe dedica, à espera de ser escutado na empreitada, diz assim: És um senhor tão bonito como a cara de meu filho. Nessa estrofe, o cantor do tempo evoca os domínios daquele temível senhor, a finitude e a morte, condições que cada nova criança anuncia. Aposta, porém, que as alegrias em contemplar, acompanhar e apoiar as novas gerações possam nos reconciliar com a decadência e as perdas que aquela incontornável passagem nos impõe. Os filhos que nos sobreviverem levarão o legado que lhes for deixado e fecundarão outros futuros possíveis, por meio dos atos civilizatórios que se fizerem necessários à aventura humana sobre a Terra.

A experiência do estado de graça ao olhar o filho e antecipar a alegria da continuidade da vida, entretanto, tem se tornado rara nesta sociedade.

A sociedade contemporânea se especifica por uma particular relação com o tempo. Condições sociais, políticas e econômicas se entrelaçam em modos de vida que pretendem deter o tempo em suas consequências, formas de viver que evitam olhar a cara do futuro, na esperança vã de que o tempo não passe. Uma esperança como essa é muito velha, mas novas possibilidades tecnológicas e certas organizações político-sociais que a acompanham e a fazem proliferar criam e mantêm condições que sustentam a ilusão de que seja possível deter o tempo, ilusão aparentemente inamovível, refratária à palavra e indiferente ao outro.

O livro de Maria Sílvia de Mesquita Bolguese O tempo e os medos?- a parábola das estátuas pensantes é um criativo trabalho de reflexão sobre as modalidades de subjetivação possíveis nessa conjuntura, as quais interpelam a Psicanálise diretamente na clínica cotidiana e indiretamente, no mal-estar presente na sociedade. O resultado desse trabalho é um livro complexo, denso e instigante.

Procurarei apresentá-lo demarcado pelo fio condutor de algumas das inquietações que a leitura me instigou, já que seria impossível promover a explicitação e a discussão dos diversos níveis em que os problemas foram tratados pela autora. Adianto, desde já, que tal fio condutor não será necessariamente contínuo ou que percorrerá toda a obra, entretanto, espero que inspire o leitor a abrir-se às próprias questões que a leitura lhe suscitar.

 

i. As alianças

O ponto de partida da autora é o envelhecimento na sociedade contemporânea, que, enquanto sociedade administrada, promove o açambarcamento desse processo psicossocial, antes vivido e significado no âmbito familiar, e o submete à lógica mercantil.

A autora toma em consideração a incidência de determinados parâmetros da sociedade na produção de subjetividades de difícil abordagem pelo trabalho próprio a uma psicanálise. Dificuldade devido à pouca possibilidade que aquelas pessoas têm em pensar suas próprias condições como sofrimento psíquico e de problematizá-las como tal.

Um estudo abrangente introduz as questões construindo-as com a contribuição de autores de vários campos do conhecimento, condição do trabalho que explicita a vocação interdisciplinar dos temas tratados e a radical necessidade de que psicanalistas, os comprometidos com seu tempo, se disponham ao outro, vizinho ou estrangeiro.

Cabe destacar que essa interlocução é recorrente na trajetória da autora, pois, desde o início de sua prática clínica, ela sustenta a proposta de investigar e refletir sobre o que se coloca aos sujeitos a partir das conjunturas sociais.

A escolha dos autores prioriza aqueles cuja implicação com o sofrimento humano se traduz em compromisso teórico, clínico e político, como ocorre com ela. Exemplarmente, os da Escola de Frankfurt, dos quais penso que se deva destacar a presença de Adorno como o autor que permite evidenciar as referências mais amplas da autora. O que, a meu ver, está relacionado especialmente ao modo como o filósofo compreende a ética, no contexto de sua reflexão sobre a razão ocidental.

Podemos ver assim a escolha da autora por Adorno, pois para o filósofo desde Auschwitz, a ética necessária ao mundo que nos restou é aquela que não se ordena mais pela busca de princípios universais e trans-históricos, mas que tem "sua raiz no impulso pré-racional em direção ao outro sofredor". De tal sorte que o autor levará para a filosofia um tema que lhe era, até então, pouco comum: "o de uma radical corporeidade". A qual se efetiva desde que a violência abjeta dos acontecimentos históricos do século XX reduziu os corpos a "essa corporeidade primeira, no limiar da passividade e da extinção da consciência, que uma vontade de aniquilação, esta sim clara, precisa e operacional, se esmera em pôr a nu para melhor eliminar." (p. 77)[i].

Não por acaso, portanto, Adorno terá sido um pensador a acompanhá-la constante e consistentemente, em parceria fecunda com Freud, referência axial da autora na psicanálise, o primeiro dos autores do século xx cuja práxis desvelou que o corpo é condição de subjetivação.

Na sociedade contemporânea, os modos de eliminar a corporeidade erógena, elementar à constituição subjetiva, reduzindo os corpos àquela corporeidade primeira, assumem formas difusas, comandadas pela lógica mercantil, e produzem sofrimentos que não podem ser reconhecidos como tal. A elucidação das relações dessas formas difusas, com a formatação de subjetividades alienadas e sustentadas pela participação das condições psíquicas singulares que resultam nessa configuração, é o que norteia o trabalho da autora.

Apoiando a reflexão nos pensadores que convocou, ela demonstrará que tal estado de coisas depende de vários fatores inter-relacionados, quais sejam, dos ideais da sociedade do espetáculo, em que a imagem é o passaporte de pertencimento social; da lógica mercantil, que transforma a imagem em mercadoria e que estabelece valor de mercado aos sujeitos referidos à dicotomia pertencimento/exclusão; e, finalmente, da necessidade de o capital prosseguir seu processo de acumulação, o que cria tanto os novos consumidores quanto as condições da sociedade administrada. Sociedade administrada por garantir o controle social por meio da gestão dos corpos, o que colabora para impedir a transformação das coordenadas econômicas e políticas que articulam historicamente a realidade social.

Em detalhamento desse enquadre abrangente, Bolguese especificará que a administração da vida será comandada pela aliança perversa entre a medicina e a publicidade, aliança que banaliza as conquistas da medicina em relação à longevidade e à saúde e as transforma em produtos do mercado. Expressos pelo jargão de bem-estar e de qualidade de vida, fazem a redução daquelas conquistas às exigências de beleza e de juventude eternas. O medo da velhice e do envelhecimento, condição e processo associados à feiura e ao risco de exclusão e/ou de segregação social, se infiltra em todos e atingirá pessoas cada vez mais jovens.

Quanto ao que asseguraria a participação psíquica nesse processo, a autora propõe a hipótese da pregnância da angústia frente à morte, pois, para ela, "o horror a envelhecer se encontra inexoravelmente atrelado à angústia frente à morte", e a autoconservação é apenas um pretexto, uma vez que "a saúde física e psíquica, cooptada e subordinada a essa lógica, apresenta-se como coadjuvante" (p. 30). Como se verá nos relatos clínicos, a saúde estará ignorada ou desprezada, porque perturbadora da ilusão.

Bolguese expressará sua preocupação com a vulnerabilidade dos sujeitos frente àquela lógica mercantil, que se impõe sobre eles, sem possibilidade de crítica racional prévia?- uma impronta, conforme a nomeia.

Vale a pena esclarecer, assim, que o principal objetivo deste livro é desvendar as artimanhas do funcionamento mental em sua aliança com os apelos e as demandas sociais, no sentido do esclarecimento de como os sujeitos se deixam aprisionar pela lógica mercantil (p. 47).

Se não há escolha racional prévia, outras condições, das quais a psicanálise se ocupa, levam o sujeito a se deixar aprisionar. Ela se dispõe então a decifrar as condições que possibilitam tal aprisionamento consentido articulando-o aos elementos, mecanismos e operações primárias do psiquismo comprometidas nessa aliança.

 

ii. O solo firme da clínica psicanalítica freudiana?- abertura e atualizações

O livro se compõe de uma Introdução, seguida de cinco capítulos de discussão clínico-teórica e finalizado por um ensaio, a título de conclusão, a Parábola das Estátuas Pensantes. É precedido por um prefácio, escrito por Maria Laurinda Ribeiro de Souza, que apresenta uma perspectiva ampla da leitura que se seguirá e oferece uma contribuição ao tema do livro em uma breve, porém importante, reflexão que sugere possibilidades vitais compartilhadas pela arte e pela psicanálise.

A referência à clínica é o principal solo de apoio de Maria Sílvia e, por meio da discussão de curtos relatos, a autora estabelecerá os nexos, caso a caso, entre as exigências macrossociais e as operações psíquicas de submissão e consentimento a elas.

O eixo de decifração dos problemas e de construção de hipóteses se fará a partir da proposição freudiana de 1914, relativa ao narcisismo, e prosseguirá com os conceitos de pulsão de morte e de compulsão à repetição, assim como levará em conta a retomada realizada por Freud das problemáticas do masoquismo e da angústia, todos esses elementos que articularam a virada dos anos 1920. Aquele movimento complexo resultou, na Psicanálise, em novas possibilidades de propor a metapsicologia, de intervir na clínica, mas teve também diversos desdobramentos institucionais, muitas vezes conflituosos ou mesmo sectários. Bolguese, entretanto, priorizará, fundamentalmente, os desdobramentos teórico-clínicos e convocará para interlocução autores contemporâneos de diversas origens. Assim, André Green, Jacques Lacan, Joel Birman, Lucia Fuks, Nelson da Silva Jr., Maria Cristina Ocariz, para nomear alguns, conviverão, se não pacificamente, em tensão produtiva constante decorrente de suas elaborações.

Eles serão convocados por terem proposto e desenvolvido questões relativas à articulação corpo e sujeito, questões relativas às condições atuais do laço social quanto à sua incidência na construção de subjetividades narcísicas e outras, que contribuirão com elementos para as articulações desenvolvidas pela autora. Serão postos a dialogar com os autores dos outros campos, tais como C. Lasch, N. Elias, G. Agamben, S. Zizek e vários outros. As colaborações serão trabalhadas pela autora tanto nos cinco capítulos teórico-clínicos centrais como em relação às condições de possibilidade do tratamento psicanalítico e a extensão de seu poder na atualidade, que receberá ampla reflexão no ensaio que finaliza o livro.

Uma sutil predominância do pensamento de André Green, entretanto, deve ser assinalada e comparece desde o início no modo pelo qual a questão é proposta, pois a autora considerará que as configurações próprias às neuroses não são suficientes para abarcar as características sintomáticas dos casos em discussão e os tratará como pertinentes à ampla categoria de fronteiriços, conforme Green a propõe, o que incide também no modo de construir aquele eixo de referências textuais.

Os cinco capítulos se ordenam na sequência desse eixo, e os conceitos organizadores da discussão estão indicados sob os seguintes títulos: Sob a égide do narcisismo, no caso Helena. O "não" tempo da pulsão de morte, no caso Hércules?- capítulos que terão como referência os conceitos de Narcisismo e de Pulsão de Morte. As dores são o começo, o meio e o fim? - com o conceito de masoquismo, no caso Maria. E, finalmente, Angústia do Real e um corpo que envelhece no caso Alice e A mulher, a feminilidade e o gênero feminino no caso Hadassah?- nos quais as problemáticas da teoria da angústia, das construções sobre a feminilidade, e o gênero feminino, como problemática psicossocial, serão relacionadas.

O desenvolvimento das discussões porá em relevo os conceitos próprios à metapsicologia daquele autor, tais como narcisismo de vida/narcisismo de morte, o trabalho do negativo e o processo de desobjetalização, que contribuirão para elucidar com bastante propriedade principalmente os casos dos dois primeiros capítulos, o caso Helena e o caso Hércules. O caso Maria, discutido no terceiro capítulo, irá colocar em jogo os limites e as possibilidades da questão do masoquismo conforme proposto nos anos 1920 por Freud, e as relaciona a contribuições atuais, dentre as quais as de Nelson da Silva Jr., que propõe uma instigante relação sobre o predomínio do masoquismo erógeno na atualidade e as condições vigentes no laço social. Relações que abrem um caminho de discussão que Maria Sílvia irá articular com as questões amplas do traumatismo e da violência nos tempos da guerra, em que o corpo é suposto estar para sofrer, onde Freud é novamente convocado a partir dos escritos sobre a guerra, revelando-se interlocutor bastante pertinente dos pensadores atuais.

Os casos Alice e Hadassah darão relevo às questões trazidas pela retomada da teoria da Angústia em Freud e convocarão também Lacan para essa discussão.

A cada capítulo os conceitos específicos serão retomados na obra de Freud, em suas várias apresentações nos diferentes momentos da obra, e serão discutidos tanto em relação ao que podem aportar à discussão de cada um dos casos quanto em relação aos limites que lhes são intrínsecos. Isso permitirá à autora circunscrever os pontos em que a necessidade de formulação de novas hipóteses se precipita, o que a leva a recorrer à formulação dos autores mais atuais e a construir suas próprias articulações. Escuta, interlocução ampliada e escrita fazem com que também lhe seja possível não só situar essas novas condições subjetivas a partir dos desenvolvimentos atuais da psicanálise, que as procuram explicar, mas também situar os desenvolvimentos da própria psicanálise que derivam também da proposta de abordá-las clinicamente. Como se pode constatar, o desenvolvimento do trabalho é consistentemente freudiano, por construir o problema a partir da clínica e por teorizar em decorrência dos impasses ali encontrados.

A particular presença da escrita neste livro merece ser destacada. Pois, além de se constituir como espaço-tempo das ressignificações das questões clínicas, condição para que a experiência possa se arriscar a se tornar comum, a escrita dos casos apresenta uma qualidade ficcional particular.

 

iii. Escrita?- narrativa e testemunho

A polifonia das vozes dos autores convocados promoverá, a partir discussão clínica, as condições propícias a que os elos da história e, principalmente, a sustentação das histórias aqui contadas se encadeiem, proposta anunciada desde a Apresentação do livro.

As falas dos pacientes receberão um encadeamento narrativo que permitirá situá-las em perspectiva crítica, mesmo quando, e principalmente quando, pelas características que lhes são próprias, a historicidade e a narrativa pouco ou mal se constituem. Ou então, quando se dispersam em um divórcio recíproco entre a história (mal) vivida e o sofrimento presente.

Ao nomeá-los Helena, Hércules, Maria, Alice e Hadassah, a autora os situa em relação a referências míticas, etimológicas ou literárias desses nomes, como as notas de rodapé, ao início de cada capítulo, indicam e a narrativa específica confirma. Isto confere uma densidade e uma pertinência ao fio narrativo da História, por meio dessa inscrição ficcional no encadeamento das produções culturais, que a alienação consentida àquele modo de subjetivação que assumem não permitiria que lhes fosse reconhecido.

Como se sabe, a literatura de testemunho em sua radicalidade narrativa pode elaborar os traumas históricos, uma vez que a violência que resulta na redução àquela corporeidade radical, que Adorno nomeia, retira do sujeito as possibilidades da fala, da confiança no outro, na possibilidade de o futuro advir. Porém, estamos diante de outra forma daquela redução, pois a problemática tratada por Bolguese diz respeito ao traumático que se instaura no cotidiano, suave, disperso, sedutor e hipnótico.

Coerentemente com isso, diferentemente dos sujeitos submetidos aos traumas da História que a nomeação Auschwitz permite convocar em suas múltiplas repetições, os sujeitos do trauma diário da sociedade administrada não estão emudecidos.

São bastante faladores, até demais.

Discorrem, acaloradamente, talvez, insistentemente (como se pode ler) e interpelam a psicanalista em busca de corroborar suas crenças e convicções, talvez um pouco abaladas devido à situação em que se encontram.

Contrariados, reagem mal à psicanálise.

A permanência nas condições exigentes necessárias a uma análise e a perseverança no trabalho psíquico serão diferentemente assumidas por cada um, mas, em comum, as dificuldades de elaboração psíquica e de se colocar como sujeito das condições em que se encontra, responsável, se não por elas, por sua possibilidade de modificação.

Há dificuldade, talvez impossibilidade, em se deixar tocar pelo enigma das significações possíveis da própria experiência e, em contraste com a crença em seus ideais de superação, tudo parece explicado, dominado, inamovível. Nessas circunstâncias, uma análise não é tarefa fácil, nem para aquele que chega nem para quem se dispôs a ficar à espera e à escuta, o psicanalista em sua radical solidão.

Nesse sentido, o livro é também um testemunho, às vezes pungente, sempre implicado, das aventuras e desventuras da psicanalista Maria Sílvia em face do sofrimento (ou de sua ausência aparente) que se lhe apresenta, sem que ao certo se possa dizer se quem chega lhe demanda algo, e menos ainda, se demanda o que a escuta psicanalítica pode realizar.

Testemunhadas na escuta, essas falas puderam, às vezes, retomar o fio da fala singular, em que os tropeços, as lacunas, os sonhos instauram aquela temporalidade descontínua que funda o humano, sem previsibilidade garantida, em que o sujeito se esvanece e que as bordas sociais do vínculo com o outro permitem contornar o vazio e dar sentido à existência, quando só o tempo dirá o que o vivido significou.

Transmitidas pela escrita nos remetem àquela outra escrita, fundante da odisseia humana, em que a grande esperteza de Ulisses em face do gigante de um olho só é fazer-se Ninguém. Não pelo risco do desejo em ser Alguém cá nesse mundo, como se presentifica o anseio de ser no poema "Vaidade", de Florbela Espanca (que abre a escrita de Maria Sílvia, em epígrafe), mas porque só é possível salvar a própria vida, vida de desejos e riscos, "ao se aceitar ser identificado com a não existência, com a ausência, com a morte, com ninguém"[ii], como ensinam Horkheimer e Adorno.

De tal sorte que a experiência do estado de graça ao olhar o filho e antecipar a alegria da continuidade da vida possa ser reencontrada e que se multiplique nos sons do estribilho das canções, nas linhas do estilo do autor, no prazer legítimo e no movimento preciso, quando o tempo for propício, do ato do analista. No silêncio prazeroso da escuta, da escrita e da leitura. A deste livro, que recomendo ao leitor.


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