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Resumo
Resenha de Marina de Oliveira Costa, De que cor será sentir? Método psicanalítico na psicose, São Paulo, Manole, 2016, 335 p.


Autor(es)
Luciana Bertini Godoy Godoy
é psicanalista, doutora em Psicologia da Arte (ipusp).


Notas

1. L. Pareyson. Os problemas da Estética. 2. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1989. p. 167.

2. L. Pareyson, op. cit., p. 167.

3. J. A. Frayze-Pereira. Arte, dor. Inquietudes entre estética e psicanálise. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010.

4. J. A. Frayze-Pereira, op.cit.

5. D. W. Winnicott. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

6. L. M. C. Barone. Psicanálise e a clínica extensa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

7. L. Pareyson, op. cit.


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 LEITURA

Imagens do sentir [De que cor será sentir? Método psicanalítico na psicose]

Images of feeling
Luciana Bertini Godoy Godoy

       De que cor será sentir? Com este título, Marina de Oliveira Costa nos apresenta sua laboriosa dissertação de Mestrado, defendida em 2010 e vertida em livro em 2016, já nos convidando a adentrar em campos cujas relações requerem de nós alguma construção: o campo das sensações e formas e o campo do sentir. Neste trabalho, eles são pensados e transcritos por Marina com o apoio das artes?- plásticas, teatro, música e literatura, assim como o cinema, incluído pelo paciente?- e da psicanálise. Esta pergunta dirigida a Mário de Sá-Carneiro em carta de Fernando Pessoa foi feita em um contexto de desilusão e apatia com a vida, além da forte suspeita de avizinhar-se à loucura, mencionando frases absurdas, tragédia irrepresentável (p. 19-20) e sentimento de indiferença e abandono. Outro extrato da obra do poeta, agora um poema (Isto):

 

            Dizem que finjo ou minto

            tudo que escrevo. Não.

            Eu simplesmente sinto

            Com a imaginação.

            Não uso o coração [...]

            Sentir? Sinta quem lê!

 

       Nesses versos, Pessoa dialoga com a primeira indagação, de que cor será sentir? (p. 57); expressa um estado de coisas, ou de alma, em que o sujeito se encontra tão distante de sentir seus próprios afetos, que lança mão de imagens (cor, imaginação) como decodificadores ou intermediários ou tradutores do que, de outra maneira, permaneceria inacessível.

        Dessa forma, a autora foi extremamente feliz ao sintetizar no título a principal questão tratada no livro, que o percorre de ponta a ponta, a saber, de que forma e sob que condições pode um ser humano resgatar ou construir um sentimento de ser humano em outro, isolado nos porões da psicose. Ou, em suas palavras: Qual seria o fio condutor do acesso à experiência na psicose? (p. 26). Entre os possíveis, o trabalho de Marina Costa compreende a escuta das imagens reveladas pela escrita e pela pintura como um modo de pensar diretamente conectado, não só com os mecanismos e fantasmas inconscientes do analisando, mas com os pontos de fratura em seu funcionamento (p. 18)?- uma marca presente na psicose que demanda a mais cuidadosa atenção do analista. Ela trabalha com as imagens que emergem nas telas e papéis, mas também com as imagens mentais que emergem em si mesma, concebendo-as todas como criações da dupla analítica.

 

A história do trabalho

      A autora conta ter sido conduzida a este estudo por sua experiência de dez anos como coordenadora de uma oficina de pintura em uma unidade do caps (Centro de Assistência Psicossocial) em São Paulo. Nesta oficina, conheceu Taylor, o paciente cujo processo psicanalítico é relatado no livro. O atendimento teve dois momentos: o primeiro no caps, em grupo, nas oficinas semanais (análise modificada), que durou oito anos; o segundo, no consultório, uma análise pautada pelos clássicos parâmetros da psicanálise. Esta fase durou um pouco menos de um ano.

     É na materialidade deste contexto e no desenrolar do processo de crescimento psíquico?- integração?- observado no paciente, que a autora delineou algumas de suas premissas teóricas, entre as quais, a definição de psicose, tal qual Winnicott a compreende. Nas palavras de Marina Costa, a construção de um grande arsenal defensivo organizado pelo paciente como possibilidade de existência (p. 26). Esta sólida organização defensiva se forma como reação à grave falha ambiental infringida antes de sua capacidade egoica de assimilar (conferir figurabilidade ou algum sentido imagético que dê contorno a) a experiência?- de falha?- vivida.

       A premissa é que, tendo o ambiente falhado, subtraído ao ego ainda não integrado as provisões adequadas ao desenvolvimento emocional primitivo, é também no ambiente, na figura da analista e o setting, corrigido em função das necessidades do paciente, que se pode buscar o caminho do resgate desse desenvolvimento, desde o ponto traumático em que permaneceu congelado.

       A autora vai construindo os pilares de seu estudo, sempre na perspectiva de uma psicanálise cujo processo se apoia na intersubjetividade constituída no vínculo terapêutico. Parte da hipótese de que, se o trabalho analítico puder se constituir na zona de ilusão (Winnicott), contando com a pintura como um suporte (sustentação!) da linguagem primitiva das imagens; e se for possível, através da rêverie (Bion/Ferro), tecer ligações entre os processos primários e secundários em um ambiente de sustentação segura e confiável, é possível que a ameaça fique reduzida e as defesas relaxem (p. 30).

       Trata-se de um estudo acerca de fenômenos psíquicos muito primitivos. As constantes referências a Winnicott constituem, por isso, algumas das bases clínicas deste trabalho: a concepção da natureza humana, das patologias psíquicas, a consideração dos fatores ambientes favorecendo ou impedindo o desenvolvimento emocional, analista e paciente trabalhando/brincando na zona de ilusão e a possibilidade da retomada do curso do desenvolvimento no contexto de uma relação confiável. Aos poucos, contudo, o texto nos traz outros autores, apresenta vários conceitos, e ora o fenômeno psíquico, ora a relação terapêutica vão sendo envolvidos por hipóteses e nomeações, circundados por diversas perspectivas, demonstrando ao leitor não apenas a complexidade das questões abordadas, como a intensa busca pela figurabilidade dos fenômenos vividos na clínica.

     Por exemplo, as imagens da pintura e dos textos poéticos (p. 27) assumem, no atendimento, qualidades e funções específicas, que encontram ressonância, sobretudo, no conceito de pensamento onírico de vigília, do psicanalista italiano Antonino Ferro, que define o fenômeno mental que acontece no analista, segundo sua tradição bioniana: Conceito relativo à sequência de elementos α formados no analista, com o qual se entra em contato somente por meio das rêveries (p. 28). Assim como as imagens da pintura e dos textos poéticos, também as imagens que emergem na mente do analista em profunda sintonia com os estados primitivos de pacientes mais regredidos se prestam a dar forma ao informe, presença ao ausente, figuração ao incomunicável. Ligados a estas mesmas funções, a autora cita os conceitos de andaimes do real, de Fábio Herrmann, tela do delírio e alucinação, de Andreoli, zona de ilusão, de Winnicott, espaço de jogo, de Ferenczi, trabalho de duplo, de Botella e Botella, e o potencial das imagens transfigurantes, de Benedetti (p. 27-28).

       Assim, Marina Costa circula entre os vários autores, como uma linha trançada que vai formando uma trama, completando os espaços, buscando os conceitos e as palavras que possam articular suas experiências ao longo do atendimento de Taylor. Concebe suas identificações teóricas como uma elaboração imaginativa da clínica decorrente da união paradoxal de processos primários e secundários, entre inconsciente e razão. Desta forma, ela escreve, rendo-me ao atravessamento de paradigmas, porém capazes de se entrecruzarem por um laço comum, como o que de melhor posso oferecer em minha clínica para compreender e dar sentido terapêutico ao caso clínico em questão, e poder refletir sobre a técnica modificada a partir dele (p. 29-30).

 

Transicionalidade, congenialidade

      Não apenas a abordagem escolhida para explorar o fenômeno de interesse se caracteriza por múltiplas perspectivas. A própria autora constitui-se de muitas facetas: Marina é artista plástica, advogada, psicóloga, tendo aí percorrido o caminho do psicodrama à psicanálise. Enriquece a discussão conceitual com substratos provenientes da clínica, mas também da literatura, do teatro e das artes plásticas. Isto é, de elementos da cultura potencialmente compartilháveis com o leitor. Estes intermediários que iluminam a leitura o fazem, justamente, por se abrirem à própria experiência do leitor que, desta forma, se relaciona com o texto também através de sua experiência emocional-pessoal com elementos ali presentes. Quero dizer com isso que a abertura concedida à leitura do texto permite que experimentemos um fenômeno transicional, uma sobreposição de partes do texto com partes do leitor, gerando uma leitura aberta, única, necessariamente perspectiva. Uma leitura particular, acompanhando uma experiência clínica em particular, com pressupostos teóricos cujo interesse é pelo singular, onde se manifeste. Porque à psicanálise interessa a interpretação pessoal da experiência subjetiva, que constitui um universo em si mesmo. Na singularidade de um único sujeito, o mergulho se faz profundo, a observação, minuciosa e o tempo do desenvolvimento emocional pode ser acompanhado sem pressa ou interrupções. Na psicanálise, então, Marina Costa enraíza teoricamente seu trabalho, utilizando-se de diferentes autores, com contribuições nos campos das hipóteses clínicas, das leituras teóricas e, finalmente, do manejo decorrente da compreensão de cada momento específico da análise do paciente.

       Naffah Neto, seu orientador na dissertação de Mestrado desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autor do prefácio do livro, pergunta-se o quanto esse espelhamento incessante e incansável em diferentes teorias psicanalíticas não acaba por expressar a própria busca alucinada do psicótico por uma fisionomia própria, ou seja, o quanto sua metodologia não é decorrente de seu tema de pesquisa (p. 16).

      Este questionamento parece-me especialmente relevante, uma vez que aponta a congenialidade entre o tema pesquisado e a metodologia, ou a forma de abordá-lo. Sirvo-me do termo utilizado pelo esteta italiano Luigi Pareyson no livro Os problemas da Estética, que compreende a congenialidade no âmbito da leitura da obra de arte, ou seja, da interpretação, a qual define como "o encontro de uma pessoa com uma forma"[1]. Em uma perspectiva claramente fenomenológica, ele delineia as nuances desse encontro, recordando que, de um lado, a forma se apresenta em inúmeras perspectivas, cada uma delas contendo-a por inteiro, mesmo sem esgotar sua infinidade; de outro, diante daquela forma, a pessoa pode assumir infinitos pontos de vista, cada um deles encerrando toda sua espiritualidade, ainda que não exaura todas as suas possibilidades.

       A interpretação ocorre quando se instaura uma simpatia, uma congenialidade, uma sintonia, um encontro entre um dos infinitos aspectos da forma e um dos infinitos pontos de vista da pessoa: interpretar significa conseguir sintonizar toda a realidade de uma forma através da feliz adequação entre um dos seus aspectos e a perspectiva pessoal de quem a olha[2].

       No contexto do livro, trata-se da compreensão alcançada pela autora, através de suas escolhas interpretativas, da forma que se propôs estudar, a clínica psicanalítica da psicose. Se o incessante e incansável espelhamento da autora em diferentes teorias puder ser compreendido como a sintonia que ele representa com o próprio fenômeno da psicose, temos aí um sujeito-pesquisador implicado com seu objeto, epistemologicamente unido a ele, porque dele inseparável[3].

        A aproximação da psicanálise clínica e o campo da arte, trazido aqui pela referência a Pareyson, é possível graças aos elos traçados por Frayze-Pereira[4] entre o paciente psicanalítico e a obra de arte: ambos se colocam como expressão da questão da alteridade, a qual demanda, de quem se propõe a escutá-lo/la, abertura para que dele/a possa ter experiência (referência à definição de alteridade em Merleau-Ponty). Mas, nesse paralelo, o analista não ocupa o lugar do artista, senão o do espectador, que se deixa tocar pela obra a qual se faz ouvir, conhecer e expandir através das reverberações produzidas nele. Foi percorrendo o caminho das ressonâncias de Taylor em si?- confusão mental, angústia, associações, sonhos, insights?- que Marina manteve-se próxima a ele, tendo participado de seu lento desenvolvimento emocional.

 

O manejo com o paciente

        Se o comentário de Naffah Neto confirma a congenialidade de Marina Costa com seu objeto de estudo, o trabalho indica, da mesma maneira, a congenialidade da analista com seu paciente, de modo a obter dele a resposta mais reveladora. Ela adapta o setting às necessidades do paciente, inclui materiais e atividades que mediam o contato, realiza a análise modificada. As respostas são as possíveis. Aparentes repetições constroem mudanças que se dão aos saltos. O processo se faz dia a dia, sessão a sessão, sem saber o que e quando esperar. Os parâmetros se dão retrospectivamente, olhando o processo em sua sequência em que o limite é o presente; o futuro sempre incerto e é assim que deve permanecer. Pois qualquer sinal de expectativa de desenvolvimento pode ser sentido pelo paciente como uma intrusão, uma aceleração de ritmo, um descompasso da dupla, facilitando a submissão.

       O desenvolvimento do caso é apresentado nos detalhes. A ênfase permanece no processo. A analista, seus sentimentos e reflexões estão sempre incluídos como elementos de acesso a Taylor. Por dois anos, eles criam juntos, em silêncio, no ateliê de pintura, o tecido da confiança na sustentação da analista, na sua capacidade de espera e na não intrusão. As imagens se repetem, com algumas variações criadas a partir das intervenções?- pequenos e precisos comentários ou perguntas?- que expandiam pouco a pouco as possibilidades de comunicação com o paciente. As informações sobre os sintomas, o diagnóstico psiquiátrico, a história pregressa e as experiências traumáticas vão sendo apresentadas aos poucos. São incluídas na narrativa, conforme aparecem no próprio caso. A forma escolhida possui algumas vantagens que gostaria de destacar: a experiência permanece viva, permite que, em algum nível, o leitor reproduza emocionalmente os desafios e sensações produzidos na analista nos momentos críticos do atendimento de Taylor. A narradora convida o leitor, refaz seu caminho, sem dar notícias de onde ele vai dar. Cada volta do processo, que se estendeu por quase nove anos, cada etapa vai sendo descoberta pelo leitor junto com a analista. Em termos winnicottianos, este formato permite que criemos o caso ao lê-lo, formulando, desfazendo e reformulando hipóteses conforme o caminho que o paciente nos mostra. O menos importante nesta experiência, a meu ver, é se concordamos ou não com o entendimento específico da analista a cada momento. Não vale a pena se perder em possibilidades que são inerentemente múltiplas. Parafraseando Pareyson, citado logo acima, o estudo de um caso é "um encontro entre um dos infinitos aspectos da forma e um dos infinitos pontos de vista da pessoa", ou de cada diferente pessoa.

       A analista pretende trabalhar na área de ilusão e temos a chance de acompanhá-la neste propósito. Coloca-se livre e disponível para aceitar sem temor as imagens, associações e intuições que lhe ocorrem no contato com Taylor, buscando o momento adequado para dispor delas a serviço do processo do paciente, sempre. Repete, sucessivamente, a experiência primária de ilusão no bebê, colocando-se, através de suas intervenções?- no momento e lugar exatos da necessidade do paciente?- concedendo-lhe a ilusão de onipotência absolutamente necessária para iniciar seu relacionamento com a realidade de forma criativa e não submissa[5]. Esta longa e silenciosa fase se ocupou da formação do objeto subjetivo, do surgimento de um sentimento de ser em Taylor, oriundo das possibilidades do verdadeiro self. Sem discriminação eu-outro, repetindo a experiência traumática até experimentar um desfecho diferente, esta fase foi denominada The Wall?- uma referência ao disco/vídeo da banda Pink Floyd, especialmente escolhida por Taylor, de onde extraiu muitas das imagens utilizadas para alcançar a sua própria figuração de si. Marina nos conta: Minhas interpretações se limitavam a descrever as cenas pintadas com curiosidade e interesse, e a narrar as emoções que eu, no lugar dele, sentia (p. 101). Dentro dos muros, o verdadeiro self adormecido ou congelado ocultava-se e isolava-se do mundo externo. Qualquer possibilidade de ser escondia-se ali. A função mãe-ambiente (indissociada do paciente, na perspectiva dele) desempenhada pela analista neste período foi favorecendo o processo de integração egoica, até que ele pudesse lidar com as demandas pulsionais amorosas e agressivas, figuradas nas imagens da mãe boa e da mãe má, das diferenças sexuais, da agressividade e da culpa que foram aparecendo.

         Esta outra fase, em que o símbolo, portanto, a linguagem discursiva somada à figurativa, torna-se uma possibilidade e o principal meio de comunicação do paciente, foi denominada Platoon, outra referência trazida por Taylor, agora do cinema. O filme se passa no Vietnã, país dividido em dois lados em guerra, representando bem as novas possibilidades do mundo interno de Taylor: agora que ele existia e estava vivo no mundo, arriscando-se fora dos muros, podia trabalhar no sentido de resgatar ou constituir e integrar experiências emocionais que ficaram fora de seu psiquismo; trabalhar seus impulsos amorosos e agressivos, seus desejos, seu ódio e sua culpa não como ilhas de experiências incomunicáveis, mas como partes conflitantes, mas articuladas de si; enfim, trabalhar no sentido da análise clássica. "[...] eu estou vivo, fraco, faminto mas vivo e me erguendo aos poucos juntando meus pedaços" (p. 127), registra Taylor em um de seus escritos. E aqui é a mãe-objeto que está em ação, a analista-mãe-outro, já mais destacada daquela experiência fusional primitiva, mas ainda em profunda ligação emocional com o paciente.

 

Alcance do estudo

        O trabalho levanta questões de ordem teórica, técnica e metodológica, tanto no âmbito da clínica restrita ao atendimento de pacientes, quanto da clínica extensa[6], articulada com outras áreas do conhecimento, no caso específico, as artes. Eu destacaria o tratamento dado pela autora, particularmente, a Fernando Pessoa e Matisse. Se suas obras chegaram até nós e nos convocam a fazer leituras e associações, é menos pelo que elas dizem de seus autores, e mais pelo poder de, ao falarem deles, falarem de e a todos nós. E isso apenas acontece quando o artista teve êxito em desdobrar sua experiência singular em uma forma universal, passível de gerar identificações em leitores/espectadores de diferentes tempos e lugares[7]. Compreendo sua presença no texto como uma maneira de espelhar a agonia de Taylor, de oferecer uma forma aos nossos próprios afetos primitivos, evocados pela problemática trazida pelo paciente.

      O lugar do paradoxo na teoria de Winnicott e as possibilidades abertas pelo pensamento paradoxal na clínica das psicoses é outro campo de férteis questionamentos a partir do trabalho apresentado. Da mesma forma, o objetivo de unir autores com diferentes pressupostos através, por exemplo, dos conceitos de rêverie (Ferro/Bion) e de transicionalidade (Winnicott/Benedetti) (p. 30), também levanta interessantes indagações desde o ponto de vista epistemológico (o lugar do sujeito em cada um desses conceitos), até o técnico-metodológico (o lugar do analista em cada um desses conceitos).

      Diante destas observações, reafirmo a relevância deste trabalho, capaz de contribuir para a superação das dificuldades inerentes à clínica das psicoses. Um trabalho que milita lá onde a subjetividade resiste, buscando criar os meios de se fazer um ajuste da psicanálise, no sentido mesmo de uma adaptação ativa às necessidades deste outro grupo de pacientes, tão presente na clínica contemporânea.


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Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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