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Resumo
A partir de um diálogo entre o pensamento ferencziano e teorizações psicanalíticas contemporâneas, o artigo procura discutir os destinos do traumatismo precoce na constituição psíquica, para pensar a atualidade do conceito de desmentido. Os autores consideram que o desmentido precoce desdobra-se, na dimensão intrapsíquica, em uma perturbação na capacidade de reconhecimento interno das percepções.


Palavras-chave
traumatismo precoce; desmentido; clivagem; percepção.


Autor(es)
Maria Manuela Assunção Moreno
é psicanalista, mestre e doutoranda pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, ex-integrante do Projeto de Investigação e Intervenção na Clínica das Anorexias e Bulimias do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.  

Nelson Ernesto Coelho Junior
é psicanalista, doutor em Psicologia Clínica, professsor e pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de São paul. Autor, entre outros livros, de A força da realidade na clínica freudinana e Dimensões da intersubjetividade (organizado em conjunto com Perla Klatau e Pedro Salem).



Notas

1.        O presente artigo é fruto de pesquisa em nível de doutorado apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa (fapesp), processo n. 2010/51333-1.

2.        Utilizo a palavra infans para indicar a idade da criança antes da aquisição da fala.

3.        Batidas do corpo contra outros que ocorre em shows de rock.

4.        S. Ferenczi (1933), "Confusão de línguas entre os adultos e a criança", in Escritos psicanalíticos (1909-1933), p.?347-356.

5.        S. Ferenczi (1929), "A criança mal acolhida e sua pulsão de morte", in Escritos psicanalíticos (1909-1933), p.?313-317.

6.        S. Ferenczi (1930), "Princípio de relaxamento de neocatarse", in Escritos psicanalíticos (1909-1933), p.?120.

7.        S. Ferenczi, "Confusão de línguas...".

8.        S. Ferenczi (1990), Diário clínico.

9.        S. Ferenczi, op. cit., p.?142.

10.     A respeito dessas articulações teóricas, remeto o leitor ao artigo de Julio Verztman, "O observador do mundo: a noção de clivagem em Ferenczi", p.?59-78.

11.     D. Winnicott (1967), "O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil", in O brincar e a realidade, p.?153-162.

12.     D. Winnicott, op. cit., p.154.

13.     D. Winnicott (1960), "Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self", in O ambiente e os processos de maturação, p.134.

14.     Winnicott (1967), "A localização da experiência cultural", in O brincar e a realidade, p.135.

15.     No extremo, Winnicott fala-nos em morte física, quando a catexia dos objetos externos não pode ser iniciada.

16.     Green (1995), Propédeutique: La métapsychologie revisitée.

17.     D. Winnicott (1950), "Ideias e definições", in Explorações psicanalíticas, p.?36.

18.     Green, op. cit.

19.     D. Winnicott (1965), "O conceito de trauma em relação ao desenvolvimento do indivíduo dentro da família", in Explorações psicanalíticas, p.?102-115.

20.     Green (1988), Narcisismo de vida e narcisismo de morte.

21.     D. Winnicott, "A localização ...", p.?135.

22.     D. Winnicott, "O papel de espelho...".

23.     D. Winnicott , "Sobre as bases...", p.?210.

24.     R. Roussillon (1999), Agonie, clivage et symbolization.

25.     R. Roussillon, op. cit., p.?20.

26.     Tais noções foram abordadas em M. M. Moreno, Trauma: o avesso da memória.

27.     S. Ferenczi (1912), "O conceito de introjeção", in Escritos psicanalíticos (1909-1933), p.?61-63.

28.     N. Abraham e M. Torok (1995), A casca e o núcleo.

29.     R. Roussillon, op. cit., p.?21.

30.     C. Botella; S. Botella (2002), Irrepresentável, mais além da representação, p.?101.

31.     P. Aulagnier (1979), La violence de l'interpretacion.



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_____. (1975). O brincar e a realidade. São Paulo: Imago.





Abstract
Taking as a starting point a dialogue between Ferenczi and contemporary psychoanalytic theory, this paper discusses the fate of early traumas in the formation of the mind. The author feels that early disavowal perpetuates itself in a perturbation of the capacity to recognize internal perceptions.


Keywords
early trauma; disavowal; splitting; perception

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 TEXTO

“Estar fora de si” – traumatismo precoce e a atualidade do conceito de desmentido

“Being out of oneself” – early trauma and some reasons to employ the concept of disavowal
Maria Manuela Assunção Moreno
Nelson Ernesto Coelho Junior

O conceito de desmentido, cunhado por Ferenczi em seus últimos escritos, oferece uma compreensão do traumatismo em sua dimensão intersubjetiva. A impossibilidade de reconhecimento de uma experiência vivida por parte de um outro de confiança é o que a torna traumática, ou seja, capaz de fissurar um psiquismo. A partir de um diálogo entre o pensamento ferencziano e teorizações psicanalíticas contemporâneas, pretendo discutir os destinos do traumatismo precoce na constituição psíquica, para pensar os desdobramentos teóricos do conceito de desmentido. Consideramos que o desmentido precoce no plano intersubjetivo - como impossibilidade ou recusa do adulto em reconhecer experiências do infans[1] - desdobra-se, na dimensão intrapsíquica, em uma perturbação na capacidade de reconhecimento interno das percepções. Torna-se possível então compreender o sintoma do traumatismo precoce, na esteira do pensamento ferecziano, como estar fora de si.

 

A clínica da anorexia/bulimia deixa entrever, com frequência, um funcionamento psíquico que indica tal perturbação no reconhecimento das percepções internas. Para além da distorção de imagem corporal já muito explorada neste campo psicopatológico, o funcionamento que pretendo trabalhar se apresenta em falas como as que seguem: "Não sei como me sinto", "Existe um vazio dentro de mim", "Isto (algum fato relevante) não me afeta". Enquanto uma parte da vida psíquica parece fenomenologicamente desinvestida ou inexistente, a outra parece se realizar sobre a cena da realidade externa, sendo seus objetos superinvestidos e idealizados. Observa-se um constante pedido de reconhecimento, que, quando é atingido, paradoxalmente, não apresenta efeitos transformadores na realidade interna desses analisandos. Vale ressaltar, de princípio, que esse funcionamento não é exclusivo dos quadros de transtornos alimentares, fazendo parte do campo dos sofrimentos identitários-narcísicos. Nesse campo de interesse, o trauma não elaborado psiquicamente se manifesta em passagens ao ato, em somatizações, em adições, em projeções ou em delírios.

 

A construção de nosso pensamento tomará como referência o material clínico de um caso de anorexia, atendido por um de nós. Entendemos que a psicopatologia da experiência do corpo possa fornecer ilustrações clínicas concretas das relações entre interior e exterior, o subjetivo e o objetivo. A apresentação deste material não pretende ter como função o estudo de caso. A aposta aqui é de que este material possa funcionar como disparador de uma discussão teórica, suscitando pensamentos e articulações.

 

Caso clínico

Katy dá início ao processo analítico aos 15 anos, apresentando uma problemática anoréxica. Desde pequena ela se alimenta quase só de leite e massa e diz não saber o que é sentir fome. Às vezes, esquece-se de comer. Acha-se gorda e não gosta do formato de seu corpo, particularmente de suas coxas e seios. No início, olhava-se constantemente na superfície de seu celular, enquanto eu me perguntava: o que será que Katy enxerga ou busca? Filha de uma mãe jovem que se separa de seu pai quando tinha apenas um ano de idade, traz como uma de suas primeiras e principais queixas a vontade de ter uma mãe que pudesse cuidar dela e não uma irmã. Mesmo morando juntas, todas as decisões em relação a sua vida foram deixadas a cargo da avó, que Katy também chama de mãe. Apesar das críticas, a posição subjetiva de Katy em relação ao seu objeto primário aparece quando sua mãe resolve começar um regime e Katy insiste em emagrecer junto os mesmos quilos, não obstante a diferença de pesos, "só para ajudá-la" (sic). Começo a pensar que suas identificações secundárias com a figura materna ficaram, de certa forma, perturbadas pela impossibilidade de se separar do corpo materno e elaborar tal perda; e que ela busca alguma identidade/reconhecimento por meio da mimese, de uma incorporação ou identificação narcísica.

 

Quando era mais nova, sua mãe a levou a um show de rock, a partir de então se tornou uma verdadeira "groupie". Enquanto fracassava em sua vida escolar, seus pensamentos sempre giravam em torno dos shows a que tinha ido ou a que iria. Conta como virou a mascote de algumas bandas. A posição de mascote parecia ser a mesma que também ocupava na relação com seu pai. Vai paulatinamente se dando conta de que sempre precisou entretê-lo, diverti-lo para que ele não se drogasse. A relação do pai com as drogas foi em princípio recusada. Nesse tempo, chegava muito ansiosa nas sessões e dizia que era muito bom vir e despejar, que saía bem mais leve. Quando falava dos shows, contava como vibrava intensamente, chegando a dar "moshes"[2] na plateia e se esquecendo de comer e beber água. Excitação e sensualidade iam se misturando com pouca possibilidade de contenção. Katy começa a "ficar" com um ídolo de sua banda predileta.

 

A qualidade da relação de Katy com sua mãe, a partir da qual podemos especular sobre seus primórdios, pode ser percebida quando a última fez tentativas de ocupar um lugar materno, nas quais adotou atitudes muito invasivas e misturadas, como conversar com este rapaz com quem Katy saía para pedir-lhe explicações a respeito de sua namorada oficial. Katy sabia sobre o relacionamento, mas recusava reconhecer em si o impacto afetivo da situação. O contraponto dessas tentativas foram atitudes de abandono e desligamento. Quando dá início a um namoro, a mãe muda-se de casa, passando a não ligar mais para Katy e cobrando que esta se responsabilizasse totalmente pelos cuidados da avó.

 

Percebi, durante seu atendimento, uma forma de a analisanda lidar com o tempo que indicava o funcionamento mental que tento descrever. Katy apresentava suas experiências como se já tivessem passado há tempos, quando na verdade referiam-se a eventos bastante próximos. Era como se não lhe afetassem mais, não lhe pertencessem mais. Katy parecia poder captar, como uma boa telespectadora da vida, aspectos importantes da realidade, assim como comunicá-los. No entanto, o que parecia não ser possível era entrar em contato com o impacto da realidade em si, ligar os elementos e tirar consequências disto, integrá-los. Diante das intervenções da analista, pôde reconhecer que deixava de se considerar e que escapava de si, vivendo "a vida dos outros" em uma espécie de mundo de fantasia. O trabalho analítico se deu em um campo transferencial/contratransferencial que pôde ganhar figura na imagem da analista sustentando a paciente diante de um espelho, permitindo a introjeção de suas experiências. A mudança começa a ocorrer lentamente. Um dia Katy, após seu ídolo ter terminado o namoro a que me referi e ter passado algum tempo solteiro, saindo mais frequentemente com Katy, descobre pelo Facebook que ele tinha começado a namorar outra moça. Katy diz que isso a afetou muito e que por mais que o amasse não poderia continuar com ele. A partir desse momento, em que Katy começa a reconhecer o impacto afetivo de suas vivências, ela passa a investir na própria vida e recuperar suas notas na escola, que estavam muito baixas e iriam acarretar uma nova repetição de ano. Ao mesmo tempo, Katy começa a manifestar um cansaço/ raiva em relação à posição que ocupa frente aos pais e a se deslocar. Em sessão, ela diz: "Eu sempre cuidei deles, agora preciso cuidar de mim!" Uma fala de Katy que pode indicar a clivagem profunda que existia em seu ser e a impossibilidade de integrar suas percepções - mas que já neste momento de sua análise aparece de forma modificada - se apresenta quando me conta que encontra seu ex-caso em um show com sua nova namorada e diz "Mas ninguém viu!". O que mostra a mudança em seu posicionamento subjetivo que quero indicar é que, desta vez, "ninguém" pode ver!

 

Traumatismo precoce e a atualidade
do conceito de desmentido

As elaborações ferenczianas acerca do traumático nos oferecem os primórdios de uma rica compreensão da dinâmica do questionamento clínico que apresentamos aqui. Sempre atento às manifestações clínicas, Ferenczi deparou com pacientes cujas competências simbólicas e capacidades criativas encontravam-se muito comprometidas, que não conseguiam associar livremente e trabalhar a partir da frustração libidinal. Suas tentativas de aumentar a angústia como maneira de quebrar a estagnação na análise, a partir de injunções que impediam a satisfação libidinal - o que foi chamado de técnica ativa - pareciam somente reeditar um traumatismo já ocorrido. Ferenczi[3] começa a refletir sobre a implicação do analista no processo analítico e passa a chamar a atitude de reserva fria e não afetada dos analistas de hipocrisia profissional, uma repetição do ambiente infantil que deu origem à doença. Desta forma, pode notar e teorizar a respeito do papel constituinte e traumático da dimensão intersubjetiva nas origens do psiquismo, bem como na situação analítica. Ferenczi[4] aponta os efeitos constitutivos, vitais e de ligação do encontro com os objetos primários. A sua ausência ou impossibilidade daria continuidade interna ao trabalho das pulsões de morte, como tendência psíquica arcaica ao desligamento e à busca do inanimado. Ele escreve: "o primeiro ímpeto em direção a linhas de desenvolvimento anormais sempre foi pensado como tendo tido origem em traumas psíquicos reais e conflitos com o ambiente"[5].

 

O trauma, em seus últimos escritos, é pensado no modelo do desmentido como a impossibilidade de legitimação no plano intersubjetivo de uma experiência vivida com sua miríade de impressões sensíveis. Ferenczi[6] considera que o trauma seja decorrente de uma confusão de línguas referente à impossibilidade de o adulto reconhecer a experiência infantil devido à cegueira momentânea decorrente da excitação que a experiência produz nele. O fator traumático não seria a linguagem da paixão em si, mas a negação de sua existência, a culpa do adulto diante da intensidade pulsional que o move e a necessidade de contê-la. O desmentido tal como teorizado por Ferenczi, no entanto, diz respeito a uma operação de linguagem, em um momento em que a criança já é capaz de simbolizar e se comunicar.

 

Ferenczi[7] descreve as vicissitudes intrapsíquicas do trauma como um choque psíquico acompanhado de uma desintrincação pulsional, que gera uma tendência à autodestruição, denominada de autoclivagem narcísica. Esta clivagem, segundo o autor, ocorre na própria esfera psíquica e se trata de uma defesa, sendo que a parte sensível ao trauma é brutalmente destruída e desinvestida - o que também explica a amnésia retroativa - enquanto a que sobrevive sabe tudo, porém não sente nada. Desta forma, Ferenczi descreve o que em 1938 será teorizado por Freud como cisão egoica decorrente da recusa de uma situação traumática. Ferenczi, contudo, frisa a dimensão intersubjetiva deste processo. Seguindo sua linha de pensamento, frente à perda da coerência interna e diante de uma suposta morte psíquica, uma das saídas defensivas para a criança passa a ser a identificação com o agressor. Em suas palavras:

 

A pessoa divide-se num ser psíquico de puro saber que observa os eventos a partir de fora, e num corpo totalmente insensível. Na medida em que o ser psíquico ainda é acessível aos sentimentos, incide todo o seu interesse no único sentimento que subsiste de todo o processo, isto é, o que o agressor sente. Tudo se passa como se o psiquismo, cuja única função consiste em reduzir tensões emocionais e evitar as dores no momento da morte de sua própria pessoa, transferisse sua função de apaziguamento do sofrimento automaticamente para as tensões, sofrimentos e paixões do agressor, a única pessoa a sentir alguma coisa - isto é, a identificar-se com aqueles[8].

 

O adulto deixa de ser um outro e, em um processo identificatório que pode ser correlacionado à identificação narcísica de Freud, ou à incorporação de Maria Torok e Nicolas Abraham, impede que a criança construa um universo subjetivo pautado na percepção de que os investimentos que dirige ao mundo são seus. O adulto que desapareceu da realidade externa a partir da incorporação passa a assumir o espaço de reconhecimento de si da criança. Como consequência, a criança deixa de ser capaz de confiar no testemunho de seus próprios sentidos. A ligação psíquica e a construção do sentido estão impossibilitadas. O único sentido como ligação que resta à criança é aquele oferecido pelos sentimentos do adulto, um sentido invasivo do outro[9].

 

Interessa-nos pensar o desmentido precoce como uma operação intersubjetiva traumática, em que o sentido de experiências vividas é impossibilitado ou recusado antes mesmo de a capacidade de simbolização do bebê ser constituída. Entendemos que Winnicott[10], ao falar a respeito das vicissitudes do estádio do espelho, realize um desdobramento teórico importante do conceito de desmentido em termos do desenvolvimento psíquico. Winnicott defende que o rosto da mãe, e particularmente seu olhar, apresenta papel singular no desenvolvimento do Eu, tanto em seu aspecto normal, quanto no patológico. Neste texto, o autor desenvolve a ideia do traumático como as modalidades da ausência de reconhecimento e acolhimento por parte do ambiente do Eu (self) do bebê. Partindo da noção de indiferenciação primária entre bebê e mãe-ambiente, Winnicott sustenta a importância do rosto como espelho do bebê ao lado de outras funções, a saber, o holding, o manejar e a apresentação de objeto, na constituição da integração, bem como do inter-relacionamento psicossomático e da relação de objeto. Quando o bebê mama, ele não olha para o seio, mas para o rosto da mãe. Se a mãe pode se identificar com o bebê, o que o bebê vê é ele mesmo: "Em outros termos, a mãe está olhando para o bebê e aquilo com o que ela se parece se acha relacionado com o que ela vê ali"[11]. Esta identificação materna constitui o primeiro reconhecimento da experiência vivida do infans.

 

A vivência de uma coincidência entre a experiência interna e a intersubjetiva está na base do estabelecimento do narcisismo primário, de um self unitário e da formação do objeto subjetivo. Trata-se de uma integração em termos de elementos sensoriais e motores que se dá no tempo e no espaço e que compreende tanto um processo de personalização, a possibilidade de o ego se relacionar com o corpo e suas funções, como o início das relações objetais. A formação do objeto subjetivo também depende da concordância e harmonia entre o estado interior do bebê e o que ele vê na expressão do olhar da mãe. Tal concordância propicia ao bebê uma experiência de ilusão, uma vivência de que o seio dela faz parte de si, de que está sob seu controle mágico. Assim, desenvolve-se nele um fenômeno subjetivo, que foi denominado de seio da mãe e que coincide, segundo Winnicott, com toda a técnica da maternagem.

 

Entre o lactente e o objeto existe algo, ou alguma atividade ou sensação. À medida que isto une o lactente ao objeto (como objeto parcial materno), se torna a base de formação de símbolos. Por outro lado, à medida que há algo separando ao invés de unir, sua função de levar à formação de símbolos fica bloqueada[12].

 

Entendemos que, para o autor, a simbolização primária se sustente no paradoxo da ilusão e desilusão, coincidente com a constituição do sentimento do Eu e do outro. É no momento de uma gradativa ausência do seio, em um tempo que o infans possa tolerar, que este poderá começar a fazer um uso da ilusão para criar uma área intermediária e o objeto transicional, primeira possessão não eu, que precede o teste de realidade. O objeto constitui, então, um símbolo da união do bebê e da mãe que pode ser localizado. "Encontra-se no lugar, no espaço e no tempo, onde e quando a mãe se acha em transição de (na mente do bebê) ser fundida ao bebê e, alternativamente, ser experimentada como um objeto a ser percebido, de preferência a ser concebido"[13]. A questão que interessa a Winnicott - na esteira do pensamento ferencziano - é o problema da relação desde o nascimento entre o que é objetivamente percebido e o que é subjetivamente concebido. Para ambos os autores esta relação e suas vicissitudes são sustentadas na dimensão intersubjetiva pela relação de objeto.

 

Winnicott se questiona a respeito das vicissitudes do estágio do espelho quando a mãe não pode se identificar com as necessidades de seu bebê. O rosto da mãe não se torna um espelho para seu bebê, que olha e não enxerga a si mesmo, somente os humores e fantasmas maternos. Sua capacidade criativa começa a atrofiar e ele tentará obter algo de si mesmo a partir do ambiente por outros meios: pela agressividade, colocando-se em dificuldades e especialmente ficando doente. Enfim, os bebês começam a reagir para obterem algum reflexo do espelho materno que lhes diga respeito[14]. Após algum tempo, o autor sustenta que o bebê se acostuma à ideia de que, quando olha, vê somente o rosto da mãe. A percepção, então, toma o lugar da apercepção, deslocando o que poderia ser o começo de uma troca significativa e criativa com o mundo. A situação se constitui, segundo Winnicott, como uma ameaça de caos, e o bebê organizará uma retirada de sua própria experiência, só olhará para perceber o objeto primário como defesa à ameaça de sua perda. É possível descrevermos que o infans se volta para fora de si ao mesmo tempo que ocorre um splitting de sua personalidade. Green[15] comenta que se é o rosto do objeto-mãe que a criança percebe muito precocemente, ela não poderá formar o que Winnicott chamou de objeto subjetivo, mas constituirá prematuramente o objeto objetivamente percebido.

 

Winnicott descreve, como fruto do splitting, a construção de uma organização defensiva, o falso self, por meio "da assunção prematura das funções de amamentação da mãe, de maneira que o bebê ou a criança se adapta ao meio ao mesmo tempo que se protege e oculta o self verdadeiro, ou a fonte dos impulsos pessoais"[16]. Tal compreensão parece ser decorrência de uma elaboração teórica das noções ferenczianas de autoclivagem narcísica e da identificação com o agressor. Winnicott relaciona o falso self à descrição que outros autores fizeram deste estado como o de um Ego Observador. Green[17] acrescenta que o risco envolvido na construção do falso self, nesta ação de se conformar à percepção do objeto, seja o de se ter somente uma identidade exterior. Relacionamos a retirada, descrita por Winnicott, a uma espécie de clivagem em que a experiência subjetiva se desliga da percepção e se liga ao objeto objetivamente percebido, tornando-se dependente de sua presença. Na identificação com o agressor, apesar de decorrer também da clivagem da experiência sensível de angústia, ocorre uma incorporação da imago objetal. No extremo deste splitting, estaria o colapso esquizofrênico, caso em que o falso self pode se implantar como real, em um tempo anterior à internalização/integração da capacidade de perceber e de se refletir, da discriminação eu/não eu.

 

O trauma para Winnicott[18] é aquilo que, em reação ao fracasso do objeto em desempenhar sua função, rompe a idealização do objeto pelo ódio. Diferente de uma raiva apropriada, o ódio reativo do bebê divide o objeto idealizado e isto pode ser experimentado em termos de delírio de perseguição por parte dos objetos bons. Winnicott nos fala que o amor primitivo é impiedoso (ruthless), ele conteria uma agressividade que deve ser considerada como parte do exercício que pode conduzir à descoberta de objetos externos. Se a mãe, portanto, pode sobreviver e respeitar tanto os ataques de seu bebê assim como seu movimento de distanciamento, ela pode desempenhar os papéis de espelho, continente, Eu auxiliar[19], permitindo ao bebê conhecer paulatinamente a realidade sem precisar se defender precocemente dela. Entendemos que esta seja uma outra forma de reconhecimento constitutivo, que permite a integração do que é próprio do bebê, contemporaneamente à possibilidade de percepção de fenômenos internos e externos.

 

Winnicott, na esteira do pensamento ferencziano, nos conduz a pensar que a existência e a qualidade do objeto subjetivo dependem paradoxalmente das qualidades da existência, vitalidade e comportamento do objeto externo. Ao afirmar que o fracasso da mãe em alguma função essencial leva indiretamente à morte do objeto interno, ou a uma qualidade persecutória do objeto, ele acrescenta um desdobramento teórico à concepção ferencziana da criança mal acolhida. Ferenczi, como dissemos, percebeu que, na ausência de ligação psíquica promovida pelo encontro vital com a família, a criança tenderia à autodestruição, à doença e à apatia, pois a pulsão mais arcaica - a de morte - não seria ligada e continuaria exercendo seus efeitos no psiquismo.

 

Winnicott distancia-se da herança freudiana acerca de uma pulsão de morte constitutiva, mas recebe de certa forma influências ferenczianas ao pensar os efeitos destrutivos e impeditivos da integração psíquica como decorrência de um fracasso do papel do objeto. Em sua concepção, o objeto interno deixa de ter sentido para o bebê após a persistência da inadequação do objeto externo. Ele nos fala em um tempo traumático (x+y+z) em que a aflição produzida pela ausência da mãe não pode mais ser corrigida pela sua reaparição (x+y). A criança perde, então, o sentimento de que a mãe existe e experimenta uma ruptura na experiência de continuidade da vida de modo que "as defesas primitivas agora se organizam contra a repetição da ‘ansiedade impensável' ou contra o retorno do agudo estado confusional próprio da desintegração da estrutura nascente do ego"[20]. É possível pensar que, para além da problemática da progressão do princípio do prazer para o de realidade, seja a própria questão da instalação do princípio de prazer e suas funções de ligação psíquica que esteja em jogo.

 

Se o olhar materno, portanto, não for capaz de reconhecer um bebê com suas necessidades, se não for capaz de instalá-lo metaforicamente em seu psiquismo e refleti-lo, o bebê não poderá se imitar. Não poderá se identificar com aquilo que transmite à mãe e começar a constituir um espaço psíquico privado, um corpo erógeno e pulsional que seja sentido como próprio e real. Winnicott[21] diferencia existir e sentir-se real, que consiste no sentimento de existir como si mesmo, relacionar-se aos objetos como si mesmo e ter um Eu (self) para o qual se retirar, para relaxamento. "O self acaba por chegar a um relacionamento significante entre a criança e a soma das identificações que (após suficiente incorporação e introjeção de representações mentais) se organizam sob a forma de uma realidade psíquica interna viva"[22]. A dificuldade ou impossibilidade de reconhecimento por parte do objeto primário da experiência precoce do gesto espontâneo constitui um desdobramento teórico do conceito de desmentido ferencziano. A clivagem ou splitting, como defesa reativa diante de uma angústia impensável, agirá produzindo rupturas psíquicas, perturbando a simbolização primária das experiências precoces.

 

As contribuições teóricas de Roussillon[23] nos oferecerão, neste momento, caminhos freudo-winnicottianos para pensarmos as vicissitudes do traumatismo precoce. A ausência do objeto, diante dos traços mnésicos deixados por experiências de satisfação anteriores, produzirá, segundo o autor, um estado de tensão e de desprazer intenso, denominado de estado de desespero. Em diálogo com Winnicott, Roussillon considera que se o estado de desespero dura um tempo x+y+z para além do suportável, ele se degenera em um estado de traumatismo primário, um estado sem representação (e isto não quer dizer sem percepção ou sensação), sem recursos internos e externos, para aquém da falta e da esperança. O sujeito se encontra, então, frente a um impasse subjetivo. Roussillon descreve que para sobreviver:

 

o sujeito se retira da experiência traumática primária, ele se retira e se dissocia (coupe) de sua subjetividade. Ele assegura, e este é o paradoxo, sua "sobrevivência" psíquica, dissociando-se de sua vida psíquica subjetiva. Ele não "sente" mais o estado traumático, ele não se sente mais lá onde estiver, ele se descentra de si mesmo, se desloca de sua experiência subjetiva. (tradução nossa e grifos do autor)[24].

 

Esta forma de retirada que pode, em nossa opinião, constituir um desenvolvimento teórico da compreensão ferencziana do sintoma traumático enquanto estar fora de si é considerada por Roussillon, seguindo as linhas propostas por Freud em seu "Esboço" e em "Construções em Análise", como uma espécie de clivagem do eu. Somente este conceito permite, segundo o autor, respeitar o paradoxo de uma defesa que opera por dissociação de si ou retirada da subjetividade e não apenas como subtração da representação ou repressão do afeto. O aspecto paradoxal desta defesa extrema decorre do fato de que o eu se cliva da experiência experimentada, o que impede que esta seja vivida como uma experiência própria. Tal experiência não pode, desta forma, ser ligada e representada.

 

As experiências traumáticas não se fazem presentes no psiquismo enquanto traços mnésicos, mas como marcas perceptivas, as quais ainda demandam um processo de introjeção que lhes confira cidadania subjetiva[25]. O trauma incide justamente no processo de introjeção, processo que foi conceituado por Ferenczi e melhor discriminado por Nicolas Abraham e Maria Torok, como operação simbólica constituinte de uma discriminação original eu/não eu, dentro/fora. A introjeção constitui o mecanismo psíquico mais arcaico capaz de transformar a angústia originária em marca memorial ou símbolo. Ferenczi[26] se refere a este processo como essencialmente afetivo, de união dos objetos e do ego a partir da apropriação corporal do mundo. Abraham e Torok[27] consideram que a introjeção de marcas memoriais ocorre primeiramente entre corpo/psique por meio de um processo de identificação que simultaneamente instaura uma relação com o objeto interno e permite sua discriminação do objeto externo. O autor confere a estas marcas uma missão de mediação entre os limites psíquicos, a mesma das representações, afetos e fantasias, formando uma superfície de comunicação. A potência simbólica destas marcas advém precisamente desta duplicidade.

 

Roussillon ressalta, no caso da clivagem traumática, a simultaneidade da presença dessas marcas e de sua não presença, já que não se tornaram apropriadas, ou, como Winnicott disse, não foram colocadas no "presente do eu". Diferentemente da cisão evocada por Freud em seu texto de 1937, entre duas cadeias representacionais incompatíveis, a clivagem que Roussillon descreve cinde a subjetividade entre uma parte representada e uma parte não representável, sendo mais "uma clivagem no ‘eu' que uma clivagem do ‘eu'"[28].Entendemos que esta concepção de clivagem corresponda ao destino intrapsíquico do que pode ser concebido por desmentido precoce.

 

Assim como Freud em seu "Esboço" transforma a clivagem do eu no processo organizador das falhas do narcisismo, Roussillon considera o processo de clivagem como modelo teórico para a compreensão do sofrimento identitário-narcísico. As marcas da experiência traumática primária, portanto, não desaparecem. Elas se encontram para além do princípio do prazer e do desprazer, e apresentam a tendência a serem regularmente investidas de forma alucinatória sob a forma de uma compulsão à repetição.

 

É possível relacionar as problemáticas identitário-narcísicas à ideia do irrepresentável de Cesar e Sara Botella e, desta forma, retornarmos à nossa concepção de desmentido precoce. Para o casal Botella, o trauma constitui a impossibilidade de o sujeito representar-se não investido pelo objeto, "o irrepresentável de sua própria ausência no olhar do objeto; um estado no limite do psíquico, não elaborável e desorganizador, que pode ser qualificado de não representação"[29]. Compreendemos que esta ausência de reconhecimento constitua um desmentido precoce, que impeça a introjeção e a simbolização das experiências subjetivas, das primeiras percepções internas, do gesto espontâneo nos termos winnicottianos, causando como defesa um movimento de retirada de si que só pode ser realizado mediante uma clivagem no eu, tornando-as não integradas, um excesso do qual o sujeito deve continuar se defendendo.

 

O corpo, segundo Aulagnier[30], em consonância com a compreensão de simbolização de Ferenczi e os desenvolvimentos teóricos de Winnicott acerca da integração, determina a fronteira onde o social e a organização psíquica se encontram, e as experiências sensoriais, particularmente as da superfície da pele, são o meio mais importante para produzir sentido e gerar os rudimentos da experiência do self. Prejudicado em sua função de síntese e ligação, o psiquismo volta-se então para o externo, em busca de um objeto ou de um real do corpo que metabolize as excitações. A problemática de Katy apresenta-se, justamente, na dificuldade de introjetar e simbolizar suas percepções. Um corpo que não sente fome. Um corpo que ganha limites nos "moshes". Um corpo que toma emprestado, em uma busca mimética de reconhecimento, a imagem do corpo materno, causa de horror e fascínio.

 

Uma possível costura em torno da atualidade clínica do conceito de desmentido precoce

No caso de Katy, não se trata de uma vivência de ausência total de acolhimento e investimento, afinal as figuras de sua mãe, de seu pai e de sua avó estiveram sempre nas cercanias. Sua mãe, a despeito da dificuldade de ser encontrada e de se comprometer com um horário para conversar sobre o atendimento de Katy, quando se apresenta, parece interessada e ao mesmo tempo orgulhosa de seu bibelô. O uso do termo "bibelô" é intencional, e indica uma desconsideração com as experiências reais de Katy, mantendo-a em um campo de idealização imaginária e de fantasia. Sua avó, apesar de ser chamada de mãe por Katy, recusa-se a participar de uma terapia familiar indicada. Seu pai diz que deixou a responsabilidade das decisões para sua sogra, que sempre cuidou bem de sua filha. Interessa-nos, portanto, pensar a respeito da qualidade da relação de Katy com seus objetos de confiança, que se configura, em nossa opinião, como uma situação de desmentido. Aquilo que afirmam em seu discurso não é o que ocorre na realidade. O que ganha relevo durante os atendimentos é a impossibilidade de os pais de Katy (e aqui incluo sua avó) enxergarem e reconhecerem Katy em seus próprios gestos e necessidades. Ambos estiveram e ainda se encontram entretidos com seus próprios objetos primários. Sua mãe não consegue deixar seu lugar de filha, fazer o luto desta posição e se tornar mãe de Katy; seu pai não consegue se separar de um objeto prótese do objeto primário, a droga. Ambos solicitam investimento e cuidados, e quaisquer movimentos de Katy no sentido de uma independência são interpretados como um abandono. Desta forma, a experiência/gesto espontâneo de Katy segue sendo negativada nesta dimensão intersubjetiva. A dificuldade de Katy entrar em contato, reconhecer e simbolizar suas percepções parece-nos decorrer de uma clivagem traumática, de uma retirada da experiência de si. Katy passa a buscar fora de si, fora do seu corpo, alguma forma de ligação primária que lhe restitua algo de si, por meio dos "moshes", do olhar compulsivo para sua imagem na superfície do celular, na idealização de seus objetos de amor. Entretanto, também busca ligações não simbólicas, que não permitem uma possível elaboração do traumatismo primário, na ausência de fome, na recusa de ligações de certos aspectos da realidade, como em relação à adição paterna que poderia conduzi-la ao estado traumático. Desta forma, é sobre uma negatividade traumática, decorrente do desmentido precoce e da clivagem da experiência de si, que o sentido de si se edificou. Katy tinha se tornado ninguém.

 

No caminho percorrido foi possível relacionar a falta de reconhecimento do sujeito no olhar e no discurso do outro a uma ausência que impede a ligação psíquica necessária à constituição dos rudimentos do sentido psíquico, particularmente de um sentimento de si. O conceito ferencziano do desmentido se desdobra na teoria psicanalítica contemporânea, oferecendo-nos uma compreensão para o campo do traumático no psiquismo. O estar fora de si configura-se como condição psíquica decorrente das defesas primárias contra o traumatismo precoce - particularmente da clivagem da experiência subjetiva - que promove desligamentos, na tentativa de evitar tanto a efração psíquica como uma possível simbolização para a ausência de reconhecimento e investimento precoce. As dimensões intersubjetivas e intrapsíquicas se articulam em torno da problemática do reconhecimento e da integração, dando figuração à concepção ferencziana do sintoma do trauma como estar fora de si.


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Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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