EDITORIALEditorialLetter from the editors
Esta Percurso tem uma particularidade. Ela acontece depois do número 50, ocasião em que comemoramos 25 anos de publicação brindados com uma edição temática e um evento comemorativo em homenagem a André Green. O número e o evento estabeleceram um marco. E a responsabilidade de editar o seguinte se renova. É preciso fazer valer a utopia do moto-contínuo, utilizar a energia gerada pelo próprio movimento e ir adiante. Os autores se debruçam mais uma vez sobre suas questões, inquietações, e retomamos o trabalho de fazer circular ideias. Debates, divergências, discussões, e eis o 51. Relendo-o em seu conjunto, podemos observar certa perplexidade que perpassa os textos. Eis-nos às voltas com o tema do preconceito sexual. A homoafetividade é o fio condutor de dois artigos: sua história nas instituições psicanalíticas desde Freud, e a passagem, na clínica, da questão homossexual à homossexualidade, levando em conta normas sociais. Vindo ao encontro da nossa necessidade de pensar o momento histórico, o papel da lei para a psicanálise - segundo a teoria lacaniana - é o eixo de outro artigo. Os efeitos de experiências traumáticas na violência de gênero e questões relacionadas ao traumatismo precoce à luz do conceito do desmentido são examinados em dois textos. No primeiro são pensadas as possibilidades clínicas para a saída da situação de violência e no segundo a ênfase está posta na compreensão teórica dos efeitos do trauma em sua dimensão intrassubjetiva. A complexidade do conceito de masoquismo faz deste tema sempre um desafio. Um artigo propõe uma releitura do conceito em Freud. Também teórico é o texto que faz um reflexão minuciosa e detalhada sobre a noção de Id em Winnicott. A clínica com crianças comparece neste número em dois textos. O primeiro relata o atendimento de uma menina de seis anos e discute a delicada inclusão dos pais no trabalho. No segundo, uma cena de infância de um paciente adulto é o fio condutor a partir do qual a noção de figurabilidade e o uso do "jogo de rabiscos" são discutidos. A relação entre o leitor e o texto faz surgir um novo texto. Através da aproximação entre a narrativa clínica e o texto ficcional, escrita e leitura se revelam como processos igualmente criativos. A violência, as guerras, o racismo, os fundamentalismos religiosos, o ódio são temas com os quais, de um ou de outro modo, todos se veem envolvidos. O sintoma, na fronteira entre o que é mais próprio de cada um e o discurso de nosso tempo, é o eixo de reflexão da nossa Entrevista. Abordado de início por Freud, retomado por Lacan, e relativamente pouco presente na literatura psicanalítica, o sentimento de vergonha foi o assunto escolhido para o nosso Debate. Percurso traz neste número, pela segunda vez, o Debate Clínico. Diferentes linhas de pensamento e intervenção na clínica são apresentadas, convidando cada um à reflexão sobre sua própria experiência. Boa Leitura!
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