EDIÇÃO

 

TÍTULO DE ARTIGO


 

AUTOR


ÍNDICE TEMÁTICO 
44
O bem- e o mal-estar
ano XXIII - junho de 2010
240 páginas
capa: Paulo Pasta
  
 

voltar
voltar ao sumário

voltar ao sumário
 EDITORIAL

Editorial

Letter from the editors

Com a Segunda Guerra como pano de fundo, a entrevista instigante com Jean Oury situa-nos na história. Efeitos do conflito mundial na história da psiquiatria, da Psicoterapia Institucional e de condições nada ortodoxas de prática da psicanálise. Apesar de suas vivências nos poderem entusiasmar, o entrevistado adverte-nos sobre os riscos de se monumentalizar uma pessoa: “não se trata nunca de uma única, há sempre uma multiplicidade de sujeitos”. Uma multiplicidade de sujeitos anônimos e extraordinários povoa seus relatos. Paris, 1947, conhece Ajuriaguerra, refugiado espanhol basco, e Tosquelles, refugiado catalão. Na sequência, o primeiro encontro, “absoluto”, com a inteligência de Lacan. Meses depois, ida para Saint Alban, para o hospital Lozère, completamente perdido nas montanhas, onde reencontra Tosquelles e conhece Bardach, pesquisador judeu ucraniano, lá escondido e fingindo-se de doente para escapar da ss. Das várias cenas emocionantes desses relatos, vale ressaltar aquela da pré-história de La Borde, em que os médicos e pacientes deixam, juntos, o hospital. Jean Oury nos lembra de que o inventor do termo Psicoterapia Institucional foi Georges Daumézon, em 1952, que teria dito: “o que tentamos modificar num hospital, vamos chamar de terapêutico, vamos chamar de Psicoterapia Institucional”.

Nomes, temas, dimensão histórica retomada criam perspectivas para as colaborações que compõem este número. Um dos artigos nos fala do conflito que hoje atravessa a entrada de um psicanalista no hospital geral e da dificuldade de a psicanálise com crianças ser reconhecida pela instituição. Outro contrasta a experiência grupal e o modelo psicanalítico. Retoma a constatação e a surpresa de Pontalis, há cinquenta anos, ao dar-se conta de que faziam-se grupos. Refere-se também às condições de devastação da Europa pós-guerra, a outras reflexões em relação com o surgimento de grupos e constata que “é necessário, e mesmo fundamental, que uma dimensão institucional seja devidamente pensada, preparada e organizada para dar continência a esse dispositivo clínico de grupo”.

Um texto expõe o trabalho psicanalítico na Favela da Maré, na periferia do Rio de Janeiro, e nos fala de uma escuta da resistência ao aniquilamento. A adolescência é vista em sua função de crítica da cultura e como momento de excesso e insuficiência. Ainda contra a banalização do temário da adolescência, outro autor retoma a própria superfície do universo adolescente, em sua positividade significante, “como provocadora da análise da própria organização social”.

Uma criança, cuja fala teria que se desenvolver em uma torre de Babel, o hospital como espaço terapêutico e outros perfis de situações que o mundo em que vivemos propõe para a psicanálise fazem-nos entrever engrenagens da estrutura social. Em seu confronto com estas, a arte pode ter um diálogo profundo com a psicanálise. É o caso da poesia, na qual reverberam movimentos da alma, é o caso da obra de Paulo Pasta, diante da qual uma autora lê a criação e relê conceitos psicanalíticos. A paixão e a sublimação são mais uma vez revisitadas, à luz de transformações realizadas pela literatura e pela pintura.

Leituras apresenta-nos autores brasileiros que abordam, dentre outros, temas como o cuidar, neurose e não neurose na clínica psicanalítica, que não deixam de ter o efeito intertextual, relacionando- se com as lancinantes questões destacadas acima. Exemplo de inesgotáveis leituras de leituras, temos a resenha oportuna de mais um livro composto por leituras de Freud.

Percurso traz também a tradução de artigo de um conhecido psicolinguista, que se refere à leitura antes dos textos escritos. Descreve um “primeiro livro simbólico no fundo de cada um de nós” e que não se apaga, um “livro psíquico, escondido, mas sempre presente”. Ao pensarmos em sua concepção da meta da leitura como consistindo em “levar cada pessoa a se interessar pelo seu próprio livro” e em livros simbólicos, evocamos, na ausência do Dr. José Mindlin, a gratidão, que permanece, por sua generosidade em mostrar e abrir tantos livros para tantos, inclusive crianças que, a partir da visita à sua biblioteca mágica, criaram futuro.

topovoltar ao topovoltar ao sumáriotopo
 
 

     
Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
Sociedade Civil Percurso
Tel: (11) 3081-4851
assinepercurso@uol.com.br
© Copyright 2011
Todos os direitos reservados