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36
Perversões, dentro e fora do setting
ano XIX - 1° semestre 2006
159 páginas
capa: Alcimar Alves de Souza Lima
  
 

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 EDITORIAL

Editorial

Letter from the editors


Se os textos de Freud e de outros mestres fossem tidos como sagrados, certas questões a respeito do alcance da psicanálise tangeriam à carnavalização. Afi nal, para Bakhtin, que estabeleceu o conceito, sua denotação aplica-se à ocorrência de sacrilégios carnavalescos, que parodiam textos sagrados e sentenças bíblicas.

Até onde vão e de que modo procedem os esforços para pensar a respeito de questões políticas de um ponto de vista psicanalítico?

Ao indagar sobre os riscos de a psicanálise tornarse obsoleta “na era de abandono e de insensibilidade em que vivemos”, um de nossos colaboradores menciona certa revisão das instâncias psíquicas que teve repercussão nos anos sessenta. Relembra idéias de Marcuse, relacionadas com a hipótese de um psiquismo constituído apenas por id e superego, “para o qual o gozo adviria sem a necessária mediação egóica”.

Em Leituras, ao finalizar sua resenha de um livro sobre a economia do gozo, outro autor, parafraseando Lacan, extrai conseqüências do pressuposto de que o inconsciente é social. A forma de gozar de cada sujeito seria sua resposta frente a um imperativo superegóico. Tal imperativo adviria também de um mercado midiatizado e de suas ilusórias soluções para a falta constitutiva do sujeito. Para este colega, tal estado de coisas nos põe diante de uma questão política e da pergunta a respeito do papel do psicanalista frente a ela.

A psicanálise pouco tem a dizer sobre política. Ao retomar esta afi rmação, um dos autores dá-se ao trabalho de examinar argumentos que podem fundamentá- la. Ao acompanhá-lo, vamos nos dando conta de quanto podem ser externos ao fazer psicanalítico. Com efeito, como diz, à psicanálise não cabe colocar no divã o mundo, que é redondo e rola, escapando. Entretanto nos assegura que é possível “esclarecer aquilo que de fato somos capazes de fazer”. Seu artigo prossegue, admitindo que “a teoria do aparelho psíquico não se aplica à sociedade”, mas adverte que “a psicanálise não se reduz à teoria do aparelho psíquico” e nos encaminha para o possível reconhecimento psicanalítico da psique do real.

Se utilizarmos uma defi nição estrita, rigorosa, o pensamento e a escrita psicanalíticos não carnavalizam. Mas, sem dúvida, subvertem cânones até agora fi xados. Talvez procedam, diante do corpo teórico estabelecido, como o próprio Freud, em Moisés e o monoteísmo. Nas palavras da colaboradora que relê e comenta este texto, “Freud apropria-se do texto bíblico como de qualquer outro texto” e efetua deformações e deslocamentos. Psicanalistas, não podemos ser respeitosos.

A relação entre psicanálise e política aí está, manifesta e nomeada mais de uma vez, neste nosso trigésimo sexto número, que não é temático e traz outros percursos importantes. Que nos anime a pensar sobre “aquilo que de fato somos capazes de fazer”.
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Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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