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| | EDITORIALEditorialLetter from the editors
O presente número de Percurso trata da obra de Fabio Herrmann. Mais que uma homenagem, ele é o resultado de um diálogo proposto por Fabio ao longo de sua vida – como psicanalista, supervisor, professor, orientador e escritor – em diferentes lugares: no Sedes, na puc, na sbpsp, nos saraus em sua casa onde recebia com generosidade seus interlocutores e naturalmente em sua obra escrita, bastante extensa, complexa, crítica e extremamente refi nada.
Assim, os textos aqui recolhidos guardam a marca de ser escritos a partir dessa antiga interlocução com Fabio Herrmann, e cada um, a seu modo, toma em consideração uma questão, procurando manter viva a idéia de transmissão implícita na obra do autor.
Das questões aqui tratadas, sobressaem aquelas referentes à clínica considerada de forma extensa, o valor teorizante da escuta clínica, o diálogo com outras disciplinas, como a fi - losofi a e a literatura, e a busca do análogo da psicanálise, entre outras.
Sobre a transmissão da psicanálise, Fabio não cansou de lutar contra a repetição e a mesmice, reconhecendo que repetir nada mais significa do que o conhecidíssimo movimento neurótico defensivo, tão comum como fatal, que soluciona a relação com a essência produtora visando infi nitamente um arremedo. Assim, no movimento de transmissão, Fabio faz distinção importante entre a transmissão da teoria e a do método: se o que se transmite for uma teoria pronta, o culto é inevitável, mas se for uma ação – o método que produz e descobre o inconsciente – a forma psicanalítica é arriscada e recupera-se em cada autor. Dito de outra maneira, Fabio reconhece que há duas maneiras de proceder: ou se transmite a forma essencial despersonalizada, o quê inconsciente e o por metodológico, ou se transmite a cara do mestre com seus gestos, idiossincrasias e modismos.
Talvez este número de Percurso, pela multiplicidade dos textos e principalmente pela tentativa de levar adiante esse diálogo iniciado com Fabio e sustentado em sua idéia de transmissão, possa abrir a obra do autor, como aponta o texto de João Frayze, neste número, para a passagem da endopoiesis para a exopoiesis, ou seja, a passagem da leitura da obra a partir de seus constituintes internos para uma leitura que tome em consideração o espaço e o tempo em que a obra foi gerada. Trabalho talvez árduo e angustiante. Primeiro pela própria densidade do texto, depois pelo que ele revela. Se de Freud foi dito que ele trouxe a peste, o pensamento de Herrmann de forma mais radical nos tira a certeza das teorias construídas e nos lança num contínuo construir de nossa clínica, a falar em nome próprio e a assumir por conta e risco nosso ofício.
Mas essa é a idéia defendida insistentemente por Fabio em todo o seu trabalho. Garantir que o ato analítico – o ato inaugural de Freud – seja reinventado a cada análise, a cada momento de uma análise.
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