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Resumo
Resenha de Daniel Kupermann, Por que Ferenczi?, São Paulo, Zagodoni, 2019, 175 p.


Autor(es)
Augusto Stiel Neto Neto
é psicanalista formado pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

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 LEITURA

Filosofia e metapsicologia [Freud: filosofia e psicanálise]

Philosophy and metapsychology
Augusto Stiel Neto Neto

A metapsicologia como a descrição de um processo mental que abarcaria as dimensões dinâmica, tópica e econômica teve nos textos produzidos, especialmente, em 1915 sua mais clara expressão, fundamentando o alcance de textos anteriores, como o "Projeto" ou o capítulo VII de A interpretação dos sonhos. O caráter inacabado de uma conceituação da psicanálise revelaria a complexidade da construção de uma teoria que sempre teria na fluidez de seu objeto um ponto de constante inflexão. Daí uma maior aproximação ao campo da filosofia que ao campo das ciências tradicionais, entendidas como tais em seu contexto da época.

O livro Freud: psicanálise e filosofia é fruto do encontro ocorrido no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, em 2015, que promoveu a discussão acerca das relações entre filosofia e psicanálise, tendo como base os escritos metapsicológicos de 1915. O texto é organizado em torno de quatro eixos temáticos: Civilização: Origens e Desdobramentos; Vida e Morte como Problema Metapsicológico; Psicopatologia e Metapsicologia; Sonho, Fantasia e Metapsicologia.

Luiz Roberto Monzani abre o primeiro eixo temático com o artigo "Totem e Tabu, uma revisão". Para ele, o parricídio introduziu o humano no reino da culpabilização e da renúncia. O ataque cometido por "indivíduos sexualmente excitados" funda um processo civilizatório conflituoso de vocação neurótica que limita e exclui atitudes em torno do que seria o "ponto cardeal de toda civilização": o complexo de Édipo. De um mundo de forças surge um mundo de direitos no qual a impossibilidade do retorno ao incesto faz surgir verdadeira obsessão primitiva que faz a razão de teorias "do tipo lévi-straussiano", em oposição às que tentam explicar um fato social com outro fato social, sem levar em conta a fronteira fundamental do Édipo. Ao perder o objeto amado e ter ciúme do agente interditor, a angústia surge como única resposta da criança, cujo consolo é o tratamento igual a todos. Inveja e espírito de corpo caminham juntos. Não há um ponto de partida em que a cultura vem da natureza, mas um ato: o pai compele os filhos da horda à psicologia das massas, pois mesmo que substituído alguém ascende à sua condição. É o assassinato que efetivamente produz a transformação da psicologia coletiva em psicologia individual. Com a morte, surge o primeiro indivíduo cultural, da horda passa-se à aliança, do sensível passa-se ao simbólico, graças à memória de um assassinato que se reprimiu.

"Esquema filogenético e campo transcendental", de Léa Silveira, toma o conceito de fantasia como eixo. Segundo a autora, em "Neuroses de transferência, uma síntese", texto não publicado em vida, Sigmund Freud trabalha a hipótese filogenética da disposição à fixação na "escolha" da neurose fazendo um paralelo entre uma sequência cronológica da eclosão das neuroses, a era glacial e a horda primitiva. No texto sobre o "homem dos lobos", Freud argumenta que a criança recorre a vivências filogenéticas quando suas próprias não são suficientes, pois as experiências não condizentes com o esquema hereditário são remodeladas pela fantasia, cujo material universal condiciona a experiência, o desejo e a constituição do sujeito. Do esquema filogenético freudiano, a autora passa para o aspecto transcendental da estrutura lacaniana: na relação do sujeito com a linguagem, a cena primária freudiana teria seu lugar na articulação entre desejo e significante. A castração, antes de ser um salto filogenético é um corte que a linguagem produz entre o sujeito e as coisas sensíveis, uma fantasia universal cuja negação é um esforço para evitar a perda e um apego a um gozo ligado ao jogo de desejo da mãe e à identificação fálica imaginária. A natureza transcendental da fantasia é ligada ao "Outro", que, enquanto significante, não possui referência em si e se reveste também da falta. Daí que nenhum objeto será adequado ao desejo e nada responderá sobre o significado desse sujeito evanescente.

Em "Por uma história sem finalidade", Francisco Verardi Bocca e Daniel Omar Perez fazem uma análise da concepção kantiana progressista de filosofia da história e da concepção declinista freudiana baseada no controle da sexualidade, estabelecendo um contraponto com a ausência de finalismo presente no darwinismo. Este último é visto como um espaço livre tanto de "categorias opositivas que indicam o sentido do progresso ou do declínio" (p. 42) quanto das relações causais entre eventos e das categorias "metafísicas" ou "universais", em que a evolução surge como um processo imprevisível, contingente e descontínuo, sem um resultado específico para além da reprodução e da conservação. Segundo os autores, de uma "racionalidade" que veria certa lógica nos processos naturais, Charles Darwin teria apontado que seres similares poderiam originar organismos progressivamente diferentes, quando novas estruturas surgiriam demandando novas funções. Para Darwin não haveria uma descontinuidade entre natureza e cultura, na medida em que esta seria uma sofisticação do instinto animal; porém, ao incidir sobre a natureza usando os critérios da utilidade e conveniência, o homem se emanciparia da dependência das variações nos processos naturais e, mais adiante, substituiria a seleção natural pelos processos educacionais, operando um "continuum reversivo" (p. 53): uma verdadeira seleção doméstica por meio dos processos educacionais.

Em "Civilização e impulso: um dilema alemão", Thelma Lessa da Fonseca aborda a perspectiva de Herbert Marcuse sobre Freud e Friedrich Nietzsche, na qual a civilização como produto histórico e construto humano seria passível de um processo revolucionário se entendida em sua radical imanência. Para Marcuse, é na civilização que está a "contradição que permite superar o antagonismo entre princípio do prazer e princípio de realidade" (p. 62), sendo a arte o elemento unificador, sublimatório, que permite tanto a fruição do prazer quanto o questionamento da razão dominante. Tal superação levaria em conta "impulsos" subjetivos que Schiller descreve como impulso sensível (passivo) e impulso formal (ativo). Ambos estão juntos na cultura e separados na civilização, abrindo espaço para um terceiro, o impulso "lúdico", que atuaria como força mediadora entre o prazer sensível e o da atividade formal, trazendo a arte para o plano da realidade. Para Nietzsche, a apropriação do intuitivo pelo racional seria tributária de determinados períodos históricos, mas, mesmo assim, o impulso sensível buscaria outras maneiras de atuar, como nos terrenos do mito e da arte.

Ao abrir o segundo eixo temático, o artigo "O protagonismo da morte", de José Francisco Miguel Henriques Bairrão, traz o tema da pulsão de morte como promessa parcialmente cumprida da clínica e da metapsicologia. O autor, ao citar Monzani, lembra que o inorgânico seria um dos ordenadores do pensamento freudiano e a morte percorreria sua obra enquanto conceito essencialmente negativo, localizado no Id e sem inscrição inconsciente, produzindo efeitos indiretos e abrindo a clínica ao social e ao transgeracional. Para André Green, o irrepresentável exige que a clínica ultrapasse o inconsciente, sendo a pulsão de morte mais ligada ao inexistir do que à agressividade, deixando à pulsão de vida o pressuposto da atividade. Mas também se admite uma "pureza do não ser" (p. 76) originária que a pulsão de vida violentaria e a pulsão de morte restauraria. Em "Totem e tabu", "a paternidade na morte e não o pai morto" (p. 76) admitiria a morte enquanto ponto de produção de sentido, um convite à enunciação, na elaboração lacaniana, que se materializa em significantes e nunca lhe permite se confundir com eles. Nesse ponto a morte seria mero indicativo de retorno a um estado prévio. O barulho da destrutividade e da dissociação não encaixaria bem como traço de uma pulsão silenciosa. Onde parece haver a ação da morte, na verdade, há uma revelação do impedimento de seu trabalho, na medida em que não há inscrição da ausência, mas sua condição. Abordar o sujeito pela negatividade e não pela positividade indicaria que "o analítico pode se mover mais à vontade que no campo da psicologia positiva" (p. 78).

Em "Considerações sobre a morte enquanto problema metapsicológico", Sergio Augusto Franco Fernandes aponta a influência de Arthur Schopenhauer na construção metapsicológica da "repressão" e do "inconsciente", na relevância dos aspectos sexuais na teoria da afetividade e no tema da morte. Em "Além do princípio do prazer", Freud faz referência a Schopenhauer, para quem "a morte seria, ao mesmo tempo, o resultado e o objetivo da vida" (p. 85), o que traria à metapsicologia um imprescindível recurso teórico, apesar de esse objetivo monista não se coadunar com o dualismo pulsional. Em "O eu e o id", o medo da morte se daria entre o eu e o supereu, quando o primeiro, abandonado de si mesmo, desinveste-se libidinalmente, como na melancolia. Isso porque diante da negatividade radical da morte, pulsão de morte, libido e narcisismo vinculam-se na metapsicologia para além do princípio inicial do arco-reflexo, das cargas e descargas de estímulos. A conceituação "biológica" de um desejo de morte atrelada à ideia de representação de uma situação de perigo teria facilitado a Freud enfrentar seu próprio medo da morte, na medida em que uma noção próxima à ideia de aniquilação da vida não faria parte do inconsciente. A morte vinculada a situações traumáticas vividas colocaria mais concretamente a questão do desamparo, um sentimento soberano.

Em "Vivência de dor e pulsão de morte na teoria freudiana das neuroses", de Fátima Siqueira Caropreso, a dor, inicialmente associada às vivências de caráter traumático (sedução), cederia lugar na estruturação do psíquico aos desejos e às fantasias sexuais, cujo conflito com a moralidade levaria à repressão, ao retorno do reprimido e à neurose. Freud refere-se a processos repressivos mais primordiais e, em "Além do princípio do prazer", a processos psíquicos ligados a experiências desprazerosas, relacionados à compulsão a repetição e ao conceito de pulsão de morte. Mais tarde Freud traz a intensidade das pulsões, sobretudo as pulsões de morte, e a prematuridade do eu como fontes do trauma psíquico que levaria à fixação e à perturbação do desenvolvimento, impondo-se como obstáculo ao processo terapêutico. A pulsão de morte, pensada enquanto "inércia psíquica" e compulsão à repetição, torna-se decisiva na solidificação das defesas do sujeito mesmo diante da "viscosidade da libido" ou do "esgotamento da plasticidade" (p. 102) no funcionamento da psique. Sua inclinação ao conflito seria determinante para o embate entre as exigências pulsionais e a organização cultural.

Em "Condillac e Freud: o prazer enquanto princípio", Carlota Ibertis aproxima Étienne Bonnot de Condillac de Freud trazendo a filosofia do século XVIII como aquela em que a ordem metafísica coloca a inquietude no lugar da referência ao absoluto. No "Tratado das sensações", de Condillac, as capacidades mentais de um sujeito relacionam-se às expectativas relativas ao prazer ou desprazer, princípio já conhecido de tendência natural genérica. A experiência humana segue o caminho do movimento, cria hábitos ao longo da duração da existência, atinge objetos orientados segundo esse "princípio de prazer", deixando o reino da imaginação em busca da realidade externa. O prazer e a dor são balizas de movimento mais complexos, numa espiral de busca por prazer sempre inalcançável, tendo a dor como freio. No "Tratado dos animais" o convívio social diferencia o humano e influencia as necessidades e os desejos pela comunicação (linguagem), que se desloca de um estágio de evitação da dor para a consciência da própria conservação, alçando o desejo à esfera da necessidade, no campo moral dos "vícios" e "virtudes". Em Freud, no entanto, o prazer teria um status ambíguo, necessário e ameaçador, associado ao proibido após a introdução da sexualidade infantil e podendo ser experimentado de forma alucinatória a partir de traços deixados no sistema. A realidade imporia novas regulações e exigências que desembocariam na atenção, no registro, na memória e no pensamento. Nessa passagem as energias antes livres são inibidas e tensionadas em um longo e tortuoso processo de idas e vindas, sem que prazer e realidade coexista em uma psique cindida entre processos primários e secundários.

"Narcisismo e psicose, cem anos depois", de Suely Aires, abre o terceiro eixo temático. Do campo da psicopatologia, Freud realoca o narcisismo no desenvolvimento regular do indivíduo, na transição do autoerotismo para o amor objetal. Movimento repleto de particularidades, diante das hipóteses da dualidade pulsional e do conflito psíquico, Freud aponta as neuroses como caracterizadas pelo deslocamento da libido de objetos reais para objetos fantasiados e as psicoses como situações de recusa da alteridade e desligamento da libido. Tais estados não seriam independentes, mas parte do funcionamento psíquico humano. Nesse contexto o delírio seria antes uma tentativa de cura diante do fracasso do investimento libidinal em objetos da realidade, em um retorno sobre o corpo que faz entrever a disjunção entre eu e imagem, entre conhecer e ver. Jacques Lacan, por sua vez, subscreve que o sujeito é sempre outro na importância de sua imagem especular e propõe, em relação às psicoses, o diagnóstico ligado a fenômenos de linguagem. Mais tarde ele utiliza o recurso do nó borromeano para apresentar a ideia de "corpo próprio", quando na escrita de James Joyce se evidencia a tentativa de enovelamento entre três planos (simbólico, imaginário e real), na hipótese original de uma psicose sem desencadeamento.

Em "Estudos sobre as psicoses e a metapsicologia em Freud", Janaína Namba percorre a obra freudiana para focar o percurso da abordagem das psicoses, desde o "Manuscrito H" até os textos da segunda tópica. A autora salienta que Freud inicialmente identificava a paranoia como uma forma de defesa do psiquismo e via no mecanismo projetivo seu modo específico de repressão. O ego delirado seria fruto de um excedente sexual ocorrido em períodos posteriores do desenvolvimento psíquico. Os mecanismos de defesa fazem com que pensamentos "desinibidos" alcancem à consciência, retornando desfigurados ao sujeito. Por volta de 1910, a paranoia era o resultado de uma escolha de objeto heterossexual inibida, de um processo de fixação e dessublimação. Um recuo ao narcisismo primário manteria o sujeito em um universo sem investimentos de objeto para além de si mesmo. O produto dos processos defensivos do ego sempre será imperfeito e residual, legando aos psicóticos um esforço de trabalho psíquico cotidiano monumental.

Em "O desenvolvimento do eu a partir do mundo que o satisfaz e o potencializa e o mundo hostil que o ataca", Fernando Silveira Corrêa trabalha os fundamentos da metapsicologia freudiana com base nos dos textos "Projeto de uma psicologia" e "Visão geral das neuroses de transferência". No "Projeto", a vivência da dor corresponde a grandes quantidades no interior do aparelho psíquico e faz com que este guarde "uma memória de caminhos eficientes de eliminação do estímulo" (p. 171). O pensar situa-se nos caminhos associativos entre uma imagem percebida e uma imagem do objeto desejado, registrando-o como uma transformação do percebido em desejado. As imagens de movimento mais econômicas, como as articulações sonoras linguísticas, colaboram com um mínimo necessário de energia e permitem o raciocínio teórico e consciente. Após o "Projeto", a teoria da vivência da dor é abandonada e o conceito de sexualidade infantil aprofunda a teoria das vivências de satisfação, com a noção de pulsão sexual fundamentando o desejo alucinatório e as metas provisórias. Sob outra óptica de "Visão geral das neuroses de transferência", tradução da Imago de Neuroses de transferência, uma síntese, a autora se refere à era glacial como um mundo de perigos em que a libido se concentraria inicialmente no eu, depois se deslocaria em busca da satisfação, indo do autoerotismo à sublimação e se potencializando. Em seguida, Freud traria as psicoses como a psicologia dos filhos da horda diante da brutalidade do pai, cuja crueldade gera novas disposições: a submissão ao pai (hipocondria) que constitui novos laços sociais; o ódio coletivo ao pai (paranoia) que promove o esforço pela igualdade e a negação do poder; a identificação ao pai (melancolia) no retorno da agressividade, pressupondo uma coletividade agressiva e uma instância agressora.

No último eixo estrutural do livro, o artigo "A lógica do sonho" de João José Lima de Almeida aborda a metapsicologia freudiana no escopo de A interpretação dos sonhos, admitindo um agrupamento da filosofia contemporânea em quatro grandes vertentes: explicativa, compreensiva, descritiva e performativa. Para o autor, a filosofia de fundo presente em "Interpretação dos sonhos" seria compreensiva, à exceção do capítulo VII, cuja vertente explicativa teria como ápice os textos de metapsicologia que o autor descreve como uma explicação mentalista envolvendo forças, sistemas e energia, não verificável empiricamente e que busca fundamentar uma terapêutica dentro de um molde tópico, dinâmico e econômico, cujo caráter provisório aguardaria um futuro desenvolvimento científico. Nessa lógica dos sonhos, seu sentido revelaria um propósito: a realização de desejo em um caminho à revelia do sonhador, cujos pensamentos são cadeias associativas que distorcem, do latente ao manifesto, de maneiras inteligíveis apenas a quem sabe as regras de funcionamento ali colocadas e as matérias-primas de seu funcionamento. O aparelho psíquico surgiria numa lógica proposta à luz do momento, em que sistema perceptivo e sistema mnêmico tentaram dar conta do consciente (e pré-consciente) e inconsciente?- este mais disponível no estado de sono, graças à supressão da vigília, mas sujeito a profundas modificações devido à repressão.

Em "Fantasia e realidade nos escritos metapsicológicos", Ana Carolina Soliva Soria salienta que Freud defende a interação entre corporal e representacional, com os processos somáticos se dando à margem da consciência. A objetividade de um julgamento nasceria no interior da subjetividade, que em sua incognoscibilidade se abriria à interpretação psicanalítica no preenchimento de lacunas e construção de cenas?- assim como o inconsciente e a teoria, que se valem de metáforas e fantasias para dar conta do irrepresentável. Os afetos imporiam ao psiquismo a associação das representações, que do desprazer ao prazer constituem infinitas cadeias mnêmicas, organizadas por condensação e deslocamento nas redes de memória e direcionadas pelos caminhos de menor resistência a representações-meta, posteriormente alucinadas na regressão projetiva, de modo a repetir experiências de satisfação. Mas os investimentos psíquicos não esgotados voltam-se à motilidade nas pulsões de conservação, graças a uma barreira entre os sistemas mnêmico e perceptivo, na entrada em cena do pensamento: as representações perceptivas se juntam a representações abstratas internas, "revisão da primeira ligação de traços perceptivos" (p. 199), tendo a palavra como modo econômico de lidar com o sistema. Os traços qualitativos da coisa são unidos pela qualidade acústica da palavra com o acompanhamento de juízos imparciais de verdade ou falsidade na substituição do princípio do prazer pelo de realidade. No sono, as moções de desejo inconscientes não encontram o caminho da motilidade e são censuradas para não afetarem o desejo de dormir. O trabalho de condensação e deslocamento desfaz a ligação entre representação e palavra, impondo-se como sensação na alucinação onírica, sem a possibilidade da distinção entre real e irreal, mas com a elaboração secundária a fornecer inteligibilidade. Se a realidade se limitasse a uma percepção do instante presente, de nada serviriam os traços de memória e o pensar não seria tornar presente aquilo que foi percebido. Se o exame da realidade depende da cadeia de memória da subjetividade, a representação é sua condição prévia.

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