Editorial

Após a escolha dos textos para este número, encerrados os contatos com os autores, a edição dos artigos e o envio deles para revisão e edição gráfica, chega a hora do editorial e de nomear o número.

Propor um único nome para um conjunto de textos é sempre um chamado a voltar a percorrê-los e encontrar um dos fios que os atravessa em um alinhavo possível. Neste número, mais que uma temática, sobressaiu a força (Drang) que anima o autor diante do tema que o instiga a pensar e escrever. Psicanálise que flui, viva e implicada, instigada diante dos acontecimentos da clínica e do coletivo.

No enfrentamento das questões, alguns artigos buscam o trânsito possível entre diferentes aportes teóricos, enquanto outros aprofundam o pensamento de determinado autor ou perspectiva. Em ambas as direções, procura-se ampliar os limites de nosso fazer teórico-clínico. Dessa forma, o conjunto de artigos reflete um movimento, tão caro quanto profícuo, de "pensar contra si mesmo", como disse Jean-Paul Sartre, problematizar certezas, destravar e ultrapassar repetições rumo ao alcance de ferramentas mais afiadas para uma clínica no e do contemporâneo.

O mesmo impulso está presente nas demais seções da revista. É assim que, na introdução da entrevista realizada com membros do Instituto AMMA Psique e Negritude, encontramos, mais que um convite, um desafio: "Para nós, psicanalistas que trabalham no Brasil, trata-se da capacidade de desenvolver um pensamento e abrir a escuta para nossas especificidades históricas e culturais".

Este número de Percurso traz, excepcionalmente, duas traduções: o artigo "Desconstrução do narcisismo primário", de René Roussillon, e o artigo "Especificidades da simbolização nas mediações terapêuticas, a partir da clínica da psicose e dos autismos", de Anne Brun. Em ambos, em uma perspectiva teórico-clínica bastante próxima, buscam-se caminhos para pensar tanto em formas de favorecer e identificar a emergência de processos de simbolização na clínica com pacientes graves como em vias possíveis de intervenção do analista nessas situações.

O artigo de Anne Brun estará disponível apenas na Percurso Digital (www.revistapercurso.uol.com.br). Trata-se de um atendimento em grupo, e podemos acompanhar o trabalho clínico por meio das imagens dos desenhos realizados por duas das participantes. Nesse sentido, o artigo é especialmente adequado a ser veiculado por mídia digital. A Percurso Digital é também o meio que nos permite tornar acessível o vídeo da conferência "Wilhelm Reich e a relação entre psicanálise e política", de Mario Pablo Fuks, apresentada noCongresso Flappsip Configurações Atuais da Violência, cuja versão escrita se encontra na revista impressa.

Boa leitura!

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