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Resumo
Neste artigo investigamos o tema da hipocondria dando destaque à dimensão persecutória do corpo, característica central dessa patologia. Tendo em vista a sua singularidade e complexidade, sustentamos a ideia de que sua gênese se ancora nos primórdios do processo de constituição psíquica, no qual sublinhamos as relações existentes entre ego e corpo e, igualmente, entre o ego e o outro, seguindo a contribuição proposta por Jean Laplanche em sua teoria da sedução generalizada.


Palavras-chave
hipocondria, perseguição, alteridade, teoria da sedução generalizada.


Autor(es)
Marta Rezende Cardoso
é psicóloga e psicanalista. Doutora em Psicanálise e Psicopatologia Fundamental pela Universidade de Paris Diderot – França. Professora Associada do Instituto de Psicologia da ufrj (Departamento de Psicologia Clínica; Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica). Pesquisadora bolsista do cnpq. Pesquisadora da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental.

Patricia Paraboni
é psicóloga. Mestre e doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – ufrj. Pós-doutoranda e professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria – ufsm. Tutora de Núcleo de Psicologia do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde, ênfase Atenção Básica, da ufsm.


Notas
[i] {HIPOCONDRIA} S. Freud (1923), "O ego e o id", p. 39.

[ii] S. Freud (1905), "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade".

[iii] S. Freud, op. cit., p. 179.

[iv] S. Freud, op. cit. , p. 211.

[v] S. Freud (1933 [1932]), "Conferência XXXIII - Feminilidade", p. 121.

[vi] J. Laplanche, Novos fundamentos para a psicanálise.

[vii] J. Laplanche, op. cit.

[viii] A. L. W. Santos, "Constituindo o arcaico e o originário: considerações metapsicológicas", p. 32.

[ix] J. Laplanche, Entre séduction et inspiration: l'homme.

[x] J. Laplanche, Freud e a sexualidade: o desvio biologizante, p. 64.

[xi] A implantação seria o processo comum, com a dupla

[xii] J. Laplanche, Novos fundamentos para a psicanálise.

[xiii] J. Laplanche, Freud e a sexualidade: o desvio biologizante.

[xiv] J. Laplanche, Vida e morte em psicanálise, p. 92.

[xv] J. Laplanche, op. cit.

[xvi] S. Freud (1914), "Sobre o narcisismo: uma introdução".

[xvii] S. Freud, op. cit., p. 84.

[xviii] J. Laplanche, Freud e a sexualidade..., p. 76.

[xix] J. Laplanche. Novos fundamentos para a psicanálise, p. 77-8.

[xx] S. Freud (1923), "O ego e o id", p. 39.

[xxi] M. H. Fernandes, L'hypocondrie du rêve et le silence des organes: une clinique psychanalytique du somatique.

[xxii] S. Freud, op. cit., p. 39.

[xxiii] M. H. Fernandes, op. cit.

[xxiv] D. Anzieu, O Eu-pele,.

[xxv] D. Anzieu, op. cit., p. 87.

[xxvi] J. Birman, "Os impasses do sexual na psicose. Uma leitura da gênese do ‘aparelho de influenciar' no curso da esquizofrenia".

[xxvii] P. Aulagnier, "A propos de la paranoia: scène primitive et théorie delirante primaire".

[xxviii] P. Aulagnier, "A filiação persecutória".

[xxix] P. Aulagnier, op. cit., p. 75.

[xxx] S. Ferenczi, op. cit., p. 223.

[xxxi] S. Ferenczi (1933), "Confusão de língua entre os adultos e a criança", p. 119.

[xxxii] P. Paraboni; M. R. Cardoso, O rompimento do silêncio do corpo na hipocondria.

[xxxiii] S. Ferenczi (1931), "Análises de crianças com adultos", p. 87.

[xxxiv] E. G. Moraes; M. M. K. Macedo, A vivência de indiferença: do trauma ao ato-dor.

[xxxv] E. G. Moraes; M. M. K. Macedo, op. cit., p. 43.

[xxxvi] M. R. Cardoso, Superego.

[xxxvii] J. Laplanche, "Trois acceptions du mot "inconscient" dans le cadre de la théorie de la séduction généralisée".



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Abstract
In this paper we investigate the issue of hypochondria highlighting the persecutory dimension of the body, central feature in this pathology. Given its uniqueness and complexity, we defend the idea that its genesis is anchored in the early process of psychical constitution in which we emphasize the relationship between ego and body and also between the ego and the other, following the contribution proposed by Jean Laplanche in his theory of generalized seduction.


Keywords
hypochondria; persecution; otherness; theory of generalized seduction.

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 TEXTO

Hipocondria: um corpo capturado pelo outro

Hyperchondria: a body captured by the other
Marta Rezende Cardoso
Patricia Paraboni

Na hipocondria, o sujeito se sente perseguido por um corpo que não funciona bem, como se algo de mal tivesse dele se apossado, causando-lhe intenso sofrimento. Em sua crença persecutória, tratar-se-ia de um germe, um tumor, um invasor externo que teria se infiltrado em seu espaço físico, transformação que se daria à revelia de seu controle. Isso faz com que permaneça extremamente atento e cuidadoso com o estado de seu corpo físico, na desesperada tentativa de preservá-lo da morte. O corpo desses sujeitos se apresenta como palco de atormentadas dúvidas e certezas. Duvidam de seu estado de saúde, do funcionamento de seus órgãos e, para obter a confirmação de suas hipóteses, acabam por procurar um médico que lhes assegura nada haver de errado com eles. Porém, eles tendem a manter a convicção de terem um problema de saúde e, em geral, de significativa gravidade.

O caráter inquietante próprio ao registro do corpo na hipocondria leva-nos a assinalar, em primeiro lugar, a complexidade da relação existente entre corpo e psiquismo. Analisá-la, considerando sua intrínseca articulação com a questão dos limites entre o eu e o outro, constitui tarefa da maior relevância numa reflexão voltada para as determinações da inquietante estranheza que marca a experiência do sujeito hipocondríaco em sua existência corporal.

Os fundamentos do caráter persecutório do modo de relação que o sujeito trava aqui com seu corpo físico devem ser situados nos primórdios da vida psíquica, no processo de constituição do psiquismo, ancorada, por sua vez, no traumático encontro com o outro sedutor, com sua sexualidade inconsciente, através das mensagens enigmáticas que este transmite, inescapavelmente, ao novo ser. A proposta deste artigo é justamente explorar certos aspectos envolvidos na situação clínica da hipocondria tendo como fio condutor a contribuição de Jean Laplanche a partir de sua teoria da sedução generalizada.

Ao longo de toda a sua obra, sustenta o autor que no início da vida psíquica o eu se encontra radicalmente aberto ao outro. O processo de fechamento, formador do eu próprio, dá-se de modo gradual a partir da experiência de superfície corporal. Nas palavras de Freud: "o ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal; não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é ele próprio a projeção de uma superfície"[i].

A que estaria referida a permanente inquietação do sujeito hipocondríaco com seu estado de saúde física? Trata-se de uma dimensão corporal que ultrapassa a lógica anátomo-biológica, o que nos interroga sobre outro universo, o da subjetividade humana, movido pela pulsão. Iniciaremos nossa reflexão pelas condições de emergência desse campo, fundamento da vida psíquica, privilegiando o entrecruzamento entre espaço corporal e espaço psíquico, eixo essencial na problemática da hipocondria.

 

O outro sedutor na emergência do corpo pulsional

O corpo pulsional emerge apoiado e, ao mesmo tempo, num movimento de radical desvio em relação ao corpo da necessidade[ii]. O contato com a figura materna e a sedução exercida sobre o bebê é o elemento determinante nesse processo. Em algumas passagens da obra freudiana, fica evidente o lugar do outro na emergência do corpo pulsional. Nos "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", a experiência de sedução é relacionada ao aparecimento da atividade sexual nas crianças:

As contingências fortuitas externas ganham nesse período uma importância grande e duradoura. Em primeiro plano situa-se a influência da sedução, que trata a criança prematuramente como um objeto sexual e que, em circunstâncias que causam forte impressão, ensina-a a conhecer a satisfação das zonas genitais[iii].

Freud também ressalta que a sedução não seria necessária para despertar a sexualidade infantil, podendo esta ser desencadeada por causas internas. Apesar de parecer ainda muito atrelado à questão da sedução em sentido estrito, em outra passagem desse mesmo trabalho, oferece-nos pistas que ampliam essa visão:

O trato da criança com a pessoa que a assiste é, para ela, uma fonte incessante de excitação e satisfação sexuais vindas das zonas erógenas, ainda mais que essa pessoa - usualmente, a mãe - contempla a criança com os sentimentos derivados de sua própria vida sexual: ela a acaricia, beija e embala, e é perfeitamente claro que a trata como o substituto de um objeto sexual plenamente legítimo[iv].

Através dos atos envolvidos no seu cuidar, a figura materna desperta a pulsão sexual na criança. Vale notar que, em 1932, essa posição é reiterada por Freud ao afirmar que, ao se ocupar do corpo do bebê, a mãe acaba por despertar outro tipo de sensações: "foi realmente a mãe quem, por suas atividades concernentes à higiene corporal da criança, inevitavelmente estimulou e, talvez, até mesmo despertou, pela primeira vez, sensações prazerosas nos genitais"[v]. Assim, a mãe ocupa lugar de sedutora, função fundamental na emergência de um corpo perpassado pela pulsão sexual.

A sedução é considerada por Freud como dado quase universal: haveria uma sedução à qual nenhum ser humano escaparia. Trata-se da sedução dos cuidados maternos, onde os primeiros gestos da mãe na sua relação com a criança seriam impregnados de sexualidade. Pontua Laplanche[vi] que a sedução ultrapassa o campo da sexualidade estrita, no sentido de factual, relacionando-se ao sexual veiculado nas mensagens inconscientes que o adulto endereça à criança.

Apoiado nessas elaborações freudianas, Jean Laplanche[vii], propondo, através da teoria da sedução generalizada, novos fundamentos para a vida psíquica, veio, no entanto, a ampliar e a efetivamente afirmar o papel de sedução da figura materna na constituição do universo pulsional.

Laplanche propõe um descentramento que enfatiza a prioridade do outro na constituição do psiquismo. É nessa condição de desenvolvimento que foi destacada a sedução, quando a mãe, através dos cuidados corporais iniciais dispensados ao bebê, assume o lugar de quem seduz[viii].

Essa concepção da constituição psíquica, nomeada por Laplanche[ix] como situação antropológica fundamental, tem como pressuposto a condição de dissimetria radical entre a subjetividade da figura materna e a do bebê nesse tempo primordial de existência. O autor utiliza essa expressão para designar, portanto, uma relação universal, que confronta adulto e infans, relação na qual a referida dissimetria possui caráter estruturante e concerne essencialmente ao fato de a criança não ter ainda um inconsciente sexual, diferentemente do adulto, que o possui. Essa concepção permite que haja o resgate da noção freudiana de apoio, mas que ressurge aqui de modo renovado, posto que estreitamente articulada com a de sedução originária. Com o autor entendemos que o movimento de apoio é absolutamente indissociável da experiência da sedução, da implantação do sexual enigmático no infans, pois o desvio no funcionamento biológico, rumo à abertura do campo da sexualidade, apenas se torna possível por essa operação exercida pelo adulto.

O ponto de partida do movimento de apoio é a parte inconsciente da mensagem do outro, seu lugar de impacto sobre o corpo da criança. A relação de cuidados propõe lugares de implantação para aquilo que os gestos adultos vão veicular como mensagens, elementos inconscientes. Trata-se do confronto de um indivíduo (cujas montagens somato-psíquicas situam-se inicialmente no nível da necessidade) com significantes emanando do adulto, mensagens estas de caráter sexual, inconsciente, enigmático para o próprio adulto. Precisa Laplanche:

Tentei subverter o apoio, revirá-lo pela sedução. Mas o que é revirado com a sedução é também toda a estrutura. [...] a pulsão sexual tem uma fonte indissociavelmente fantasística e implantada no corpo. Seu objeto, o outro, está na origem da pulsão. Seu objeto-fonte (e poderíamos dizer, seu objeto-fonte-alvo) é o que resta da mensagem enigmática do outro, veiculada na autoconservação[x].

Os cuidados maternos delimitam, contornam e destacam do corpo as zonas erógenas. A partir dessa visão, a sedução vem dar outro fundamento à noção de zona erógena. Ao generalizar a teoria da sedução, o autor promove uma ampliação da própria concepção de trauma. A teoria da sedução traumática ultrapassa a dimensão psicopatológica, já que é aqui concebida como parte integrante dos processos constitutivos do psiquismo. O trauma e a situação de desamparo se instalam por conta da sedução exercida via implantação/intromissão[xi] de mensagens sexuais enigmáticas e, ao mesmo tempo, da incapacidade da criança em traduzi-las e de delas se apropriar. Desse modo, a sedução originária introduz a dissimetria atividade/passividade, dado o confronto entre adulto e criança, tendo em vista o fato inegável de um psiquismo parental mais "rico" que o da criança.

À medida que o adulto sedutor implanta sua sexualidade inconsciente, ele também traz, ao mesmo tempo, os recursos de ligação dessas mensagens. Lembra Laplanche[xii] que o enigma, cuja base é inconsciente, é a sedução por si mesma. Os cuidados parentais apenas são sedutores por não serem transparentes, por veicularem um enigma.

De acordo com a teoria da sedução generalizada, os quatro elementos da pulsão devem ser compreendidos da seguinte forma: a fonte está radicada nas zonas erógenas como consequência do fenômeno de sedução; seu objeto, o outro, está na fonte da pulsão. Assim instala-se o objeto-fonte que é o que resta da mensagem enigmática do outro, veiculada na autoconservação. Trata-se de um resto não significado, isto é, um significante dessignificado. As mensagens sexuais suscitam um trabalho de domínio e de simbolização difícil ou até mesmo impossível, deixando atrás de si restos inconscientes, o objeto-fonte da pulsão; fonte, tanto dos aspectos mortíferos, como dos aspectos sintetizantes da pulsão, em conformidade com o aspecto parcial ou total que reveste. Assim, a finalidade ou o alvo seria a ação metaforizante, ou seja, a tradução/transformação das excitações que emanam das zonas erógenas[xiii].

A força ou a exigência de trabalho da pulsão não seria diretamente exercida pelas fontes somáticas, mas por protótipos inconscientes, ou melhor, pela diferença entre o que é simbolizável e o que não o é nas mensagens enigmáticas. O processo tradutivo dessas mensagens apenas tem lugar quando da constituição do eu, mas, antes disso, opera-se uma pré-ligação no nível do eu corporal.

Enquanto o primeiro plano da existência passa pela autoconservação, o segundo seria o da sexualidade, a qual se dá na articulação com o primeiro plano, por meio da sedução e do apoio. A sedução é considerada fonte de ataque justamente por introduzir um desvio no sistema autoconservativo. A introdução de mensagens sexuais na criança nela provoca uma reação, movimento de defesa que não pode ser concebido como simples reação do corpo biológico.

 

A constituição do eu: do autoerotismo ao narcisismo na leitura de Laplanche

O aparecimento efetivo da sexualidade só se dará no momento em que a atividade não sexual, a função vital, vier a se destacar do seu objeto natural ou a perdê-lo. "Para a sexualidade, o momento reflexivo (selbst ou auto) é que é constitutivo, momento do retorno sobre si mesmo, ‘autoerotismo', quando o objeto foi substituído por uma fantasia, por um objeto refletido no sujeito"[xiv]. Portanto, na leitura que propõe Laplanche, o autoerotismo não seria anobjetal, mas constituído por um objeto na fantasia, agindo no interior do psiquismo como corpo estranho interno. Passar para o tempo reflexivo é, sobretudo, refletir a ação, interiorizá-la, fazê-la entrar em si.

Laplanche[xv] ressalta que no autoerotismo temos um corpo que, desviado de suas funções de autoconservação, se constitui como um eu-corpo, ainda sem fronteiras, aberto ao outro. Nesse momento, é um si fragmentado ainda muito atrelado ao corpo e ao outro. Porém, para que o eu se constitua como objeto total, como instância, faz-se necessária outra operação: a do narcisismo.

Freud[xvi] afirmara que no narcisismo a pessoa trata seu próprio corpo como objeto sexual, atitude presente em todos os seres humanos durante o processo de desenvolvimento. Mas qual seria a relação entre narcisismo e autoerotismo? É preciso supor que "uma unidade comparável ao ego não pode existir no indivíduo desde o começo; o ego tem de ser desenvolvido"[xvii]. Portanto, algo deve ser acrescentado ao autoerotismo a fim de provocar o narcisismo, uma nova ação psíquica. O narcisismo vem unificar o funcionamento autoerótico - sexualidade não ligada, não unificada. O narcisismo é uma colocação em forma do autoerotismo. Para Laplanche

o eu é "ligante", ele liga, ele é por definição total; para ele, trata-se de manter juntas, de reunir todas as suas pulsões autoeróticas, e ao mesmo tempo de contê-las, de conter o autoerótico; conter o erótico, eventualmente englobando-o, totalizando-o, mas também exercendo sobre ele, marginalmente, lateralmente, um efeito de moderação e de controle[xviii].

É a ação narcísica, a coagulação narcísica, que vem ligar essa sexualidade. O ego tem justamente essa função de síntese, englobando tudo o que pode assimilar, mas também excluindo de si tudo aquilo que não é capaz desse apropriar.

Nos textos mais explícitos de Freud, define-se [o narcisismo] como unificação do autoerotismo (por essência disperso), sobre um objeto único; mas sobre um objeto que é também "auto", um objeto que é sempre interno, "refletido", e é exatamente por isso que é batizado com o nome do herói do espelho, Narciso. Este objeto refletido, está, conjuntamente, numa série de encaixes sucessivos, o próprio corpo ou ainda uma certa imagem unificada do próprio corpo, o "eu" [xix].

Segundo Laplanche, para o pequeno ser humano o problema de se abrir ao mundo seria um falso problema, pois a única problemática que aí se coloca é antes a de se fechar, a de fechar um si, um eu. No início temos um eu aberto ao outro, sem fronteiras. O eu se coagula por projeção da superfície do corpo.

A ideia de operação narcísica unificadora do eu e a de sua relação com o investimento libidinal colocam problemas para o primeiro modelo da teoria pulsional freudiana, fazendo com que seja necessário repensar, reformular muitas das concepções elaboradas até então. Com a introdução da segunda teoria pulsional e da segunda teoria do trauma, torna-se premente a teorização da segunda tópica e especialmente da questão do ego, sua formação e suas funções. Assim, bem mais tarde, em 1923, no texto "O ego e o id", Freud oferecerá uma compreensão da constituição egoica levando efetivamente em conta a intrínseca relação entre ego e corpo.

Nesse trabalho, onde é sistematizado o modelo da segunda tópica, Freud considera que a formação do ego se dá sob influência do sistema perceptivo. "O próprio corpo de uma pessoa e, acima de tudo, a sua superfície, constitui o lugar de onde podem originar-se sensações tanto externas quanto internas"[xx]. Acrescenta Fernandes[xxi] que é o corpo próprio a fonte de todas as percepções, sejam elas internas ou externas. Ele se constitui entre o interior e o exterior, entre o eu e o outro.

Uma das maneiras pelas quais o corpo possui lugar privilegiado entre os outros objetos do mundo, segundo Freud, é através da sensação dolorosa. Esta possibilita um novo conhecimento sobre os órgãos, ou seja, através da dor chega-se à ideia de corpo próprio. Daí a afirmação de que o ego "em última análise deriva das sensações corporais"[xxii]. Nas palavras de Fernandes[xxiii], a corporeidade está referida a uma "anatomia" própria, singular, construída a partir do cenário fantasístico de cada um, encontrando suas origens na referência primordial ao outro. A emergência da subjetividade se faz segundo a lógica corporal da projeção. O corpo torna-se corpo próprio, dando acesso à primeira pessoa, ao si mesmo, a um eu unificado.

Mostra Anzieu[xxiv] que a experiência de superfície do corpo surge do corpo a corpo com a mãe, proporcionando na criança a construção de um limite entre o dentro e o fora, que funciona como garantia de integridade do envoltório corporal. A pele da criança é palco de experiências sensoriais, demarcando a superfície do corpo; sua representação no psiquismo vem dar contorno ao material psíquico. O círculo maternante circunda o bebê com um envoltório externo resultante de mensagens. Deixa um espaço disponível ao envoltório interno, superfície de seu corpo, lugar e instrumento de emissão de mensagens, pois ser um eu é sentir a capacidade de emitir sinais e ser ouvido pelos outros. Esse envoltório individualiza o bebê a partir do reconhecimento do outro que lhe trará a confirmação de sua individualidade sobre um fundo de semelhança. "Ser um Eu é sentir-se único"[xxv].

O autoerotismo é o solo originário da sexualidade, fundando o corpo sexual por meio de um movimento de apoio e desvio do corpo biológico. Por sua vez, o narcisismo é uma operação posterior, vindo unificar o corpo fragmentado do autoerotismo. Entretanto, ressalta Birman[xxvi], o autoerotismo não vem a ser completamente substituído pelo narcisismo, continuando a existir como modalidade de existência do sexual, ao lado do narcisismo. Porém, nessa oposição entre os dois registros, o autoerotismo fica subsumido à lógica do narcisismo. Quando esta lógica totalizante falha, ou melhor, quando há quebra da representação totalizada do corpo, dá-se um reinvestimento maciço do corpo fragmentado, investimento eminentemente autoerótico.

As queixas hipocondríacas dão mostras, através desse retorno a um modo de funcionamento autoerótico, da presença de um eu ameaçado em sua unidade, tentando sanar suas feridas.

 

Um corpo hipervigiado

A função de mediação materna é fundamental, pois a partir dela a criança adquirirá conhecimento de seu corpo, de suas necessidades, pulsões e afetos. Conforme desenvolve Aulagnier[xxvii], a nominação do corpo e de suas partes deve comportar uma fala erógena, fonte e promessa de prazer, e, ao longo desse processo, o bebê deve tomar conhecimento do prazer, desprazer ou indiferença que a mãe experimenta no contato com esses órgãos, partes e funções. Junto com o apelo, a criança recebe de volta uma mensagem sobre a emoção causada à mãe. É essencial que esta possa manifestar prazer em reconhecer a existência da criança. A apropriação dos enunciados maternos que nomeiam as partes e funções do corpo permite que venha a se formar no psiquismo da criança uma imagem unificada dele, ou melhor, nela antecipa a presença de um projeto de eu, como unidade.

O eu precisará se apropriar de sua experiência corporal e, por esse meio, tentar manter relações harmoniosas com seu habitat, condição necessária para sua existência[xxviii]. Desde o início da vida psíquica, a relação mantida com o corpo, com a representação psíquica que se forja dele, é conflituosa, marcada por uma ambivalência nunca totalmente superada. Normalmente esse conflito vem a ser silenciado pelos compromissos que o eu consegue realizar, sem, no entanto, impedir que ele reapareça na cena psíquica. Mas uma relação conflituosa entre eu e corpo pode não apenas se atualizar, mas persistir latente em todo sujeito, em função da indissociabilidade eu/corpo, garantida pelas representações através das quais o eu apresenta a si mesmo, se pensa, se investe. Esse processo não é natural, não se constitui de imediato e, sendo assim, o corpo sempre manterá certa autonomia em relação ao eu, o que lhe confere um caráter de exterioridade.

A autonomia do corpo em relação ao eu muitas vezes impor-se-á, e este tentará a todo custo inocentar e proteger o corpo. O eu fará tudo para encobrir a autonomia de poder de sofrimento e do veredicto de morte presentes no corpo. A não culpabilidade deste oculta e sublinha a presença da injunção paradoxal própria à relação persecutória: o eu é obrigado a investir, a proteger um lugar e um objeto que são ao mesmo tempo condição de vida e causa de morte. Se o paradoxo é acentuado, o eu acabará sobreinvestindo o corpo, colocando-o como vítima de sofrimento e não como sua causa. Tais aspectos estão fortemente envolvidos na problemática da hipocondria:

Temos aqui um dos fatores essenciais da hipocondria: esse sobreinvestimento narcísico de um órgão do corpo "agredido" pela doença e pelo sofrimento, e concomitantemente essa focalização do conjunto das demandas, queixas, reivindicações, sobre essa "dor" que ameaça seu corpo e da qual se exige ser liberado[xxix].

O que agride o corpo próprio seria da ordem de um corpo estranho radical, prova de um arrombamento operado no próprio espaço corporal, fazendo emergir uma lógica mais arcaica. As manifestações corporais hipocondríacas não são decorrentes de um dano orgânico ou mesmo de uma modificação "real" da saúde do corpo: são doentes imaginários.

Ao mesmo tempo que o investimento libidinal no corpo é essencial para o trabalho psíquico de representação das excitações pulsionais, por outro lado, esse movimento narcísico-hipocondríaco perturba a realização dessa função. Assim, pode vir a se desenvolver um olhar e uma escuta exagerados sobre o que se passa no corpo físico, sintoma básico da hipocondria. Nela assistimos a uma regressão ao autoerotismo, que possui, entretanto, caráter particular, pois permite, de certa forma, que seja afastado o risco de emergência de um estado de desamparo, de passividade extrema. Trata-se da tentativa do ego de se proteger de um vazio interno, ligado, em última instância, à impossibilidade de representação das excitações pulsionais. As excitações autoeróticas funcionariam como paraexcitação de tipo arcaico visando combater um vivido traumático.

A tentativa do sujeito hipocondríaco em teorizar detalhadamente sobre suas dores e males físicos pode ser entendida à luz das proposições de Ferenczi acerca do que ele denomina de bebê sábio. Observa o autor que: "O desejo de vir a ser um sábio e de suplantar os ‘grandes' em sabedoria e em conhecimento seria apenas uma inversão da situação em que a criança se encontra"[xxx]. O vivido traumático resultaria num amadurecimento precoce e repentino tal como os "frutos que ficam maduros e saborosos depressa demais, quando o bico de um pássaro os fere, e na maturidade apressada de um fruto bichado" [xxxi].

Conforme exploramos em outro artigo[xxxii], esse amadurecimento precoce seria determinado por um estado de abandono, resultante de uma relação mãe-criança desprovida do tato desse adulto, abandono cuja consequência no psiquismo da criança seria, dentre outras, o acionamento do mecanismo de clivagem onde: "Uma parte da sua própria pessoa começa a desempenhar o papel da mãe ou do pai com a outra parte, e assim torna o abandono nulo e sem efeito"[xxxiii]. A partir dessa cisão, certas partes do corpo passam a funcionar como representante da cena, espaço onde o vivido trágico vem a ser apresentado.

A exacerbada atenção do sujeito, a incessante auto-observação que dirige a seu corpo e as tentativas de explicação daquilo que supostamente o acomete no plano físico, levando-o a pressagiar grave doença, implicam haver uma parte dele identificada com a mãe, ou seja, com o objeto cuidador. A outra parte, o órgão doente, parece identificada com a criança desamparada, passiva diante do abandono e indiferença da figura materna e cujo mundo interno se vê exposto, portanto, a um transbordamento pulsional, à irrupção de um excesso perturbador do funcionamento psíquico.

 

Corpo doente: in-diferença/captura do outro

Na hipocondria o corpo e as sensações assumem a condição de existência desses sujeitos. É pelos seus males que eles se sentem existir. Negar suas doenças tem efeito devastador sobre a sua existência. É sobre este plano, que Eurema Gallo de Moraes e Mônica M. K. Macedo[xxxiv] elaboram a noção de vivência de indiferença.

Segundo as autoras, a indiferença ultrapassa em muito seu significado de desinteresse, desprendimento, desdém, desprezo, apatia, insensibilidade e negligência (Dicionário Aurélio). A indiferença é uma modalidade de falha no encontro com o semelhante, configurando-se como matriz do trauma. Trata-se de uma qualidade de violência imposta à criança pelo adulto em um tempo primordial de sua vida psíquica. Ela é a marca do não reconhecimento daquilo que seria mais próprio da singularidade do sujeito: seu existir. Quando há o predomínio do não reconhecimento da diferença pelo outro no encontro inicial, isso tenderá a se reproduzir na apropriação que a criança fará de seu sentido de existência.

O outro da vivência da indiferença não possui recursos de ligação afetiva em relação à criança, que se vê desamparada diante dessa situação. "A indiferença o impede de apresentar a diferença à criança. O investimento afetivo, como mola propulsora de um trabalho de ligação e interpretação daquilo que ataca a criança por dentro, não é realizado nesse cenário da indiferença"[xxxv]. Nesse sentido, podemos entrever que nessas situações permanece o ataque. A hipocondria nos leva a tematizar tal vivência uma vez que o corpo é atacado por um mal e o sujeito se vê à mercê desses agentes (por exemplo: germes, câncer, etc.), incapaz de empreender um trabalho de representação para os males que sente em seu corpo.

O efeito da experiência de indiferença é cristalização de uma situação de desamparo. No outro é evidenciado um prejuízo de sua capacidade afetiva a qual lhe permitiria perceber, traduzir e atender a demanda psíquica oriunda da assimetria própria ao desamparo infantil. Está em jogo no caso a alternância, instabilidade e fragilidade quanto ao reconhecimento da diferença, o que nos faz supor que uma relação veiculada pela intromissão desse outro ante o eu incipiente da criança. A indiferença do outro interferirá no acesso, por parte da criança, a um processo de diferenciação e autonomia.

A vivência de indiferença incrementa a condição de desamparo infantil. A existência de um sujeito psíquico é vinculada à necessária presença do outro; entretanto, nesse cenário há uma configuração singular de constituição do eu, que fica desapropriado de si mesmo e aprisionado na indiferença. Pode tornar-se refém de uma repetição, que atualizará a vivência de indiferença, instalando-se, assim, em seu funcionamento psíquico, uma compulsão à busca de si mesmo.

A violência do não reconhecimento do sujeito como diferente denuncia a precariedade da capacidade de investimento do outro. O investimento que implica a usurpação do direito de existir como tal é perturbador e invasivo. A indiferença endereçada à criança faz com que o eu a reproduza na intensidade de seus atos. Isso porque o núcleo do desamparo primitivo vem a ser atualizado em qualquer situação de vulnerabilidade psíquica durante a vida. No caso da hipocondria, o sujeito fica capturado na indiferença, a qual apenas incrementa o estado de passividade de seu eu, impedindo-o de ser o portador de seu corpo. Ele é atingido por diversos males sem que tenha controle sobre o que nele se infiltra.

As sensações corporais se constituem como o meio mais primitivo e expressivo do qual a criança pode se utilizar para marcar sua diferença em relação ao outro-materno. Através do corpo, impõe a individualidade do seu existir como ser singular. Entretanto, é preciso que o outro-materno reconheça essa assimetria - que inicialmente passa pelo corpo -, propiciando a constituição do sentimento do si próprio. Nesse primeiro momento, a diferença, embora possa ser negada pelo outro, se apresenta através da insistência das demandas corporais.

Com sua queixa de um corpo doente, o sujeito hipocondríaco tenta marcar a sua diferença em relação ao outro, embora as marcas de uma relação em Um estejam impregnadas em seu psiquismo: tenta se desapropriar desse outro em si, tóxico, que contamina seu corpo. Através das queixas corporais, tenta assegurar sua existência, mas também solicitar a presença do outro, que poderia atestar a sua própria existência singular. Esta dinâmica de sobrevivência subjetiva, pela dependência que gera, acaba desencadeando, paradoxalmente, uma dimensão persecutória. O corpo, por projeção, torna-se aqui um objeto perseguidor.

O estranhamento que marca a relação do hipocondríaco com seu corpo nos faz pensar, portanto, na intromissão de mensagens sexuais e sua não apropriação por parte do eu, gerando um núcleo perseguidor no mundo interno, verdadeiros enclaves, marcas traumáticas, e, pela via da projeção, de ataque à dimensão corporal. Sublinha Cardoso[xxxvi] que a noção de enclave remete à ação do poder do outro exercido no mundo interno; é a colocação no interior de elementos não metabolizáveis e de caráter imperativo. A formação desses enclaves nos remete à ideia de uma cultura pura de alteridade, funcionando no psiquismo como exterioridade.

Os enclaves presentes no psiquismo constituem elementos intraduzíveis das mensagens enigmáticas, sem a possibilidade de serem tratados pelo ego que, desta forma, vai repeti-los de maneira compulsiva e fragmentada. São mensagens irredutíveis, imóveis, bloqueadas devido à impossibilidade de serem recalcadas ou substituídas por outra coisa. Os enclaves se constituem como primeiro depósito de traços do outro, de impressões traumáticas, índices que tenderão a ressurgir no psiquismo de maneira quase imutável.

Laplanche julga que esses elementos não inscritos e, portanto, não traduzidos, teriam permanecido à flor da consciência[xxxvii]. Seriam mantidos, por uma fina camada de defesa consciente, funcionando segundo um modo operatório. Daí a criação das teorias médicas pelos hipocondríacos para dar conta das sensações que os assolam. Trata-se, aqui, de dominar o inapreensível pelo ego diante da irrupção do excesso traumático. O corpo se constitui como objeto de investigação, nele se encarnando, via projeção, os enclaves, os elementos não representados, nem recalcados. Busca-se, assim, conhecer, tornar familiar esse estrangeiro que se apossou do corpo, numa estranha e paradoxal estratégia de sobrevivência. O superinvestimento do órgão doente do hipocondríaco parece ter a função de manter um capital narcísico elementar.

Na hipocondria, o corpo e suas sensações marcam a condição de existência desses sujeitos; é pelos males corporais que se sentem existir. Através da incessante queixa de um corpo doente, o sujeito tenta marcar sua diferença em relação ao outro, tenta assegurar sua existência, mas, através dela, fazendo também intenso apelo ao outro.


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Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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