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ÍNDICE TEMÁTICO 
55
Tempo, Narração e Política
ano XXVIII - Dezembro de 2015
151 páginas
capa: Marcelo Cipis
  
 

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 EDITORIAL

Editorial

Letter from the editors

O número anterior da Revista tratava das bordas da Psicanálise, dos sujeitos excluídos e invisíveis e dos desafios feitos à clínica e à teoria na contemporaneidade.


Tempo, história e estórias são a marca deste número: entre o passado petrificado e repetitivo onde não há passagem do tempo e o tempo histórico. Temporalidades psíquicas, narrativas e política.
Encerrada a composição desta Percurso, linhas foram se desenhando na conversa entre os autores, e, mais uma vez, o conjunto dos textos surpreende: muitos deles parecem bordear esses temas em busca de seu núcleo. O enlace entre o singular e a cultura nas entranhas do inconsciente, obstáculo para que o tempo passe, surge como questão para os autores.


No fechamento da edição, tivemos que enfrentar a triste notícia do falecimento de Maria Ângela Santa Cruz, colega do Departamento. Ângela manteve uma atuação longa e seriamente implicada na formação de novos profissionais, na criação da nossa associação de psicanalistas e, junto à equipe gestora da Clínica do Instituto Sedes Sapientiae, desenvolveu um trabalho primoroso e dedicado até o final de sua vida.


O texto de aberturadeste número, escrito em 2008, é a homenagem que a revista Percurso presta a Ângela: apaixonada pelo seu ofício, participou da construção do Projeto Clínico-Ético-Político da Clínica Psicológica, projeto que criou um novo modelo institucional em que os estagiários dos cursos encontram uma prática de serviços efetivamente voltada para a população em busca de atendimento. Prática que atesta os efeitos transformadores na formação de alunos e profissionais.


Em sintonia com as inquietações de Angela, o leitor encontrará a ampliação do espectro da psicanálise e de sua potência desalienadora tanto nos relatos clínicos quanto na entrevista de Kaës, que apresenta uma concepção de aparelho psíquico como aparato para dar conta do processo de aparelhagem dos espaços psíquicos de sujeitos que constituem grupos. Kaës fala de três espaços ao se referir ao grupo: o do sujeito singular, o do grupo como entidade, e o dos laços subjetivos. Essas três dimensões dariam conta de uma explicação do mundo convulsionado em que vivemos? Conforme a concepção do autor, é preciso hospedar, nomear e pensar a fim de evitar a desintegração do laço social.


As contribuições de André Green na análise de um quadro de Leonardo da Vinci servem de disparador para Silvia Alonso, que entrelaça dois temas caros à clínica: o das inscrições psíquicas e o das diferentes temporalidades no psiquismo. Estes são contextualizados na obra de Green, articulados ao redor das ideias de presença/ausência do objeto e constituição da estrutura enquadrante, contribuindo para pensar a especificidade da situação analítica quando se parte do informe em direção ao surgimento de alguma figura.


A narrativa de um caso clínico em "O manejo clínico da loucura histérica" também nos fala dos impasses do sujeito diante de sua história. O artigo aborda os dilemas do analista na condução de uma análise na qual o delírio surge como a resposta possível: como ultrapassar a condição de vítima do delírio à culpa, e desta à de responsabilidade por sua história, diante do assassinato do próprio filho?


Conversa com este texto o de Renato Tardivo, que dialoga com o filme Abril despedaçado. A questão da temporalidade reaparece, "circular e constante, de ritmo ditado pelos bois [...] que roda e roda e não sai do lugar". Passado petrificado, hábito corrosivo e repetição, o texto avança tentando responder à pergunta sobre o que permite romper o círculo da repetição e a possibilidade de dar as costas a um destino já traçado - possibilidade maior da psicanálise.


Tal como abordado no texto O sentido clínico da história, o conjunto dos artigos caracteriza a psicanálise como um dos terrenos onde o conhecimento mantém laços com a ideia da história como mestra da vida. Seriam as inscrições igualáveis a um tempo que contém múltiplas temporalidades onde a história individual e a coletiva se rearranjariam continuamente?


Se Freud foi um crítico da modernidade, postulou o sujeito da psicanálise, sujeito neurótico, dividido entre seus desejos e os imperativos da moralidade e, se para se tornar um sujeito histórico no sentido político da palavra deveria apropriar-se das suas determinações, podemos perguntar: seria a psicanálise uma ciência burguesa a serviço da manutenção do status quo, ou um instrumento possível de resistência?


Pensar a psicanálise contribuiria para a mudança dos destinos da sociedade e da história?

Se pensamos que as inscrições no psiquismo singular são indissociáveis da cultura e do coletivo, trabalhar com as diversas temporalidades psíquicas também é trabalhar com a história coletiva.


Em um momento político de intensa polarização como o que vivemos, nos perguntamos sobre as formas pelas quais o psicanalista pode romper o circuito da repetição e sustentar narrativas renovadas na cultura.

Boa leitura!


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Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
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