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Resumo
Resenha de Marion Minerbo, Transferência e contratransferência, São Paulo, Casa do Psicólogo, 2012, 298 p.


Autor(es)
Cynthia Peiter
é psicanalista, membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, mestre pela usp, membro filiado da sbpsp.

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 LEITURA

Em cena, a criança-no-adulto

[?Transferência e Contratransferência?]


On stage, the child-in-the-adult
Cynthia Peiter

A importante contribuição de Marion Minerbo para o tema transferência e contratransferência, em recente publicação de mesmo nome lançada na Coleção Clínica Psicanalítica, Casa do Psicólogo, em 2012, convida-nos a acompanhá-la em seus estudos. Estes se originam em sua experiência com grupos de seminários teóricos e clínicos na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e em outros grupos psicanalíticos.

 

O livro se inicia com uma apresentação de autores e artigos, que resulta de escolha pessoal. Para muito além de uma mera revisão da bibliografia, a autora nos traz seus diálogos com teorias e com a forma pela qual estas se entrelaçam com sua prática e seu próprio modo de ser na clínica psicanalítica. E por que não dizer? Em sua transferência com aquelas e com a clínica, que transparece em uma escrita viva, agradável e enriquecedora.

 

A seleção de textos segue uma ordem aparentemente cronológica, que corresponderia a um histórico amadurecimento teórico na abordagem dos temas. Entretanto, surgirão idas e vindas entre os clássicos e seus comentadores, que se articulam com vinhetas clínicas, movimento de leituras e reflexões, que, de certo modo, refletem uma perspectiva adotada pela autora em relação à transferência: "transferência implica a desconstrução de categorias temporais - passado e presente - até então muito bem definidas. Agora, passado e presente se superpõem" (p. 22).

 

A obra traz as primeiras referências ao texto freudiano de 1895, que descreve a observação do fenômeno transferencial entendido na época como um "falso enlace" (p. 22). Nos comentários sobre esse termo, utilizado por Freud, é mencionada a formulação de Neyraut (1974-2008), que se refere ao fenômeno transferencial como quid pro quod. A autora faz sua livre tradução dos termos em latim, nomeando a transferência como "o quiproquó do inconsciente" (p. 22). No seu entendimento, os termos quid pro quod ganham o sentido inspirador de "aqui no lugar de lá, agora no lugar de então" (p. 22), facilitando introduzir a fundamental compreensão dos paradoxos da temporalidade da escuta psicanalítica, segundo a qual, no discurso do paciente, há diferentes tempos que se sobrepõem, o que possibilita o ressurgimento, na cena analítica, do passado atualizado.

 

A leitura criativa que a autora nos oferece das teorias opõe-se a eventuais interpretações dogmáticas. Como ela nos diz, na segunda parte do livro, ao comentar situações clínicas: "uso a experiência e o repertório teórico de que disponho (e que procuro ampliar continuamente), sem jargão e conforme a necessidade. A teoria nunca é aplicada ao paciente de fora para dentro. Ela surge quase como associação livre, de dentro para fora" (p. 166). E é dessa forma também que Marion Minerbo faz suas reflexões a respeito da prática, ao articular material clínico com teoria e técnica psicanalíticas, de modo a termos em mãos um belo interjogo teórico-clínico.

 

O leitor é lembrado de que a ideia dos tempos que se superpõem já se apresentava para Freud, por ocasião do Caso Dora, quando ele insistia na busca por uma verdade na vida sexual infantil, privilegiando a importância do polo infantil sobre o polo atual. Mas o próprio Freud logo teria observado que a transferência oscilava entre presente e passado. A situação clínica passara então a ser compreendida como "uma cena completa, na qual estão presentes a criança-no-adulto e seus objetos primários" (p. 30). A criança-no-adulto e seus objetos primários serão elementos-chave no olhar clínico da autora, para sua compreensão da transferência, como será elucidativamente explicado na discussão dos casos clínicos.

 

Na abordagem do tema da criança no adulto, explorado em seus seminários, Marion Minerbo se fundamenta em diversos autores e, em primeiro lugar, faz referência a Ferenczi, que correlacionava a possibilidade de ser hipnotizado com a capacidade de adotar, em relação ao hipnotizador, uma posição sexual infantil, de modo que "em todo adulto sobrevivem a criança e seus complexos, prontos a serem acionados por quem souber despertar a transferência" (p. 42). Dirige sua atenção para o modo pelo qual a criança-no-adulto se atualiza na situação analítica viva, protagonizada por analista e paciente: "escutar a criança-no-adulto - o infantil - me parece ser a condição básica para se conseguir uma postura analítica" (p. 42).

 

Marion Minerbo prossegue, assinalando que as concepções iniciais de Freud sobre o fenômeno transferencial começaram a lhe trazer impasses metapsicológicos, em função da complexidade do estatuto do objeto, que teriam levado analistas da década de 1940 a ampliações conceituais. Estas, consequentemente, tê-los-ia feito conceber a situação analítica como dual, abrindo caminhos para o desenvolvimento da noção de que cada um só é o que é em relação ao e na relação com o outro, ainda que seja o outro-dentro-de-nós, no dizer de Balint. Após citá-lo, a autora adverte, porém: "a situação analítica não é dual: ela não é formada propriamente por duas pessoas. Pensar assim eliminaria a ambiguidade essencial à situação, condição necessária para que a análise aconteça" (p. 38).

 

Conduzindo-nos ao âmago desta questão crucial, faz-nos ver modos pelos quais o analista não está presente como uma pessoa em uma relação quotidiana, "já que empresta seu corpo e alma para serem moldados pela transferência" (p. 38). Na discussão, que não é possível reproduzir aqui, ela destaca as inovações trazidas pelo casal Baranger, que em 1961 introduziu o conceito de campo para refletir a respeito da situação analítica. O campo seria estruturado pela fantasia inconsciente compartilhada pelo par, e nenhum de seus componentes poderia ser inteligível sem que se levasse em conta o outro.

 

A contribuição de Madeleine e Willy Baranger é aproximada da que é trazida pela Teoria dos Campos, de Fabio Herrmann. Com efeito, na obra deste pensador da psicanálise, campo, em uma das definições retomadas pelas palavras da autora, "é um conceito epistemológico que se refere a um inconsciente operacional, pura lógica das emoções que determina as relações, sem qualquer conteúdo" (p. 39). A associação com o uso do mesmo nome pelo casal radicado na argentina e ligado à tradição kleiniana é feita por meio do conceito de fantasia inconsciente: o conceito de Fabio Herrmann "poderia ser aproximado do conceito de fantasia inconsciente porque ambos se referem à ordem de determinação da vida emocional" (p. 39).

 

Vale ressaltar ainda as reflexões e os questionamentos, desenvolvidos no livro, sobre o lugar ocupado por quem está atrás do divã, sobre seu psiquismo, sua contratransferência. Por exemplo, é comentado o pensamento de Ferenczi (1909), numa das abordagens da maneira pela qual aspectos reais da pessoa do médico funcionam como suporte para o deslocamento do Complexo de Édipo. Marion Minerbo assinala que traços do analista podem remeter o sujeito para características de seu objeto primário e para seus modos de vincular-se com este. Define precisamente o que entende por objeto primário: "a identificação primária que resulta da interpretação que a psique infantil fez (ou não conseguiu fazer) de todas as experiências reais - tóxicas ou não - vividas nos vínculos intersubjetivos precoces. Tais identificações instituem para o sujeito a matriz da qual ele irá ler o mundo, e a si mesmo, e também como irá reagir a essa leitura. É isso que determina as formas de ser e de sofrer singulares que irão se atualizar na situação analítica" (p. 170).

 

No terreno fértil que amplia o conceito de transferência à luz da contratransferência, teria tido início uma concepção sobre o espaço indissolúvel formado pelo psiquismo do paciente e do analista - o campo transferencial-contratransferencial.

 

A partir do fim dos anos 1940 e início dos 1950, sobretudo, textos relevantes sobre contratransferência foram produzidos. A autora dialoga extensamente com Racker, Winnicott, Betty Joseph e outros, destacando alcances e limites do trabalho teórico e clínico destes autores e refletindo sobre os aspectos que, considerados, pareceram-lhe proveitosos em sua clínica. Dou exemplo de um dos diálogos da autora: referindo-se ao fato de Marilia Aisenstein (2011), em comentário sobre um texto de Guyomar (2011), lembrar o significado do termo gegen (contra), em alemão, de oposição, mas também indicador de proximidade, como em "eu me apoio contra a parede" (p. 47), Marion Minerbo nos diz gostar desta imagem que, a seu ver, "expressa ao mesmo tempo o contra da oposição e o contra da sustentação dada pela proximidade" (p. 47). Valoriza o sentido de apoio desta segunda acepção: "se não houvesse parede eu não poderia me apoiar contra ela - se não houvesse contratransferência, a transferência não teria onde se apoiar e não poderia se desenvolver" (p. 47). A duplicidade de significados apontaria, assim, para uma das funções da contratransferência, a de suporte para o trabalho clínico.

 

A autora também dirige sua atenção para aquilo que convoca o analista e o induz "a agir a identificação complementar, aquela que tem a ver com o inconsciente parental, e que funcionou como um ‘molde' para a identificação que está sendo agida pelo paciente" (p. 51). Tal tipo de manifestação transferencial-contratransferência, tão fundamental, teria sido apresentada por Freud, por meio da expressão agieren. O ato, o agieren, serviria como suporte fundamental para a construção do processo elaborativo. A convocação para um agir específico, explicitada, indicaria seus efeitos no estabelecimento de estratégias de intervenção clínica, assim como em formulações diagnósticas sobre o modo de ser e de sofrer de cada paciente.

 

Para Marion Minerbo, escutar psicanaliticamente significa tentar reconhecer "‘quem' - qual identificação - está falando pela boca do paciente, e qual é a identificação complementar que ela (a identificação) nos convida a atuar na contratransferência" (p. 22-23). Vale salientar que, neste modo de pensar, "contratransferência e transferência são posições identificatórias solidárias e complementares, onde uma desenha e dá sentido à outra" (p. 14).

 

A autora detém-se, ainda, no temário das diferentes formas de recordar. Salienta que a repetição pode ser compreendida também como uma recordação que não ocorre só no âmbito psíquico. A forma pela qual a repetição transferencial se mostra oferecer-nos-ia notícias sobre os modos de ser e de sofrer do paciente, favoráveis a nossa prática, possibilitando um tipo de diagnóstico diferencial. Há um agieren que coloca em ato o desejo recalcado, no caso de uma transferência neurótica. Mas há também a atuação, derivada da compulsão à repetição, que remete a um trauma, "experiência emocional dolorosa que excede a capacidade de ligação, isto é, a possibilidade de fazer sentido da experiência e integrá-la na vida psíquica" (p. 64). Em relação à clínica da pulsão de morte, na qual a demanda seria outra, é considerada a "transferência não neurótica, ligada a distúrbios narcísico-identitários" (p. 64).

 

O estilo de intervenção, apoiado nos fenômenos transferenciais e contratransferenciais, é ilustrado também pela imagem da construção de um espaço para a encenação do teatro psíquico do paciente e, nessa medida, redimensiona a técnica da interpretação transferencial clássica. Muito sensível à imagem oferecida sobre a situação transferencial como cena a ser encenada, cita a tese de doutorado de Eliana Borges Pereira Leite (2005), ainda inédita, a seu ver bela, além de esclarecedora. Neste texto, denominado "A Escuta do corpo do analista", encontra "elementos que esclarecem a ideia de transferência como cena, fazendo uma aproximação entre o trabalho do ator e o do analista" (p. 31). Uma semelhança que permite a aproximação entre o trabalho do analista e do ator estaria no fato de que ambos "disponibilizam a matéria viva de seu psiquismo, esvaziando-se de sua ‘pessoa real' para dar vida a um personagem" (p. 31-32). No caso dos distúrbios identitários onde se observa um empobrecimento simbólico, tem valor especial e importante reconhecer que o analista interpreta uma personagem, sem saber qual, e "oferece sua contratransferência para que a transferência possa ganhar corpo" (p. 33).

 

Enquanto Freud falava em retorno do recalcado, para transferências neuróticas, Roussillon teria ousado falar em um tipo de retorno do clivado, revelado na transferência, por pacientes que teriam falhas na possibilidade de representação. Do encontro de Marion Minerbo com este autor, podemos notar que resulta uma imbricação conceitual bastante elucidativa, no que diz respeito ao entendimento das manifestações transferenciais narcísico-identitárias. A contribuição de Roussillon sobre os processos de simbolização traz consequências clínicas e redimensiona a técnica de interpretação transferencial, segundo a autora, que aponta para sutilezas na abordagem de casos de distúrbios narcísico-identitários. Para estes, ela considera que se faz necessária uma ajuda essencial no processo de simbolização primária do que foi clivado.

 

Marion Minerbo traz outros convidados para a discussão de questões como a mencionada acima, proporcionando ao leitor o prazer em acompanhá-los, apesar da gravidade dos assuntos. Seguem-se os diálogos, imperdíveis, com Winnicott, Bion, Ferro, Green, Ogden e Dispaux e, dentre eles, os que contêm contrapontos com Klein e Strachey sobre interpretação transferencial. Para este último autor, interpretação mutativa, que se dá "quando a transferência tem um colorido mais psicótico" (p. 82), e o paciente não tem senso de realidade para perceber a natureza efetiva ou real do analista.

 

Um dos aspectos valiosos na leitura deste livro, a meu ver, está em presenciarmos a delicadeza no manejo clínico, que encontramos em exemplos como este: "O analista procura as palavras para descrever essa sensação que brota no seu corpo-alma e finalmente acha uma que lhe convém: Joana imita os outros" (p. 256). Em meio a suas descrições, após tratar das possibilidades de um diagnóstico diferencial, a autora-supervisora pergunta e responde: "E como concluir o caso, a partir deste diagnóstico diferencial? Como estratégia geral, o analista precisaria basicamente ‘ser de verdade' e fazer contato com o que lhe parece ‘ser de verdade' em Joana" (p. 256-257).

 

Citando uma observação feita com humor por Fabio Herrmann, Marion Minerbo nos adverte de que "não é prudente cortar o galho em que estamos apoiados"! (p. 120). Realiza um trabalho interpretativo que, originando-se no espaço entre dois psiquismos, tece tramas associativas capazes de criar continentes psíquicos que, por sua vez, favorecem efeitos transformadores. Sugere, tendo ideias de Ogden e Dispaux a seu lado, formas de trabalhar, nas quais faz uso de certa liberdade clínica, que procuram estabelecer um essencial espaço de sonho, como etapa anterior e necessária para o continuum do processo de simbolização.

 

A autora trabalha a experiência com colegas em seminários clínicos e, através dessa elaboração, temos o privilégio de assistir à encenação da criança-de-cada-paciente e aprendemos formas de reconhecer o objeto primário. Este ganha corpo por meio da matéria psíquica oferecida pelos analistas. Retomando o exemplo acima, da paciente Joana, que imita os outros, presenciamos a afirmação segundo a qual "ela mesma se descreve como ‘uma Maria vai com as outras' [...] de alguma maneira, ela sabe que é apenas um simulacro de uma garota normal: uma pessoa que imita a vida, mas não a vive" (p. 255). Não é possível prosseguir, mas espero ter sugerido que o analista sob supervisão traz o que é vivenciado no campo transferencial e a autora permite que acompanhemos a situação, representada aqui por um flash. O leitor poderá ir adiante, em suas descobertas, por meio da exposição dos casos clínicos, estudados em conjunto em seminários grupais, e em uma supervisão individual, correspondendo esta a todo um capítulo.

 

Não posso deixar agora de destacar mais uma deliciosa imagem que nos é oferecida por Marion Minerbo, ao citar Fabio Herrmann, que compara o trabalho do analista como o nado de peito, que ocorre em dois tempos: o primeiro, em que o analista mergulha no material encenado pelo paciente, escutando a convocação que este lhe faz, dando corpo e forma à transferência; o segundo, em que ele emerge para respirar e contemplar o conjunto, levando em consideração o que surgiu. Este segundo tempo, para mim, equivale ao momento, tão benéfico, de leitura das discussões clínicas realizadas e comentadas, oportunidades de reflexão grupal, que proporcionam recursos para que o analista possa responder ao paciente, a partir de um lugar de não identificação com seu objeto primário.

 

Os casos estudados recebem títulos que sugerem, nas entrelinhas, modos pelos quais os analistas relatam suas vivências com os analisandos, formas de compreendê-las e suas respectivas ressonâncias nos grupos de supervisão. Elementos verbais e não verbais, afetos que podem haver brotado do tom de voz do analista na narrativa do caso, o clima emocional que o relato produz ou elementos contidos na estrutura das interpretações trazem informações preciosas sobre as características do campo em jogo e entram na composição de títulos sugestivos. Temos, então: "A Tontura de Jasmin", "Ufa! Agora vai", "Jade falava, falava, falava", "O amor impiedoso de Jairo", "Não tentar salvar Juliana" e "Joana, que parece, mas não é".

 

No capítulo final, "Transferências cruzadas e complementares no cotidiano", quero ainda chamar a atenção para um dos temas atuais com que deparamos nesta obra. Por exemplo, "trabalhando o conceito de transferência na vida cotidiana" (p. 277), Marion Minerbo faz suas reflexões psicanalíticas em relação ao funcionamento de indivíduos e de grupos diante de um líder e vice-versa. Investiga a manifestação transferencial dirigida a líderes que, quando manipulada, constitui o uso perverso da transferência e evidencia toda a potência do fenômeno transferencial. Porém, para sugerir sem generalizar, finalizo com este exemplo das análises que encontramos: "é também a partir de uma posição infantil que o poderoso aceita a atribuição de estar acima do bem e do mal, fazendo transferência com os que o cercam e demandando deles atenção contínua" (p. 289). E, mais, sobre um tipo de personagem presente na mídia contemporânea: "A criança-na-celebridade, por exemplo, passa a demandar continuamente os holofotes reverentes da mídia, isto é, de demonstrações de amor e de como ‘é especial'" (p. 289).


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