EDIÇÃO

 

TÍTULO DE ARTIGO


 

AUTOR


ÍNDICE TEMÁTICO 
42
O erro
ano XXII - junho de 2009
208 páginas
capa: Daniel Pereira Leite Palenewen
  



Daniel Pereira Leite Palenewen.
Sem título.
Fotografi a. Chefchaouen, Marrocos, 2008  dependedopontodevista.blogspot.com
capa: Daniel Pereira Leite Palenewen

voltar ao acervo








EDITORIAL  
Este número de Percurso é temático. Enviamos uma carta a todos os leitores da revista, convocando-os a escrever a respeito do tema O erro. Para nossa (grata) surpresa, os artigos que foram chegando abordaram o erro nos mais diversos vieses dentro do campo psicanalítico, e dois deles na literatura. Em que medida a noção de erro pode ser assimilada à Psicanálise? O erro é necessário? O erro é estratégico? É errância? Poesia? Vagar? Conceber a utilidade do erro é errar?
 
TEXTOS  
Este artigo examina de modo crítico a posição de I. Grubrich-Simitis sobre a hipótese fi logenética de Freud, apresentada por ela como uma via de reconciliação entre teoria das pulsões e teoria do trauma, na gênese da pulsão sexual. O artigo demonstra como, ao contrário, a teoria da sedução generalizada elaborada por Jean Laplanche permite situar o trauma na origem da pulsão sexual, sem negligenciar nenhum traço fundamental do inconsciente dinâmico, nem se referir à hipótese fi logenética, a qual apresenta numerosos escolhos sobre os planos epistemológico e axiológico.
ABSTRACT
This paper critically reviews the position of I. Grubrich-Simitis on Freud’s phylogenetic hypothesis, presented as a way to reconcile drive theory and trauma theory in accounting for of the source of the sexual drive. The paper argues that Jean Laplanche’s theory of generalized seduction allows for a much better understanding of the position of trauma at the source of the sexual drive, without leaving aside any fundamental aspects of the dynamic unconscious and without referring to the phylogenetic hypothesis, which shows numerous fl aws at the epistemological and axiological levels.
 
Ao longo dos tempos em que se realizam, a prática e a teoria psicanalíticas obedecem a um movimento assintótico; ao enfocar, particularmente, o lugar do analista e seu funcionamento na clínica, fica evidenciado o caráter de falibilidade na mesma, que é determinado pela própria atenção flutuante; isto não impede que se circunscreva o que a autora denomina de um campo de erros.
ABSTRACT
Along the time they are accomplished, psychoanalytical practice and theory comply with an asymptotic movement; focalizing specially the analyst’s place and clinical work, it becomes evident the failing character involved, determined by suspended attention; this do not prevent the circumscription of what the author calls an error’s field.
 
Ao contrário do usual, Freud, que produzia seus escritos com rapidez e sem vacilações, empenha-se em redigir, entre 1908 e 1911, o que em sua literatura epistolar e da maneira abreviada ele chama de “Methodik”. O projeto será abortado, dando lugar aos pequenos artigos técnicos publicado a partir de 1911. Para além do reconhecido pudor de escrever sobre a técnica psicanalítica, procura-se aqui explicar essa indecisão de Freud como resultante das novas aquisições ocasionadas pela neurose obsessiva: nesse sentido, a análise do “Homem dos Ratos” representa também um marco que anuncia o fim de uma “época de ouro” para a psicanálise.
ABSTRACT
Unlike his usually fast and non-hesitating way of writing, Freud strives to compose, between 1908 and 1911, a text he refers to in his letters as “Methodik”. It will finally be aborted, giving place to short technical articles published from 1911 on. Over and abo- ve his admitted modesty in writing about psychoanalytic technique, the author tries here to explain Freud’s vacillation as a consequence of new acquisitions brought up by his study of obsessive neurosis: in this sense, the analysis of the “Rat man” represents a landmark an- nouncing the end of the “golden age” for Psychoanalysis.
 
Este artigo considera o fator econômico na clínica psicanalítica a partir de uma articulação entre implicações clínicas do conceito de pulsão de morte, ideais sobre o trauma em Ferenczi e movimentos de regressão envolvidos nos processos do sonho. Está em foco o trabalho de Freud de 1920, “Além do Princípio do Prazer”, na perspectiva de um retorno freudo-ferencziano da psicanálise atual, ou seja, retorno à escola de Ferenczi, em sintonia com a escritura freudiana. Os movimentos regressivos do psiquismo serão o elo teórico cuja implicação técnica é discutida. Finalmente, pretende-se estabelecer uma articulação entre o sonho e a atenção-flutuante a fim de mapear o lugar do analista na clínica da psicanálise: um lugar na contramão.
ABSTRACT
This article considers the psychoanalytic practice from the economic point of view, through an articulation between clinical implications of the death-drives (death-instincts) con- cept, ideas about trauma in Ferenczi and regression move- ments related to dream processes. It focuses on Freud’s “Beyond the Pleasure Principle”, from the perspective of a Freudian-Ferenczian return of the current psychoanalysis, that is, a regress to the Ferenczi’s school, in accordance to Freudian writtings. The psychic regressive movements are the theoretical bond whose technical effects are on debate. Even- tually, we suggest an articulation between dream processes and the even hovering attention to figure the analyst role in the psychoanalytical practice: a place against the flow.
 
Partindo da constatação de que o “erro” pode ser a única via para conduzir ao “acerto”, considera-se que o analista procura ajustar o foco de sua escuta de modo a identificar as várias manifestações do infantil. Este texto é um álbum de fragmentos clínicos obtidos a partir de diferentes focos sobre o discurso do analisando.
ABSTRACT
Considering that a "mistake" may be the only way to a better understanding of the analytic situation, the analyst tries to adjust the focus of his listening to the child within the patient. This paper is a collection of clinical vignettes that illustrate this idea.
 
O artigo aborda a questão do erro a partir de uma tradição dualista de pensamento que pretende se estruturar em pares antagônicos. O texto se encaminha no sentido de colocar em xeque tal dicotomia, relacionando essas vertentes com o advento da modernidade e a releitura do erro como possível desvelamento e posicionamento subjetivo. Desse encadeamento, ao final, interroga a possibilidade de estabelecimento de um estatuto de erro que serviria como limite real ao infinito jogo de oposições.
Palavras-chave erro; psicanálise; dicotomia; complexidade; limite; Lacan.
ABSTRACT
The paper focuses on the question of error from a dualist tradition of thinking which intends to symbolize itself in antagonic pairs. The text progresses in the sense of keeping in check this dichotomy, relating these paths to the arrival of Modernity and the rereading of error as possible unveiling and subjective positioning. From this concatenation enchaining, at the end, asks about the possibility of settlement of an error statute which could serve as real limit to the infinite interplay play of oppositions.
 
Desterros, o barroco é arte de crise. Ganha terreno variando, se bifurcando, criando fronteiras para habitá-las e ir além. Pela convocação dos sentidos, com a criação de formas hiperbólicas que tenham a amplitude de expressar proposições paradoxais. A repetição, o excesso, a proliferação mobilizam para travessias antes impensadas. Eternidade e finitude estão em jogo e, para sua execução, corpo e alma vêm à cena em infinitos movimentos de dobras, desdobras, redobras.
ABSTRACT
Exiles, the baroque one is crisis art. It gains land varying, branching off, creating borders to inhabit them and to go beyond. For the invocation of senses, with the creation of hyperbolic forms that have the amplitude to express paradoxical proposals. The repetition, the excess, the proliferation mobilize for before inthinkable passages. Eternity and finitude are in game and, for its execution, body and soul come to the scene in infinite movements of folds, unfolds, refolds.
 
Este artigo tem como objetivo discutir o erro no romance de Marcel Proust. O que configura um erro em um romance como Em busca do tempo perdido? Poder-se-ia dizer que o acerto é o que respeita aí o jogo retórico da ficção, ao passo que o erro é o que revela aspectos falhos desse jogo. Veremos, contudo, que os virtuais erros encontrados no romance não desmerecem sua construção, mas antes salientam seu caráter composto ou construído.
ABSTRACT
This article aims to discuss the mistake in Proust´s composi- tion. What would configure a mistake here? It could be answered that the right would be the respect to the rhetorical of fiction, whi- le the mistake would be what would reveal the lie of this rhetorical game. But we will see that the writer’s virtual mistake in the novel doesn’t disqualify this composition, or else he points out its com- pound form.
 
Neste artigo a autora trabalha o conceito de erro necessário, de Fabio Herrmann, em suas perspectivas clínica e ontológica. O texto explica como, no pensamento da Teoria dos Campos, é a conjunção dos conceitos de erro necessário e mentira original que permite a reflexão sobre o originário do nascimento do humano no homem e na cultura.
ABSTRACT
The author considers Fabio Herrmann’s concept of necessary error in its clinical and ontological perspectives. She explains how the conjunction of the concepts of necessary error and original lie allows for a specific discussion, pertaining to the question of the psychoanalytical concept of the original related to the birth of hu- man sense in man and culture. The framework of the article is the Multiple Fields Theory.
 
Este trabalho trata da necessidade e da tentativa de evitar o erro no processo analítico. Se, por um lado, o analista deve evitar o erro por meio da observação rigorosa dos fundamentos metapsicólogicos, por outro, precisa permitir-se errar no sentido de vaguear, de andar sem rumo certo, deixando-se levar pela errância decorrente da regra fundamental a que ele e seu analisando estão submetidos.
ABSTRACT
This work is about both the need to avoid mistakes and the possibility of doing so during the analytical process. On one hand, we should try to avoid errors by sticking as firmly as possible to the metapsychological foundations of the treatment; on the other, the analyst must not fear to be wrong, in the sense of wandering around, of not knowing where he is going, of allowing him/herself to be mis- led by the natural wandering that characterizes the fundamental rule to which both members of the couple are submitted.
 
As personagens do conto “O escorpião e a tartaruga”, de Fabio Herrmann, participam do denominado Projeto P e demonstram a epistemologia da Psicanálise explorada pela Teoria dos Campos: não se está particularmente envolvido com o resultado obtido pelo método psicanalítico, mas com a forma de produção do conhecimento adquirido. Tanto o personagem Prof. Nigrius como Herrmann lançam mão de um erro necessário para levar a cabo seus respectivos projetos P – de Piltdown no caso de Nigrius e Psicanálise no caso de Herrmann.
ABSTRACT
The characters of the short-story “The scorpion and the tortoise” by Fabio Herrmann participate in a denominated Project P, and in doing so they demonstrate the epistemology of Psychoanalysis as discovered by the Multiple Fields Theory: the emphasis is not on the result obtained by the psychoanalytic method, but on the form by which new knowledge is produced. Both the character Prof. Nigrius and Fabio Herrmann strategically make use of a necessary error to address their respective Project P’s – for Piltdown in Nigrius’ case and Psychoanalysis in Herrmann’s.
 
O início da formação psicanalítica se apresenta como um impasse de grandes proporções: sem o apoio de modos “correios” e “adequados”, determinados a priori, de se conduzir um processo analítico, e também sem a possibilidade de se situar como “pré-analista” durante um certo tempo de treinamento .... como se colocar em posição de conduzir uma primeira análise? este artigo visa discutir a pertinência e a relevância, para a formação do psicanalista, de um dispositivo particular de fomento da clínica privada de analistas.
ABSTRACT
The beginning of the analytic training represents a big chal- lenge: with no clear established ways of “correctly” or “adequate- ly” conducting an analytic process, and also without the possibility of presenting oneself as a “pre-analyst” during a certain period of training… how to put oneself in the position of conducting a first analysis? This paper aims to discuss the pertinence and relevance of delineating a mechanism specifically dealing with the promotion of the private practice of analysts.
 
 


ENTREVISTA  
Entrevistar J-B. Pontalis. Não era a primeira vez que tentávamos. Marcelo Marques foi quem tornou isso possível - e somos-lhe muito gratos. Foi a ele que Pontalis consentiu ser entrevistado, ao final do mês de outubro de 2008, e foi ele quem realizou esta entrevista, transmitindo as questões que elaboramos durante um longo trabalho. Somos gratos pelo curso tomado pela conversa, por ele ter conseguido promover o tom de um encontro e a presença viva de Pontalis nas palavras que nos responde.

...
 
DEBATE  
Cada época apresenta desafios e impasses inéditos que nos obrigam a reler a história do homem a partir das transformações trazidas pelos novos fatos culturais, políticos e econômicos ou pelas novas ideologias, crenças e certezas. Pensar o homem exige que se leve em conta o contexto histórico da cultura, seus estilos de existência e suas relações de poder. A psicanálise nasceu como uma resposta à história da subjetividade do Ocidente no século passado e empreendeu uma leitura inédita sobre o sujeito, ao oferecer-lhe um saber que ele insistia não querer saber, revelando-lhe uma dimensão mais além. Se esta resistência persiste e os sintomas psíquicos seguem sendo erros, ainda que o campo das subjetividades tenha dimensões universais, ele se abre e é afetado pelas transformações históricas e sociais. Diante de tais mudanças nós, psicanalistas, temos nos ocupado em discutir os novos desafios com os quais nos confrontamos na tarefa de manter a essência de nosso trabalho. Dentre os debates produzidos, percebe-se que muitas vezes acabamos por privilegiar olhares nostálgicos ou mesmo pessimistas em relação ao lugar que a psicanálise ocupa ou poderá vir a ocupar no futuro. Para além das primeiras impressões e impactos das mudanças contemporâneas sentimo-nos convocados a continuar buscando novas reflexões que possam levar em conta a complexidade deste mundo pós-moderno. No intuito de prosseguir tais discussões e tomando como fio de orientação o tema eleito para este número da Revista Percurso, “Erro no âmbito da clínica e da teoria”, a sessão Debates convidou três colegas para responder a seguinte questão:

Se o erro, ou melhor, o que a psicanálise insiste em revelar ao sujeito a sua revelia, é parte integrante do saber e da intervenção psicanalítica, seu paradoxo e sua razão de ser, o que podemos esperar do lugar da psicanálise na cultura nas próximas décadas e dos desafios que temos na continuidade de nossa tarefa?
 
LEITURAS  
Resenha de Chaim Katz, Daniel S. Kupermann e Vivian Mosé (orgs.), Beleza, feiura e psicanálise. Rio de Janeiro: Contracapa/ Formação Freudiana, 2004, 158 p.
 
Resenha de Marcel Mauss, Ensaio sobre o dom. In: Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 2001.
 
Resenha de Vera Blondina Zimmermann, Adolescentes – estados-limite. A instituição como aprendiz de historiador. São Paulo: Escuta, 2007, 142 p.
 
Resenha de Jacques Derrida e Gianni Vattimo (orgs.), A religião – o seminário de Capri. São Paulo: Estação Liberdade, 2004, 231p.
 
Resenha de Monique Schneider, Généalogie du masculin. Paris: Champs Flammarion, 2006 [2000], 376 p.
 
Resenha de Walter Trinca, O ser interior na psicanálise: fundamentos, modelos e processos. São Paulo: Vetor, 2007, 378 p.
 
Resenha de Nahman Armony, Borderline, uma outra normalidade. Rio de Janeiro: Revinter, 1998, 177 p.
 
 
 

     
Percurso é uma revista semestral de psicanálise, editada em São Paulo pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae desde 1988.
 
Sociedade Civil Percurso
Tel: (11) 3081-4851
assinepercurso@uol.com.br
© Copyright 2011
Todos os direitos reservados